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AMBIENTE
Fórum de Mudança Climática e Ipea criam Câmara Temática para estudar efeito econômico do aquecimento global
Grupo vai calcular custo do clima no Brasil
MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIA
A apenas uma semana da Conferência das Nações Unidas sobre
Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (Rio +10), o Brasil começa a recuperar o tempo perdido no campo da contabilidade
ambiental. Com o lançamento da
Câmara Temática de Impactos
Econômicos e Sociais, hoje em
São Paulo, o país dá um primeiro
passo para descobrir quanto teria
a perder -ou a ganhar- com o
aquecimento global.
Os países desenvolvidos que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), por exemplo,
já têm uma idéia: para cumprir as
metas do Protocolo de Kyoto, eles
podem contar com uma queda de
1% a 2% de seu PIB (produto interno bruto, a somatória das riquezas produzidas por uma nação em um ano).
O Protocolo de Kyoto é um
acordo internacional para conter
a emissão de gases do efeito estufa
(retenção de radiação solar na atmosfera, fenômeno natural agravado pelas atividades humanas
baseadas na queima de compostos de carbono). Segundo o tratado, países desenvolvidos devem
cortar em média 5,2% de suas
emissões, entre 2008 e 2012, tomando por base o ano de 1990.
O protocolo está ameaçado porque os EUA, principal consumidor de combustíveis fósseis, se recusam a adotá-lo. O argumento
do governo americano é o alto
custo atual de cortar as emissões,
o que exige investimento. Seus estudos mostram que sairia mais
barato aguardar 5 a 10 anos e estimular o desenvolvimento de tecnologias, nesse período, para aumentar a eficiência energética.
"Essa é a força de um estudo
científico na negociação internacional", diz Ronaldo Serôa da
Motta, coordenador da Câmara
Temática e de Estudos de Meio
Ambiente no Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
A câmara integra o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
criado pelo governo federal
(www.forumclimabr.org.br).
Serôa, 48, diz que nos países em
desenvolvimento a chamada mitigação do aquecimento global
pode ser economicamente mais
vantajosa. Na revisão da literatura
técnica que seu grupo realizou para a Câmara Temática, destaca estudos feitos na China e no México
que vão nessa direção.
Nesses países, a perda poderia ir
de mais de 1% (México) a 2%-3%
(China). No entanto, caso o combate às emissões envolva a criação
de um imposto sobre a emissão
de CO2 cuja arrecadação seja
compensada com redução de outras taxas (de modo que a carga
tributária total não cresça), a redução do PIB poderia ser quase
inteiramente compensada.
Serôa diz que os estudos a serem
realizados pela Câmara Temática
trarão subsídios que o governo
brasileiro poderá usar, a partir de
2008, quando o Protocolo de Kyoto começar a ser renegociado. A
expectativa é que os países em desenvolvimento também sejam
obrigados a adotar metas de cortes nas emissões de CO2.
"Precisamos de argumentos para mostrar o custo de ter metas",
afirma o economista do Ipea.
"Por enquanto ganhamos [os países em desenvolvimento] de goleada, mas eles [os desenvolvidos]
estão nos esperando em 2012."
O Brasil emite muito carbono
na atmosfera como resultado do
desmatamento na Amazônia,
uma quantidade que chega a pesar no cômputo mundial (4,2%
das emissões globais, estimou em
1997 o ecólogo Philip Fearnside,
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
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