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MEDICINA
Primeiro estudo em grande escala do gênero, feito em 17 países, sugere que pacientes negligenciam tratamento
HIV resiste em 10% dos europeus infectados
BEN HIRSCHLER
DA REUTERS
Um em cada dez pacientes recentemente infectados com o vírus da Aids na Europa é portador
de linhagens resistentes a medicamentos, afirmou ontem um grupo de pesquisadores.
Trata-se do maior estudo do gênero já feito, apresentado ontem
numa conferência internacional
em Paris. Seus autores apontam
para a necessidade de que os pacientes passem a aderir estritamente ao tratamento com o coquetel anti-Aids e de que as empresas mantenham constante o
desenvolvimento de novas drogas
para conter a epidemia.
A resistência tem sido vista há
muito tempo como um problema
sério em áreas críticas de contaminação, como San Francisco
(EUA), onde mais de um quarto
dos pacientes possui resistência a
medicamentos. Mas a escala do
problema ainda não havia sido
monitorada numa região tão
grande quando a Europa.
David van de Vijver, do Centro
Médico da Universidade de
Utrecht, Holanda, disse que a escala do problema no continente é
preocupante.
"A conclusão do nosso estudo é
que 10% dos pacientes diagnosticados recentemente na Europa
estão infectados com um vírus
que tem resistência a pelo menos
uma droga anti-retroviral", disse.
O estudo conduzido por Van de
Vijver e colegas cobriu 1.663 pacientes de 17 países europeus e
também descobriu que 1,7% dos
novos pacientes era resistente a
duas ou mais drogas do tipo.
A negligência dos pacientes em
relação aos regimes de tratamento é a principal razão para o surgimento da resistência.
Mas Van de Vijver disse que sua
preocupante disseminação pela
Europa também sugere que muitas pessoas em tratamento estão
voltando a ter comportamentos
de risco, como fazer sexo sem
proteção e compartilhar seringas
hipodérmicas.
Mutação
Para Jöp Lange, presidente da
Sociedade Internacional de Aids,
a resistência a drogas nunca será
erradicada devido à facilidade do
HIV em sofrer mutações em seu
código genético. Essas mutações,
que conferem resistência, provocam a seleção de linhagens de vírus contra as quais os anti-retrovirais não fazem efeito.
"Isso significa que nós precisamos desenvolver novas drogas o
tempo todo, e também significa
que precisamos manter empresas
farmacêuticas interessadas em
pesquisa básica do HIV, porque,
se elas não estiverem mais interessadas, chegará um ponto em
que teremos uma situação desesperadora", afirmou.
Lange classificou como "totalmente ridículas" as sugestões de
que o risco do aumento na resistência era um motivo para não
fornecer anti-retrovirais ao Terceiro Mundo, onde estoques de
remédio e atendimento médico
podem ser menos confiáveis.
Kevin Frost, diretor da rede
Treat Asia ("trate a Ásia", em inglês), que trabalha no desenvolvimento de tratamentos para o continente asiático, disse que o estudo europeu mostrou a necessidade de obter tratamentos apropriados de "terapia tripla" para os países pobres.
"Se não conseguirmos, estaremos com sérios problemas nos
países em desenvolvimento a longo prazo", afirmou.
Hoje, há 19 drogas contra o HIV
no mercado. Elas estão divididas
em três classes: inibidores de
transcriptase reversa nucleosídeos, inibidores de transcriptase
reversa não-nucleosídeos e inibidores de protease.
O cientista holandês disse que a
resistência a drogas da primeira
classe foi encontrada em 6,9% dos
pacientes europeus no grupo estudado. A resistência ao segundo
tipo, em 2,6% dos pacientes, e ao
terceiro, em 2,2%.
Novos alvos
Tanto os pesquisadores quanto
as companhias farmacêuticas estão trabalhando para desenvolver
um conjunto de novas drogas para atacar o vírus da Aids por flancos diferentes.
Essa nova geração de medicamentos inclui vários remédios desenhados para bloquear a entrada
do HIV em células sadias. A primeira delas, chamada inibidor de
fusão (cujo nome comercial é Fuzeon), da empresa suíça Roche e
da firma americana de biotecnologia Trimeris, foi lançada na Europa e nos EUA recentemente.
Outras empresas também estão
trabalhando nos inibidores de integrase, feitos para bloquear uma
outra etapa do ciclo do HIV.
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