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BIOLOGIA
Dois estudos mostram que causador da doença é tão velho quanto a humanidade e pode sobreviver a tratamentos
Vacina contra malária fica mais distante
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O parasita causador da malária
é bem mais antigo e seu material
genético é bem mais diverso do
que se imaginava, afirmam dois
novos estudos publicados na edição de hoje da revista científica
"Nature" (www.nature.com). Isso significa que desenvolver uma vacina contra ele, ou drogas mais
eficazes, não será tão fácil quando
parecia até agora.
A malária é causada por protozoário (ser de uma célula só, que
não é nem animal, nem vegetal)
do gênero Plasmodium.
Um dos estudos concluiu que o
parasita da espécie mais perigosa,
Plasmodium falciparum, originou-se entre 100 mil e 180 mil
anos atrás. O outro estudo demonstrou que um gene ligado à
resistência do parasita ao medicamento cloroquina é muito comum em plasmódios de várias partes do planeta.
A data sugerida para a origem
do P. falciparum coincide com o
momento em que se acredita que
os seres humanos tenham começado a se espalhar pelo globo a
partir de sua origem na África.
Estudos recentes indicavam que
o parasita só teria se espalhado
entre a população humana depois
do aparecimento e da disseminação da agricultura, um evento
bem mais recente, ocorrido entre
3.000 e 5.000 anos atrás.
Frutos genômicos
Os novos estudos foram feitos
por duas equipes de cientistas,
ambas coordenadas por Xin-Zhuan Su, do Instituto Nacional
de Alergia e Doenças Infecciosas,
de Bethesda, Maryland, EUA.
Graças ao projeto internacional
de sequenciamento do genoma
do parasita, uma das equipes
coordenadas por Su pôde fazer
uma análise mais aprofundada.
Dois dos 14 cromossomos -estruturas que contêm o material
genético- do P. falciparum já foram totalmente sequenciados
(um em 1998, outro em 1999). Estima-se que o parasita tenha entre
6.000 e 7.000 genes.
Os pesquisadores estudaram
partes da sequência de 204 genes
do cromossomo três e toparam
com uma variedade inesperada,
que teria exigido dezenas de milhares de anos para surgir.
A descoberta de que o gene da
resistência à cloroquina é tão comum e que se propagou com
enorme rapidez dá outro banho
de água fria nos pesquisadores,
pois sugere que drogas com efeitos semelhantes também podem
perder efeito rapidamente.
Não existe vacina eficaz contra
malária, e os novos estudos mostram que uma vacina que controlasse apenas parte dos parasitas
existentes -por exemplo, aqueles típicos de uma região do planeta- seria contraproducente.
"Se uma vacina controla apenas
parte da população de P. falciparum, então ela poderia alterar a
composição genética dos parasitas sobreviventes. A perspectiva
assustadora é que essa vacina imperfeita poderia selecionar variantes do P. falciparum que seriam mais virulentas, potencialmente desfazendo qualquer progresso na direção de mitigar esse
flagelo", afirmou o pesquisador
Andrew Clark, da Universidade
Cornell, de Ithaca, Nova York, em
comentário aos dois trabalhos.
Dada sua história recente de desenvolvimento de resistência a
drogas, o parasita da malária é um
alvo difícil de combater. O mosquito transmissor do parasita
também desenvolveu resistência
a inseticidas. Por isso, diz Clark,
um conhecimento detalhado da
diversidade genética do plasmódio é fundamental para evitar desastres futuros.
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