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AMBIENTE
Análise conduzida por biólogos da Conservação Internacional sugere que metade dos animais está desprotegida
Rede falha em proteger espécie ameaçada
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As unidades de conservação
que cobrem atualmente a mata
atlântica e o cerrado são insuficientes para proteger a biodiversidade desses dois biomas, os mais
ameaçados do Brasil. A constatação foi feita por dois biólogos ligados à ONG Conservação Internacional, que apresentam seus trabalhos hoje e amanhã no 4º Congresso Brasileiro de Unidades de
Conservação, que acontece em
Curitiba (PR). "Criar unidades de
conservação sem saber a distribuição das espécies ameaçadas
pode ser um esforço inútil, já que
alguns animais ficam sem proteção", diz Adriano Paglia.
Ele comparou um mapa de 194
áreas protegidas pelos governos
federal e estaduais na mata atlântica com a distribuição geográfica
de 104 espécies ameaçadas de extinção, retiradas da "Lista Vermelha" da União Internacional para
a Conservação da Natureza.
Ao sobrepor os dados, Paglia
descobriu que 54% desses animais não vivem em nenhuma
unidade de conservação, enquanto 33% estão parcialmente protegidos. Apenas 13% das espécies
estão em terras protegidas, resguardadas -ao menos em teoria- de caça e perda do habitat.
A ferramenta já havia sido usada pela ONG para analisar as lacunas existentes na rede mundial de
conservação de biodiversidade. A
pesquisa, publicada na revista
científica "Nature" (www.nature.com) em abril deste ano, mostrou que mais de 300 espécies fortemente ameaçadas de extinção
estão fora das áreas protegidas.
A intenção agora era testar a ferramenta na realidade brasileira.
Com ela, os ambientalistas esperam propor metas de conservação
para cada espécie, de acordo com
a distribuição geográfica do animal. Um exemplo é o mico-leão-caissara (Leontopithecus caissara), encontrado numa área de
aproximadamente 310 km2 no litoral do Paraná -segundo Paglia, todo o espaço deve ser convertido em unidade de conservação. O papagaio-chauá (Amazona rhodocoryth), ao contrário,
pode ser observado em 200 mil
km2 na mata atlântica, então ele
propõe que 13,8% dessa região esteja sob proteção.
Bioma ameaçado
No cerrado, as unidades de conservação cobrem hoje 2,5% da
área original, mas apenas 29% das
espécies endêmicas estão protegidas. Enquanto 51% são consideradas parcialmente protegidas,
pelo menos 20% estão fora do
abrigo oficial.
"Considerando a pequena área
de proteção do cerrado, é um resultado surpreendente que 30%
estejam em área de conservação",
afirma Ricardo Machado, diretor
do programa do cerrado da Conservação Internacional. De acordo com ele, os dados precisam ser
conferidos com pesquisas em
campo para validar a ferramenta.
Porém, ele lembra que a taxa de
destruição do cerrado, uma das
mais elevadas do Brasil, pode levar à extinção das espécies antes
que o sistema seja aplicado em
políticas públicas. "Esperamos
que o governo use essas ferramentas para adquirir mais conhecimento sobre as espécies e como
devem ser conservadas."
Para a diretora de ecossistemas
do Ibama, Cecilia Barros, o sistema deve ser incorporado às metodologias usadas hoje pelo órgão
para formar novas unidades de
conservação. "A lacuna existe",
admite a diretora. "Esse tipo de
dado ajudará a propor novas políticas de formação de áreas protegidas, inclusive com os Estados e
as propriedades particulares."
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