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MEDICINA
Técnica desenvolvida por israelenses pode ser útil para câncer cerebral
RNA leva tumor a cometer suicídio
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Se o organismo não se dá conta
de que está abrigando um tumor,
a estratégia pode ser um tanto
maquiavélica, mas simples: induzi-lo a achar que as células cancerosas estão ocupadas por um vírus e forçá-lo a reagir.
Essa idéia, testada pelos cientistas Alexander Levitzki e Alexei
Shir, da Universidade Hebraica
de Jerusalém, conseguiu eliminar
ou reduzir em 70% uma forma de
glioblastoma, tumor cerebral que
resiste a todas as formas conhecidas de terapia e, em geral, mata
seu portador em um ano.
De quebra, a técnica usa como
arma trechos de RNA (a molécula
que precede a produção de proteínas) que só afetariam células
geneticamente defeituosas, o que
evitaria efeitos colaterais.
A tática ainda precisa ser testada
em humanos e tem de resolver
uma série de problemas, mas os
pesquisadores dizem que ela pode
se tornar uma opção viável, ao
menos para tumores cerebrais.
O estudo, publicado hoje na edição on-line da revista científica
"Nature Biotechnology"
(www.nature.com/nbt), lança
mão de um mecanismo usado
normalmente pelo organismo,
explica Levitzki: "Nós criamos
um RNA de fita dupla, que em geral é o produto de uma infecção
viral", disse o bioquímico à Folha.
É que o RNA, ao contrário do
DNA, costuma aparecer numa cadeia simples, e não dupla. Se o
contrário ocorre, acontece a ativação de uma enzima chamada
PKR, que ataca o erro forçando a
célula a cometer suicídio.
"Nesse caso, a nossa idéia era
construir um RNA de fita dupla
que estivesse presente apenas na
célula cancerosa", afirma Levitzki. Para isso, a dupla se aproveitou
do próprio problema genético
que causou o câncer: uma deleção
(apagamento) de bases ou "letras" químicas que colocou lado a
lado áreas do DNA que normalmente estariam separadas.
O RNA é de modo geral produzido com base nas sequências de
DNA. Por isso, tudo o que os pesquisadores israelenses tiveram de
fazer foi criar essa sequência e inseri-la no tumor, esperando que
ela se unisse à versão complementar que já estava lá dentro.
No tubo de ensaio e em camundongos, o truque funcionou: o
RNA levou 70% do tumor a morrer. O problema agora, diz a dupla, é levar o RNA a tumores
maiores, porque ele tende a ficar
restrito às células externas. "Talvez uma injeção local constante
resolva isso", diz Levitzki.
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