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GENÉTICA
Estudo de cientista português com DNA de jumentos de 52 países indica origens no norte ou no leste do continente
Africanos domesticaram asno duas vezes
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Raras evidências arqueológicas
indicavam que jumentos e cavalos foram domesticados cerca de
5.000 anos atrás. Uma nova pesquisa, estudando o material genético de jumentos em 52 países do
Velho Mundo -ou seja, Europa,
Ásia e África-, concluiu que o
evento ocorreu na realidade em
dois momentos distintos na África, embora sem precisar onde,
exatamente.
Domesticar o jumento e o cavalo foi um marco importante na
história humana, pois a disponibilidade dos dois animais de carga
e tração permitiu ao homem se
movimentar com mais facilidade,
facilitando tanto o comércio como a guerra. Comércio e guerra,
por sua vez, moldaram fortemente a história humana desde seu
começo.
O novo estudo, publicado em
uma breve comunicação -de
apenas uma página- na edição
de hoje do periódico científico
norte-americano "Science"
(www.sciencemag.org), foi baseado no mtDNA, o DNA (material genético) das mitocôndrias,
pequenos órgãos nas células que
funcionam como suas usinas de
energia e são excelentes registros
da evolução biológica.
O DNA das mitocôndrias é menor do que o existente no núcleo
das células, e, o que é importante
principalmente para esse tipo de
pesquisa, tem a peculiaridade de
ser herdado da mãe em sua quase
totalidade. Isso permite traçar
uma árvore genealógica direta e
sem misturas (que tornariam seu
entendimento mais difícil).
O principal autor do estudo é o
português Albano Beja Pereira, da
Universidade do Porto, que trabalha hoje em Grenoble, França. Os
dez autores do estudo pertencem
a instituições da Europa, da África
e dos EUA.
Deu muito trabalho para fazer o
estudo. Para conseguir uma árvore genealógica bem representativa
da história do jumento -ou asno, nome científico Equus asinus,
também conhecido no Brasil como jegue-, foi preciso colher várias amostras de DNA em todo o
Velho Mundo, nos locais em que
o animal evoluiu. De preferência,
em locais bem isolados, onde fossem menores as chances de mistura com animais de outras procedências.
Pele e fezes
"Amostras foram coletadas apenas de pequenas e remotas vilas
no campo, tomando-se grande
cuidado de não coletar de indivíduos aparentados", afirmaram os
autores do estudo na "Science".
As amostras eram tanto da pele
dos animais, como das suas fezes.
Outras espécies de jumento do
mesmo gênero foram amostradas. Foram coletadas fezes de jumentos selvagens no Sudão da subespécie Equus africanus africanus, assim como de outros "primos" hoje no zoológico de Berlim
da subespécie próxima Equus
africanus somaliensis. Essas subespécies selvagens estão na lista
de animais em risco de extinção.
A trabalheira dos pesquisadores
europeus em busca de amostras
de DNA também envolveu coletar
fezes de asnos selvagens da Mongólia e da China (espécies Equus
hemionus luteus e Equus kiang).
Os resultados sugerem, sem serem definitivos, que a domesticação do jumento pode ter ocorrido
no norte da África ou na Somália,
no leste do continente.
"Se ambas linhagens surgiram
na África, isso sugere que o jumento é o único ungulado domesticado apenas na África", dizem os pesquisadores. Outros ungulados (mamíferos com cascos)
importantes na história humana
incluem o boi e o búfalo.
Mas a questão vai além disso,
pois, lembram eles, a domesticação dos jumentos facilitou a expansão dos seres humanos da
África para a Europa e a Ásia.
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