São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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Graham Abbott/Divulgação
Cardume de fuzileiros-azuis rodeia possível nova espécie de coral na região


Grupo acha "usina" de espécies marinhas

Expedição encontra trechos da costa indonésia da Nova Guiné com biodiversidade quatro vezes superior à do Caribe

Localizada entre o Índico e o Pacífico, a área pode ser o centro de origem de outras espécies que se espalharam por esses dois oceanos

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas expedições realizadas neste ano trouxeram à tona um Éden submarino na parte indonésia da Nova Guiné. Pesquisadores descobriram ali mais de 50 novas espécies animais, entre peixes, crustáceos e corais, confirmando que a região é provavelmente a maior usina de biodiversidade marinha nos oceanos Pacífico e Índico.
Os números gerais são ainda mais impressionantes: alguns dos trechos marinhos estudados pelos biólogos -áreas mais ou menos do tamanho de dois campos de futebol- abrigam mais de 250 espécies de coral cada um. Isso é cerca de quatro vezes a diversidade de corais do mar do Caribe.
"Já disseram antes que nós sabemos mais sobre a lua do que sobre os nossos próprios oceanos, e é impossível não concordar com isso depois desses dados", disse à Folha o biólogo marinho Mark Erdmann, consultor-sênior da organização de pesquisa Conservação Internacional que coordenou o levantamento.
A região estudada, cujo formato no mapa a tornou conhecida como Cabeça de Pássaro (Kepala Burung, em bahasa indonésio, a língua local), apresenta mais de 2.500 ilhas e recifes, o que, segundo Erdmann, representa uma diversidade portentosa de ambientes costeiros. Há desde mangues e áreas de água marinha que se integram com torrentes de rios até recifes que ficam diretamente expostos às ondas do Pacífico. Tudo isso conspira para que muitas espécies se adaptem a cada nicho ecológico que essa variação cria.

Supervariedade
Entre os peixes, o trabalho descobriu 26 novas espécies, apenas duas das quais já foram descritas, ou seja, ganharam nome científico formal. Uma delas, o Paracheilinus walton, pertence à família dos bodiões peixinhos coloridos que, às vezes, bancam o "faxineiro", removendo parasitas do corpo e das guelras de outros animais. Há também um pequeno tubarão, um cação, na lista dos novatos. A lista se completa com 20 prováveis novas espécies de coral e oito de crustáceos -os camarões-estalo, pequenos predadores com pinças extremamente cortantes.
Para Erdmann, tanta riqueza de vida em tão pouco espaço não é exatamente uma surpresa. Ele explica que a região da qual a Cabeça de Pássaro faz parte é considerada por alguns pesquisadores como o centro de origem para muitas das espécies dos oceanos Pacífico e Índico. Para outros, seria o local onde as faunas de ambos os oceanos se encontram, o que também promoveria grande diversidade.
"Eu acho que a hipótese do centro de origem é pelo menos parcialmente verdadeira", diz o pesquisador. "A região é muito ativa vulcanicamente, e várias bacias marinhas nela foram abertas e fechadas geologicamente várias vezes, virando essencialmente lagos. Isso criou muitas oportunidades de evolução isolada e, quando as bacias se abriam de novo, as espécies ficavam livres para se dispersar para fora."


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