São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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Estudo detecta abundância de micróbios na chuva e na neve

Organismos analisados por grupo americano causam doenças principalmente em plantas; eles usam a atmosfera como uma forma eficiente de transporte

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Neve e chuva caindo na sua cabeça não incluem apenas gelo e água. Um estudo feito em várias partes do mundo mostrou que um bom número de micróbios vêm junto, pois eles surpreendentemente estão envolvidos diretamente com o processo da precipitação.
Mas não é preciso ter medo de uma chuva de doenças. A pesquisa mostrou que no caso da neve, são principalmente patógenos de plantas -micróbios causadores de doenças- que são transportados.
"Não conheço nenhum patógeno humano capaz de catalisar a formação de gelo, o foco do nosso estudo. Os organismos mais estudados que têm essa propriedade são patógenos de plantas, pois isso deve ser um meio pelo qual eles facilitam a transferência pela atmosfera para uma nova planta hospedeira", disse à Folha o líder da equipe de cinco pesquisadores, Brent Christner, da Universidade Estadual da Louisiana, em Baton Rouge.
"Ao fazer isso, os patógenos podem ter um efeito ainda não reconhecido no ciclo de precipitação", afirma Christner. O estudo promete ser útil para a investigação das relações entre o clima e o universo dos organismos vivos, a biosfera.
A neve, e também boa parte da chuva, surgem do crescimento de pequenos cristais de gelo no interior das nuvens. O gelo se forma em torno de partículas chamadas aerossóis. Diversos tipos de partículas podem servir como "nucleadores" do gelo, incluindo seres vivos, como bactérias.

Abundância
Apesar de já conhecidos dos cientistas faz 40 anos, não existe ainda uma estimativa sobre esses componentes biológicos na atmosfera. O estudo de Christner e colegas mostrou agora uma inesperada abundância deles.
Eles coletaram amostras de neve recentemente caída em vários locais do mundo, na França, no estado americano de Montana e também na região da Antártida.
A técnica envolveu amostras de pelo menos 1 kg de neve fresca coletadas de forma asséptica e depois testadas para checagem do componente biológico.
"O resultado surpreendente foi que em cada amostra que nós analisamos nós fomos capazes de detectar nucleadores de gelo em temperatura mais mornas, e a grande maioria era de origem biológica", declarou Christner em uma entrevista divulgada pela revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org).
Os nucleadores biológicos permitem à água congelar em temperaturas mais quentes do que normalmente ocorre.
As amostras incluíam células e fragmentos de células. Na neve da Antártida, o material biológico estava em menor quantidade do que nas dos Estados Unidos e da França.

Chuva induzida
"Em termos de saúde humana não existe realmente nada para se preocupar. Mas o mesmo não pode ser dito sobre plantas. Mas, por outro lado, isso pode não ser tão ruim para elas, porque esses micróbios induzem precipitação, que é obviamente importante para a planta", conclui o pesquisador.
No futuro, poderia ser possível induzir chuva em regiões áridas ao se plantar mais espécimes de plantas que abrigam mais patógenos, ele especula.
"Nossos resultados indicam que essas partículas estão amplamente dispersas na atmosfera e que, se presentes nas nuvens, elas podem ter um papel importante na iniciação da formação de gelo, especialmente quando as temperaturas mínimas das nuvens são relativamente quentes", escreveram os pesquisadores em uma nota breve publicada há duas semanas na "Science".
Embora não relatado no trabalho publicado na revista, os cientistas também obtiveram resultados semelhantes e surpreendentes com nucleadores biológicos encontrados em amostras de chuva na região de Louisiana, sul dos EUA.


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