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CIÊNCIA
Médico tcheco radicado na França anuncia nascimento de filhos de homem incapaz de produzir espermatozóides
Técnica faz homem estéril gerar filhos
MARIANA SGARIONI
de Paris
Dois bebês gêmeos, nascidos em
novembro do ano passado em Istambul, na Turquia, são os primeiros a terem como pai um homem
incapaz de produzir espermatozóides, segundo Jan Tesarik, cientista tcheco radicado na França.
A nova técnica vem sendo tentada há alguns anos por diferentes
grupos de especialistas em reprodução humana. O trabalho de Tesarik e de sua equipe foi publicado
na última sexta-feira pela revista
médica britânica "The Lancet".
A técnica consiste em maturar in
vitro, isto é, em laboratório, as células de espermatozóides em estágio inicial de formação, que nem
chegaram ao estágio da espermátide, que é intermediário.
Os pesquisadores retiraram as
células imaturas de testículos de
homens que têm pouca ou nenhuma espermátide e as cultivaram
em uma solução de hormônios.
Elas ficaram em maturação até o
momento em que chegaram a uma
formação semelhante a um espermatozóide adulto, dotado do material genético suficiente para a fecundação (veja quadro ao lado).
A etapa seguinte foi a injeção
dessas células maturadas in vitro
em óvulos, obtendo-se embriões
para ser posteriormente colocados
dentro dos úteros das mulheres
das quais foram retirados.
Segundo Tesarik, sua equipe se
concentra em maturar apenas espermatozóides e não engloba, por
enquanto, a maturação de óvulos,
que já vem sendo tentada em outros centros de pesquisa.
Em duas pacientes em que a técnica foi testada, somente uma conseguiu levar a gravidez até o fim,
dando origem a gêmeos. O nascimento dos bebês aconteceu em novembro do ano passado, no Hospital Alemão, em Istambul.
"A técnica é interessante porque
permite uma gravidez sem que seja
necessária a utilização de doadores
de esperma. Há muitos países que
impedem esse tipo de doação, como a Turquia", afirmou Tesarik à
Folha, em Paris, onde trabalha no
Laboratório d'Eylau.
Sua equipe, composta por um
cientista alemão, um turco, um espanhol e um italiano, realizou o
trabalho na Turquia porque a maturação de células reprodutivas
ainda não está enquadrada na lei
francesa que regulamenta as técnicas de reprodução humana em laboratório.
Segundo o médico, a técnica ainda está em fase de experimentação
e sua taxa de sucesso fica em torno
de 10%, variando de caso a caso.
Tesarik afirma que os gêmeos da
Turquia nasceram normais, mas
que nenhuma biopsia para detectar anomalias foi feita nos embriões obtidos. "Foram feitos exames pré-natais no feto durante a
gravidez, mas não antes dela", disse o pesquisador.
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