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São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003

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MEDICINA

Primeiro estudo em grande escala do gênero, feito em 17 países, sugere que pacientes negligenciam tratamento

HIV resiste em 10% dos europeus infectados

BEN HIRSCHLER
DA REUTERS

Um em cada dez pacientes recentemente infectados com o vírus da Aids na Europa é portador de linhagens resistentes a medicamentos, afirmou ontem um grupo de pesquisadores.
Trata-se do maior estudo do gênero já feito, apresentado ontem numa conferência internacional em Paris. Seus autores apontam para a necessidade de que os pacientes passem a aderir estritamente ao tratamento com o coquetel anti-Aids e de que as empresas mantenham constante o desenvolvimento de novas drogas para conter a epidemia.
A resistência tem sido vista há muito tempo como um problema sério em áreas críticas de contaminação, como San Francisco (EUA), onde mais de um quarto dos pacientes possui resistência a medicamentos. Mas a escala do problema ainda não havia sido monitorada numa região tão grande quando a Europa.
David van de Vijver, do Centro Médico da Universidade de Utrecht, Holanda, disse que a escala do problema no continente é preocupante.
"A conclusão do nosso estudo é que 10% dos pacientes diagnosticados recentemente na Europa estão infectados com um vírus que tem resistência a pelo menos uma droga anti-retroviral", disse.
O estudo conduzido por Van de Vijver e colegas cobriu 1.663 pacientes de 17 países europeus e também descobriu que 1,7% dos novos pacientes era resistente a duas ou mais drogas do tipo.
A negligência dos pacientes em relação aos regimes de tratamento é a principal razão para o surgimento da resistência.
Mas Van de Vijver disse que sua preocupante disseminação pela Europa também sugere que muitas pessoas em tratamento estão voltando a ter comportamentos de risco, como fazer sexo sem proteção e compartilhar seringas hipodérmicas.

Mutação
Para Jöp Lange, presidente da Sociedade Internacional de Aids, a resistência a drogas nunca será erradicada devido à facilidade do HIV em sofrer mutações em seu código genético. Essas mutações, que conferem resistência, provocam a seleção de linhagens de vírus contra as quais os anti-retrovirais não fazem efeito.
"Isso significa que nós precisamos desenvolver novas drogas o tempo todo, e também significa que precisamos manter empresas farmacêuticas interessadas em pesquisa básica do HIV, porque, se elas não estiverem mais interessadas, chegará um ponto em que teremos uma situação desesperadora", afirmou.
Lange classificou como "totalmente ridículas" as sugestões de que o risco do aumento na resistência era um motivo para não fornecer anti-retrovirais ao Terceiro Mundo, onde estoques de remédio e atendimento médico podem ser menos confiáveis.
Kevin Frost, diretor da rede Treat Asia ("trate a Ásia", em inglês), que trabalha no desenvolvimento de tratamentos para o continente asiático, disse que o estudo europeu mostrou a necessidade de obter tratamentos apropriados de "terapia tripla" para os países pobres.
"Se não conseguirmos, estaremos com sérios problemas nos países em desenvolvimento a longo prazo", afirmou.
Hoje, há 19 drogas contra o HIV no mercado. Elas estão divididas em três classes: inibidores de transcriptase reversa nucleosídeos, inibidores de transcriptase reversa não-nucleosídeos e inibidores de protease.
O cientista holandês disse que a resistência a drogas da primeira classe foi encontrada em 6,9% dos pacientes europeus no grupo estudado. A resistência ao segundo tipo, em 2,6% dos pacientes, e ao terceiro, em 2,2%.

Novos alvos
Tanto os pesquisadores quanto as companhias farmacêuticas estão trabalhando para desenvolver um conjunto de novas drogas para atacar o vírus da Aids por flancos diferentes.
Essa nova geração de medicamentos inclui vários remédios desenhados para bloquear a entrada do HIV em células sadias. A primeira delas, chamada inibidor de fusão (cujo nome comercial é Fuzeon), da empresa suíça Roche e da firma americana de biotecnologia Trimeris, foi lançada na Europa e nos EUA recentemente.
Outras empresas também estão trabalhando nos inibidores de integrase, feitos para bloquear uma outra etapa do ciclo do HIV.


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