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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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Robô imita expressões humanas

Divulgação/JPL
As várias faces de Andy, um robô facial criado por David Hanson


DO ENVIADO A DENVER

Alguém se aproxima de Andy e sorri. A contrapartida é um sorriso, naturalmente. Outra pessoa passa, carrancuda, e Andy subitamente muda de expressão. Ele é incapaz de dizer uma palavra, mas todos se espantam com sua habilidade para reagir aos humores humanos: Andy é um robô.
Ou melhor, a cabeça de um robô. Trata-se da versão atualizada de um projeto conduzido por David Hanson, da Universidade do Texas em Dallas, em parceria com o JPL (Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa). Hanson apresentou as últimas novidades de sua cabeça robótica na reunião anual da AAAS em Denver.
Ele é um dos pesquisadores que trabalham na construção de robôs biomiméticos -ou seja, capazes de reproduzir atividades que só os seres vivos conseguiam realizar. Andy (que nesse caso não é uma corruptela de "Andrew", mas de "andróide") está no JPL para ajudar na pesquisa de Yoseph Bar-Cohen, um físico que desenvolve músculos artificiais -tiras de plástico capazes de se contrair e se expandir em resposta a reações físico-químicas.
Alguém pode achar estranho que a Nasa e o JPL possam estar interessados em robôs, mas atividades espaciais geralmente estão ligadas a sistemas robóticos. E engenhos como o Sojourner, que andou sobre rodas em Marte em 1997, podem se tornar ainda mais úteis se os cientistas adicionarem conceitos biomiméticos. "Com pernas, em vez de rodas, o robô poderia caminhar por muitos lugares que de outra forma ele não atingiria", diz Bar-Cohen.
A agência espacial americana também trabalha no conceito do robonauta. Em vez de mandar seres humanos em perigosas caminhadas espaciais, seria possível enviar esse robô com forma humana. Por meio de sistemas de realidade virtual, um "astronauta" controlaria as ações do robô, como se ele estivesse no espaço.
Os músculos artificiais também podem vir a ter um papel importante na medicina -oferecendo próteses para pessoas que perderam membros com funcionalidade similar à dos originais.

Sofisticação
Robôs com algumas características biomiméticas já são populares hoje em dia como brinquedos, mas ainda não têm a complexidade necessária para atuar socialmente de forma intensa. Os pesquisadores, entretanto, acham que isso vai mudar.
Cynthia Breazeal, do Laboratório de Inteligência Artificial do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), trabalha justamente nisso: como trazer os robôs para o cotidiano das pessoas. "Os robôs já não devem mais estar limitados às fábricas ou a locais perigosos", diz. "Precisamos vê-los de outra maneira, mais como um parceiro sociável do que como mera ferramenta."
A pesquisadora criou no MIT o Kismet, um robô com forma humana capaz de interação social expressiva. "Ele foi inspirado pelo desenvolvimento social infantil", conta. "Kismet percebe uma variedade de dicas sociais por canais auditivos e visuais e responde com sinais como direção do olhar, expressões faciais, postura corporal e vocalizações."
Breazeal estuda então como se dá a interação entre os humanos e seu robô, para avaliar o esforço de socialização da máquina. O objetivo final é produzir máquinas inteligentes e sociáveis para os mais diversos fins. Poderiam ser construídos enfermeiros, garçons, psicólogos e até médicos totalmente mecanizados.
Na ficção científica, isso já não é novidade faz tempo -o que dificulta o trabalho dos pesquisadores, segundo Breazeal. "A ficção traz inspirações, mas estabelece padrões tão altos que algumas pessoas podem ficar decepcionadas com nossos resultados." (SN)


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