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Estudo detecta abundância de micróbios na chuva e na neve
Organismos analisados por grupo americano causam doenças principalmente em plantas; eles usam a atmosfera como uma forma eficiente de transporte
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Neve e chuva caindo na sua
cabeça não incluem apenas gelo e água. Um estudo feito em
várias partes do mundo mostrou que um bom número de
micróbios vêm junto, pois eles
surpreendentemente estão envolvidos diretamente com o
processo da precipitação.
Mas não é preciso ter medo
de uma chuva de doenças. A
pesquisa mostrou que no caso
da neve, são principalmente
patógenos de plantas -micróbios causadores de doenças-
que são transportados.
"Não conheço nenhum patógeno humano capaz de catalisar a formação de gelo, o foco
do nosso estudo. Os organismos mais estudados que têm
essa propriedade são patógenos de plantas, pois isso deve
ser um meio pelo qual eles facilitam a transferência pela atmosfera para uma nova planta
hospedeira", disse à Folha o líder da equipe de cinco pesquisadores, Brent Christner, da
Universidade Estadual da
Louisiana, em Baton Rouge.
"Ao fazer isso, os patógenos
podem ter um efeito ainda não
reconhecido no ciclo de precipitação", afirma Christner. O
estudo promete ser útil para a
investigação das relações entre
o clima e o universo dos organismos vivos, a biosfera.
A neve, e também boa parte
da chuva, surgem do crescimento de pequenos cristais de
gelo no interior das nuvens. O
gelo se forma em torno de partículas chamadas aerossóis. Diversos tipos de partículas podem servir como "nucleadores" do gelo, incluindo seres vivos, como bactérias.
Abundância
Apesar de já conhecidos dos
cientistas faz 40 anos, não existe ainda uma estimativa sobre
esses componentes biológicos
na atmosfera. O estudo de
Christner e colegas mostrou
agora uma inesperada abundância deles.
Eles coletaram amostras de
neve recentemente caída em
vários locais do mundo, na
França, no estado americano
de Montana e também na região da Antártida.
A técnica envolveu amostras
de pelo menos 1 kg de neve fresca coletadas de forma asséptica
e depois testadas para checagem do componente biológico.
"O resultado surpreendente
foi que em cada amostra que
nós analisamos nós fomos capazes de detectar nucleadores
de gelo em temperatura mais
mornas, e a grande maioria era
de origem biológica", declarou
Christner em uma entrevista
divulgada pela revista científica
americana "Science"
(www.sciencemag.org).
Os nucleadores biológicos
permitem à água congelar em
temperaturas mais quentes do
que normalmente ocorre.
As amostras incluíam células
e fragmentos de células. Na neve da Antártida, o material biológico estava em menor quantidade do que nas dos Estados
Unidos e da França.
Chuva induzida
"Em termos de saúde humana não existe realmente nada
para se preocupar. Mas o mesmo não pode ser dito sobre
plantas. Mas, por outro lado, isso pode não ser tão ruim para
elas, porque esses micróbios induzem precipitação, que é obviamente importante para a
planta", conclui o pesquisador.
No futuro, poderia ser possível induzir chuva em regiões
áridas ao se plantar mais espécimes de plantas que abrigam
mais patógenos, ele especula.
"Nossos resultados indicam
que essas partículas estão amplamente dispersas na atmosfera e que, se presentes nas nuvens, elas podem ter um papel
importante na iniciação da formação de gelo, especialmente
quando as temperaturas mínimas das nuvens são relativamente quentes", escreveram os
pesquisadores em uma nota
breve publicada há duas semanas na "Science".
Embora não relatado no trabalho publicado na revista, os
cientistas também obtiveram
resultados semelhantes e surpreendentes com nucleadores
biológicos encontrados em
amostras de chuva na região de
Louisiana, sul dos EUA.
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