|
Próximo Texto | Índice
REUNIÃO DA SBPC
Pesquisador brasileiro radicado na França diz que mudança deve considerar diferenças regionais
Físico critica reforma universitária
RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Porto Alegre
A reforma das
universidades brasileiras, como está
sendo gestada pelo
Ministério da Educação, não leva em
conta as principais funções dessas
instituições.
É o que disse ontem, na 51ª reunião anual da SBPC (Sociedade
Brasileira para o Progresso da
Ciência), um dos mais renomados pesquisadores brasileiros, o
físico Roberto Salmeron, há 31
anos na França e hoje professor
da Escola Politécnica, em Paris.
"A função fundamental da universidade é fazer gente competente, não pesquisar tecnologia", declarou o físico.
Para Salmeron, uma reforma
das universidades públicas deve
levar em conta as diferenças regionais. Autonomia universitária
não significa dar liberdade aos
reitores de demitir e contratar
professores e funcionários, mas
sim dar condições às universidades de terem estruturas diferentes, de acordo com as regiões do
país em que estão.
Ele também acredita que a avaliação dos pesquisadores deve ser
feita "pelos pares", isto é, colegas
de outras instituições, do modo
rigoroso como é feito na França.
Perguntando à platéia qual seria
o tamanho ideal de uma universidade, Salmeron respondeu que
algumas das universidades brasileiras são grandes demais e citou
como exemplo as duas maiores
- USP (Universidade de São
Paulo) e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Elas têm institutos de física
com 200 professores e 7.000 alunos. Um grupo de pesquisa eficiente deve ter uns 20 físicos e
mais 30 alunos", diz ele, que acha
que instituições muito grandes
têm problemas administrativos.
"USP e UFRJ deveriam ser divididas em duas, com uma parte
voltada para a área tecnológica."
Mais grave que a forma como se
organizam é a situação financeira
precária, "que impede que se concentrem em questões essenciais".
Salmeron tem larga experiência
de modelos anteriores de universidade, no Brasil e no exterior. Ele
lembrou a ação do educador Anísio Teixeira em criar a extinta
Universidade do Distrito Federal,
no Rio de Janeiro.
Para Anísio Teixeira, "a universidade tem de ser o local de criação intelectual, o que contava era
a criatividade". Por isso, deram
aula na Universidade do Distrito
Federal personalidades importantes da cultura do país -"Villa-Lobos deu aula de música; Portinari, de pintura", diz Salmeron;
Mário de Andrade, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda
também foram professores.
Ao contrário da liberdade de
currículo que essa instituição tinha, a Universidade do Brasil, que
depois viraria a UFRJ, foi iniciada
pelo governo federal com um detalhismo que coibia a criatividade, diz o físico.
O mesmo aconteceria, de modo
ainda mais dramático, na Unb
(Universidade de Brasília), criada
por Anísio Teixeira no começo da
década de 60 e da qual vários professores foram sumariamente demitidos após o movimento militar de 1964.
Próximo Texto: Brasil tem projeto para "era da informação", diz pesquisador Índice
|