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Livros didáticos com muitos dados
são ineficientes, diz pesquisador
DO ENVIADO A SALVADOR
Os Estados Unidos, país que
tem a ciência mais pujante do
mundo, não têm nenhum livro de
ciência de boa qualidade para
seus alunos de primeiro e segundo grau. Essa é a opinião do pesquisador George Nelson, diretor
de um ambicioso projeto de reforma curricular do ensino de
ciência patrocinado pela AAAS
(Associação Americana para o
Avanço da Ciência, em inglês).
Nelson fez essa afirmação em
palestra no último domingo na
reunião anual da SBPC, a equivalente brasileira da AAAS.
"O que nós descobrimos nos
EUA é alarmante. Há alguns poucos livros bons de matemática e
zero livro de ciência aceitável",
declarou Nelson.
Superficiais
O norte-americano é responsável pelo Projeto 2061, que desde
1985 tem estudado currículos e livros didáticos e feito propostas de
mudança. O objetivo básico é delinear modelos curriculares para
o ensino de ciência no futuro.
A principal crítica de Nelson aos
livros atuais parece contraditória:
os livros são muito superficiais
porque são carregados demais de
informação. Para ele, o ideal seria
tirar esse peso extra que os alunos
não conseguem dominar, de forma a focalizar apenas os conceitos
mais importantes.
"Esse é um dos capítulos mais
polêmicos: tirar algumas idéias
que os educadores acham importantes. É mais fácil um educador
acrescentar algo do que tirá-lo de
um currículo", afirma Nelson.
Para ele, o educador deve agir
como um cientista, enfocando a
tarefa de ensinar como um pesquisador que vai iniciar um estudo: descobrindo primeiro qual o
estado da arte no assunto, para
em seguida começar sua própria
pesquisa. E verificar o resultado:
se de fato os alunos aprenderam.
"Quando levamos algo para a
sala de aula, já assumimos que irá
funcionar", diz ele. Mas nem sempre isso é verdade. Novos estudos
científicos sobre o processo de
aprendizado têm iluminado aspectos de como o aluno de fato
absorve o conhecimento.
Uma constatação óbvia é a necessidade de adequar o conteúdo
do que se ensina àquilo que os estudantes sabem previamente, sob
o risco de não haver impacto sobre o conhecimento já adquirido.
"Nós não achamos nenhum livro didático que ajude o professor
a identificar esse conhecimento
prévio", afirma o diretor do Projeto 2061. O ano é aquele em que o
cometa Halley deverá passar de
novo perto da Terra. Uma imagem do cometa ilustra o site do
projeto (www.project2061.org).
Nelson mostrou um slide com a
famosa foto da Terra vista da Lua
tirada pelos astronautas de uma
missão Apollo. Para ele, se os educadores reformarem os currículos
das primeiras décadas do século,
os alunos do futuro poderão ver
pessoalmente a cena.
(RBN)
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