São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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POLÍTICA CIENTÍFICA

Relatório do governo propõe limitar unidades de pesquisa

Instituto quer evitar perda de pós

RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

SÍLVIA FREIRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Centros de pesquisa científica do Estado do Rio de Janeiro estão tentando encontrar "soluções de compromisso" com o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) para tentar evitar a perda de cursos de pós-graduação e a limitação de suas áreas de atuação.
A transferência dos cursos para universidades e a concentração em poucas áreas estratégicas da pesquisa de instituições tradicionais, como o Observatório Nacional e o CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), foi recomendada em um relatório elaborado a pedido do ministério.
O trabalho foi concluído no fim do ano passado pela comissão Tundisi, chefiada pelo ex-presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), José Galizia Tundisi. O grupo reuniu 72 pesquisadores e propôs novas diretrizes para as 22 unidades de pesquisa ligadas ao MCT, que formam 1% dos mestres e 2% dos doutores do país.
Os casos mais graves em relação aos programas de pós-graduação, de acordo com o relatório da comissão, são do ON (Observatório Nacional) e do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas).
A comissão sugeriu que não fossem aceitas novas matrículas nos programas de pós a partir do segundo semestre deste ano e recomendou uma "reformulação profunda" nas duas unidades.
Segundo Francisco Xavier de Araújo, coordenador da pós-graduação do Observatório Nacional, as "soluções de compromisso" que a instituição tem encontrado são convênios com a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e com a UFF (Universidade Federal Fluminense) para o reconhecimento de disciplinas cursadas e a parceria em pesquisas de pós-graduação.
"Parece que essa solução será satisfatória para o ministério", diz. Dessa maneira, acredita Araújo, o centro manteria seus cursos e se aproximaria das recomendações do relatório.
Ele disse temer que, se levadas adiante, as recomendações da comissão sejam um preparativo para limitar a liberdade de pesquisa também das universidades.
O diretor do CBPF, João Carlos dos Anjos, integra uma novo grupo criado pelo ministério -a Comissão da Física Brasileira- para, segundo ele, "aprofundar" as conclusões da comissão, que teria feito um trabalho "incompleto" sobre o centro que ele dirige.
O pesquisador diz esperar que o resultado do relatório da nova comissão, que será entregue ao MCT na próxima semana, "seja a favor da manutenção da pós-graduação" no CBPF, uma das mais antigas do Brasil.
O físico Henrique Lins de Barros, pesquisador do Mast (Museu de Astronomia e Ciências Afins), critica as conclusões do relatório, a partir das quais estaria sendo estudada a anexação do Mast ao Observatório Nacional.
Para ele, as novas diretrizes representam uma visão "administrativa, economicista" da pesquisa científica. Além disso, argumenta, não faz sentido transferir cursos dos centros para as universidades justo quando elas estão em crise, "caóticas".

Sutilezas
O secretário de Coordenação de Unidades de Pesquisa do MCT, João Steiner, disse que a reestruturação dos programas de pós-graduação está sendo feita pelas unidades de forma independente. "Não há uma receita única. O relatório tem uma série de sutilezas em relação aos programas", disse.
A comissão recomendou também a conversão de algumas unidades em organizações sociais, modelo que permite parcerias entre Estado e iniciativa privada.
A mudança já estava sendo feita pelo ministério e foi referendada pela comissão. Segundo Steiner, será priorizada a transformação dos laboratórios nacionais.
Cinco unidades já viraram organizações sociais: Associação Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, Instituto de Matemática Pura e Aplicada, Associação Brasileira de Tecnologia Luz Síncrotron, Centro de Gestão e Estudos Estratégicos e Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.



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