São Paulo, Sábado, 17 de Abril de 1999
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Brasil atrasa recursos para estação espacial

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

A participação do Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS, em inglês) está sob risco.
A verba necessária para cumprir os compromissos do país com o programa não foi incluída no orçamento para este ano do Ministério da Ciência e Tecnologia.
O governo está estudando se vai ou não destinar dinheiro para a construção de equipamentos para a ISS. O custo total brasileiro é estimado de US$ 150 milhões a US$ 180 milhões. O país já desembolsou US$ 200 mil.
O Brasil está devendo cerca de US$ 15 milhões, vencidos em dezembro de 1998, para a Boeing.
Além disso, ainda não foram destinados cerca de US$ 20 milhões à Embraer, responsável pela fabricação dos equipamentos.
A Boeing, principal empresa aeroespacial do mundo, foi contratada para ajudar a conceber os equipamentos, em especial devido à pressa com que o Brasil foi incluído no projeto da estação.
A entrada do Brasil se decidiu entre os presidentes Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso em 1997, em Brasília. FHC reiterou o compromisso em outubro de 1998, em carta pessoal a Clinton.

Divergências no governo
Apesar desse envolvimento de FHC, há divergências no governo sobre a conveniência da participação brasileira no projeto da ISS.
No Ministério da Aeronáutica, por exemplo, há a opinião de que o dinheiro para a ISS seria melhor empregado no programa do Veículo Lançador de Satélites (VLS).
No Ministério da Ciência e Tecnologia, acha-se que o custo para o Brasil participar da ISS é alto demais para uma presença modesta.
Mas, no Ministério das Relações Exteriores, a presença do Brasil como único país não desenvolvido na estação é considerada sinal de prestígio e prova da sua maturidade tecnológica. Os 16 participantes do programa da ISS são: EUA, Rússia, Canadá, Japão, 11 países da Europa e Brasil.
Em troca dos seis equipamentos que fornecerá à ISS, o Brasil ganhará espaço na estação para fazer experimentos científicos de seu interesse, realizar observações do território brasileiro a partir do espaço e enviar um astronauta.
O primeiro cidadão brasileiro no espaço deverá ser o major-aviador Marcos César Pontes, que já está fazendo treinamentos para sua missão, provavelmente em 2004.
Mas nem ele nem um segundo astronauta brasileiro, a ser selecionado este ano, irão ao espaço se o governo resolver não participar mais do programa da estação.
A ISS, quando concluída, em 2004, será quatro vezes maior do que a Mir, russa, a mais importante estação posta no espaço.
A montagem da ISS começou em novembro do ano passado, quando os dois primeiros módulos, o russo Zaria e o norte-americano Unidade, foram unidos no espaço.
Os planos do programa têm sido prejudicados por problemas financeiros da Rússia. O cronograma original previa sua conclusão para 2002. Agora, fala-se que nem o prazo de 2004 será cumprido.
O custo de todo o projeto está estimado em US$ 60 bilhões. O orçamento também tem passado por contínuas revisões. Originalmente, ele era de US$ 15 bilhões.
O desenvolvimento de cristais de proteína, a cultura de células vivas em ambiente de microgravidade, estudos biomédicos e pesquisas meteorológicas são algumas das atividades previstas para a ISS.


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