São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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Agência quer Brasil em programa de "GPS" europeu

ESA - 28.dez.2006
Nave Soyuz decola levando primeiro satélite Galileo, o Giove-A


País inicia negociação oficial para participar do sistema de posicionamento Galileo

Composto de 30 satélites, projeto da UE concorre com o GPS americano e ficará pronto em 2010; 1ª fase não tem custo, diz governo

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil prepara sua primeira movimentação no tabuleiro de xadrez internacional representado pelos grandes sistemas de posicionamento global por satélite. A intenção do país em participar do programa Galileo, da Comunidade Européia, que pretende rivalizar com o GPS (Sistema de Posicionamento Global, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, está mais próxima de virar realidade. Principalmente depois de uma missão européia ter visitado Brasília nesta semana.
"As consultas informais à União Européia estão encerradas. Vamos dar início agora a fase das negociações oficias" disse Raimundo Nonato Mussi, gerente do programa Galileo no Brasil e coordenador técnico-científico da AEB (Agência Espacial Brasileira) à Folha.
O grupo de conselheiros do órgão do governo vai agora apresentar um relatório formal sobre as reais possibilidades do Brasil dentro do programa Galileo, que terá uma constelação de 30 satélites em órbita (leia texto abaixo). O documento deve destacar os ganhos que poderão ser obtidos caso a parceria internacional seja realmente concretizada.
"Estamos trabalhando com três vertentes principais", afirma Mussi. Uma delas é ligada ao universo das aplicações do programa, outra ao desenvolvimento científico e uma terceira às questões industriais. "Estamos falando de desde usar os dados do Galileo para os nossos sistemas de transporte até colocar as indústrias brasileiras no circuito internacional", diz. Além disso, segundo Mussi, os grupos nacionais de pesquisa terão possibilidade de estudar com mais profundidade, por exemplo, o comportamento da chamada zona de anomalia tropical. Nessa área, que atravessa todo o planeta perto do Equador e passa pelo Nordeste brasileiro, as transmissões por satélites costumam sofrer constantes interferências.

Vantagem
"A participação do Brasil em um programa como esse é bastante importante. Vejo isso de forma extremamente positiva", afirmou Gilberto Câmara, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais). De acordo com o pesquisador, daqui a três ou quatro anos no máximo os usuários poderão ter um GPS no telefone celular. "Não vai demorar muito mesmo. Além disso, esses dados são importantes para os transportes de forma geral, seja na navegação terrestre ou mesmo na aérea. O custo-benefício para o país é muito vantajoso."
Para o diretor do Inpe, também em termos estratégicos, é sempre importante ter acesso à um sistema que deve funcionar, no futuro, como uma espécie de alternativa ao GPS, originalmente criado pelos norte-americanos para fins militares.
Pelo menos nessa primeira fase, conforme explicou o representante da AEB, o Brasil não terá custo algum para participar do programa Galileo. "Não está sendo exigido nenhum tostão", afirmou.
Apesar das negociações entre o Brasil e a União Européia caminharem para o entendimento -e o mesmo está sendo feito por parte dos criadores do novo programa de localização por satélite com outras nações- os resultados efetivos dessas conversas não serão alcançados no curto prazo. Um dos motivos principais é o calendário eleitoral brasileiro.
"Sendo bem realista, qualquer que seja o resultados das eleições, essa é uma decisão que será tomada apenas pelo próximo governo", disse Mussi, da AEB.


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