São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2001

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SBPC

Argentina é quem mais contribui com vinda de cientistas que mantêm vínculo permanente com instituições nacionais
Brasil absorve cérebros de países vizinhos

DO ENVIADO A SALVADOR

O Brasil está causando "evasão de cérebros" em países latino-americanos. Cientistas vindos de países vizinhos -com a Argentina no topo da lista- formam o maior contingente de estrangeiros trabalhando com vínculos permanentes em instituições de pesquisa brasileiras.
Os números foram mencionados ontem na reunião da SBPC em Salvador, em palestra sobre cooperação internacional e regional do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o principal órgão federal de fomento à pesquisa.
Ao mesmo tempo, para evitar uma migração mais típica -a ida de brasileiros para instituições de pesquisa dos países ricos-, o Ministério da Ciência e Tecnologia está criando o Programa de Fixação de Doutores (Profix).
O objetivo é dar condições de permanência no Brasil dessa mão-de-obra altamente valiosa, financiada com dinheiro do contribuinte brasileiro e que corre o risco de ser seduzida para trabalhar em locais fora do país.

Enxoval
O Profix dará bolsas diferenciadas de até quatro anos de duração para os novos doutores, além de um chamado "auxílio enxoval" -isto é, verba para o pesquisador criar e dotar de equipamento o laboratório para poder prosseguir suas pesquisas no Brasil.
Uma das grandes preocupações dos responsáveis por políticas de desenvolvimento científico no Terceiro Mundo é evitar essa fuga de cientistas, conhecida pela expressão inglesa "brain drain" ("drenagem de cérebros").
O CNPq não tem dados precisos sobre os pesquisadores brasileiros que emigraram, mas as informações preliminares do chamado Sistema de Acompanhamento do Bolsista indicam que "menos de 2% ficam lá fora", segundo disse à Folha o presidente do CNPq, Evando Mirra de Paula e Silva.
EUA, França e Reino Unido são os países que mais recebem bolsistas brasileiros.
Em compensação, os argentinos são em torno de 10% dos 2.145 estrangeiros pesquisando com vínculo permanente em instituições brasileiras, refletindo a crise econômica do país platino. Entre outros prováveis cientistas "refugiados econômicos" estão os peruanos e os colombianos.
A pesquisa do CNPq também revelou grande número de americanos -em segundo lugar, depois dos argentinos- e franceses nas universidades e institutos de pesquisa brasileiros. Curiosamente, muitos dos americanos são físicos e não estão concentrados na Amazônia, como se imaginava, afirmou Evando Mirra.
Outros estrangeiros fazendo pesquisa no Brasil são alunos de mestrado e doutorado nas universidades, em programas do CNPq. Segundo a vice-presidente do CNPq, Alice Rangel de Paiva Abreu, a maioria dos pós-graduandos estrangeiros está na área de saúde, em seguida nas humanidades e em terceiro nas disciplinas biológicas.
Os colombianos são o maior grupo, e USP, UFRJ e Unicamp são as universidades que mais recebem estrangeiros.
Essa concentração de estrangeiros no Sudeste vem se somar a uma "evasão regional" que concentra a pesquisa nas regiões mais desenvolvidas do Brasil. De acordo com o diretório de grupos de pesquisa do CNPq, 57% dos 11.760 grupos estão no Sudeste, 20% no Sul, 15% no Nordeste, 5% no Centro-Oeste e 3% no Norte.
A cooperação internacional dos pesquisadores brasileiros também se concentra nos países ricos -além dos já citados, também a Alemanha- e na América Latina. "O Ministério da Ciência e Tecnologia tem se preocupado em explorar novos parceiros, como China, Coréia do Sul, Índia e Austrália", diz Abreu.
"Mas você não faz cooperação internacional por decreto. É preciso procurar os parceiros", diz ela. (RICARDO BONALUME NETO)


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