São Paulo, Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 1999
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CIÊNCIA
Médico tcheco radicado na França anuncia nascimento de filhos de homem incapaz de produzir espermatozóides
Técnica faz homem estéril gerar filhos

MARIANA SGARIONI
de Paris

Dois bebês gêmeos, nascidos em novembro do ano passado em Istambul, na Turquia, são os primeiros a terem como pai um homem incapaz de produzir espermatozóides, segundo Jan Tesarik, cientista tcheco radicado na França.
A nova técnica vem sendo tentada há alguns anos por diferentes grupos de especialistas em reprodução humana. O trabalho de Tesarik e de sua equipe foi publicado na última sexta-feira pela revista médica britânica "The Lancet".
A técnica consiste em maturar in vitro, isto é, em laboratório, as células de espermatozóides em estágio inicial de formação, que nem chegaram ao estágio da espermátide, que é intermediário.
Os pesquisadores retiraram as células imaturas de testículos de homens que têm pouca ou nenhuma espermátide e as cultivaram em uma solução de hormônios.
Elas ficaram em maturação até o momento em que chegaram a uma formação semelhante a um espermatozóide adulto, dotado do material genético suficiente para a fecundação (veja quadro ao lado).
A etapa seguinte foi a injeção dessas células maturadas in vitro em óvulos, obtendo-se embriões para ser posteriormente colocados dentro dos úteros das mulheres das quais foram retirados.
Segundo Tesarik, sua equipe se concentra em maturar apenas espermatozóides e não engloba, por enquanto, a maturação de óvulos, que já vem sendo tentada em outros centros de pesquisa.
Em duas pacientes em que a técnica foi testada, somente uma conseguiu levar a gravidez até o fim, dando origem a gêmeos. O nascimento dos bebês aconteceu em novembro do ano passado, no Hospital Alemão, em Istambul.
"A técnica é interessante porque permite uma gravidez sem que seja necessária a utilização de doadores de esperma. Há muitos países que impedem esse tipo de doação, como a Turquia", afirmou Tesarik à Folha, em Paris, onde trabalha no Laboratório d'Eylau.
Sua equipe, composta por um cientista alemão, um turco, um espanhol e um italiano, realizou o trabalho na Turquia porque a maturação de células reprodutivas ainda não está enquadrada na lei francesa que regulamenta as técnicas de reprodução humana em laboratório.
Segundo o médico, a técnica ainda está em fase de experimentação e sua taxa de sucesso fica em torno de 10%, variando de caso a caso.
Tesarik afirma que os gêmeos da Turquia nasceram normais, mas que nenhuma biopsia para detectar anomalias foi feita nos embriões obtidos. "Foram feitos exames pré-natais no feto durante a gravidez, mas não antes dela", disse o pesquisador.


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