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SBPC
Argentina é quem mais contribui com vinda de cientistas que mantêm vínculo permanente com instituições nacionais
Brasil absorve cérebros de países vizinhos
DO ENVIADO A SALVADOR
O Brasil está causando "evasão
de cérebros" em países latino-americanos. Cientistas vindos de
países vizinhos -com a Argentina no topo da lista- formam o
maior contingente de estrangeiros trabalhando com vínculos
permanentes em instituições de
pesquisa brasileiras.
Os números foram mencionados ontem na reunião da SBPC
em Salvador, em palestra sobre
cooperação internacional e regional do CNPq (Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), o principal órgão
federal de fomento à pesquisa.
Ao mesmo tempo, para evitar
uma migração mais típica -a ida
de brasileiros para instituições de
pesquisa dos países ricos-, o Ministério da Ciência e Tecnologia
está criando o Programa de Fixação de Doutores (Profix).
O objetivo é dar condições de
permanência no Brasil dessa
mão-de-obra altamente valiosa,
financiada com dinheiro do contribuinte brasileiro e que corre o
risco de ser seduzida para trabalhar em locais fora do país.
Enxoval
O Profix dará bolsas diferenciadas de até quatro anos de duração
para os novos doutores, além de
um chamado "auxílio enxoval"
-isto é, verba para o pesquisador
criar e dotar de equipamento o laboratório para poder prosseguir
suas pesquisas no Brasil.
Uma das grandes preocupações
dos responsáveis por políticas de
desenvolvimento científico no
Terceiro Mundo é evitar essa fuga
de cientistas, conhecida pela expressão inglesa "brain drain"
("drenagem de cérebros").
O CNPq não tem dados precisos
sobre os pesquisadores brasileiros que emigraram, mas as informações preliminares do chamado
Sistema de Acompanhamento do
Bolsista indicam que "menos de
2% ficam lá fora", segundo disse à
Folha o presidente do CNPq,
Evando Mirra de Paula e Silva.
EUA, França e Reino Unido são
os países que mais recebem bolsistas brasileiros.
Em compensação, os argentinos são em torno de 10% dos
2.145 estrangeiros pesquisando
com vínculo permanente em instituições brasileiras, refletindo a
crise econômica do país platino.
Entre outros prováveis cientistas
"refugiados econômicos" estão os
peruanos e os colombianos.
A pesquisa do CNPq também
revelou grande número de americanos -em segundo lugar, depois dos argentinos- e franceses
nas universidades e institutos de
pesquisa brasileiros. Curiosamente, muitos dos americanos
são físicos e não estão concentrados na Amazônia, como se imaginava, afirmou Evando Mirra.
Outros estrangeiros fazendo
pesquisa no Brasil são alunos de
mestrado e doutorado nas universidades, em programas do
CNPq. Segundo a vice-presidente
do CNPq, Alice Rangel de Paiva
Abreu, a maioria dos pós-graduandos estrangeiros está na área
de saúde, em seguida nas humanidades e em terceiro nas disciplinas biológicas.
Os colombianos são o maior
grupo, e USP, UFRJ e Unicamp
são as universidades que mais recebem estrangeiros.
Essa concentração de estrangeiros no Sudeste vem se somar a
uma "evasão regional" que concentra a pesquisa nas regiões mais
desenvolvidas do Brasil. De acordo com o diretório de grupos de
pesquisa do CNPq, 57% dos
11.760 grupos estão no Sudeste,
20% no Sul, 15% no Nordeste, 5%
no Centro-Oeste e 3% no Norte.
A cooperação internacional dos
pesquisadores brasileiros também se concentra nos países ricos
-além dos já citados, também a
Alemanha- e na América Latina. "O Ministério da Ciência e
Tecnologia tem se preocupado
em explorar novos parceiros, como China, Coréia do Sul, Índia e
Austrália", diz Abreu.
"Mas você não faz cooperação
internacional por decreto. É preciso procurar os parceiros", diz
ela.
(RICARDO BONALUME NETO)
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