|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BIOLOGIA
Desativação de trechos do material genético pode ser comum entre as espécies
"Desligar" gene beneficia seres vivos
ISABEL GERHARDT
da Reportagem Local
Um mecanismo que desativa os
genes e ainda é pouco compreendido pela ciência ganhou três novos estudos que procuram explicar seu funcionamento. O processo, conhecido como silenciamento de genes, é importante, por
exemplo, para a criação de plantas geneticamente modificadas.
O silenciamento de genes foi
observado pela primeira vez em
petúnias transformadas com um
gene para aumentar a pigmentação das pétalas. Em vez de petúnias mais coloridas, os pesquisadores obtiveram flores brancas.
Ou seja, a introdução de muitas
cópias de um mesmo gene, em
vez de resultar numa maior expressão (ativação) daquele gene,
teve o efeito contrário. É o caso
em que um mais um não é dois.
Algumas vezes, pode ser até zero.
Diferentes organismos apresentam formas diversas de silenciamento. O que os cientistas descobriram agora é que existe uma
mesma proteína que está presente
em várias dessas espécies e que
controla o processo.
Isso significa que os seres vivos
possuem um mecanismo ancestral comum que evoluiu para a
proteção do genoma (coleção de
genes de uma espécie) contra a invasão de um DNA estranho.
Interferência do RNA
O DNA é o material que forma
os genes e que contém a informação necessária para o funcionamento e reprodução dos organismos. Já o RNA é a molécula que
faz o papel de mensageiro, levando as receitas presentes nos genes
do núcleo até outras partes da célula (veja quadro ao lado).
Em um processo chamado de
interferência do RNA ou RNAi,
moléculas de RNA silenciam a expressão dos genes depois que eles
são copiados na forma de RNA.
Isso acontece porque pequenos
trechos de RNA com sequência
invertida são produzidos e se ligam à sequência do RNA similar
transcrito. É como um molde de
escultura "tampado" por um contramolde, que não serve mais para produzir cópias.
Existe uma proteína que reconhece esse RNA com molde e
contramolde e o degrada, não
permitindo, portanto, que o gene
seja traduzido em proteína.
A razão de certos RNAs terem a
sua sequência transcrita de forma
invertida é a existência de uma
proteína chamada de RNA polimerase RNA-dependente. O que
essa proteína faz é justamente
produzir pequenos trechos invertidos de RNA que vão produzir os
RNAs molde-contramolde (ou de
fita dupla, no jargão genético).
Mas por que essa RNA polimerase não faz isso com todas as moléculas de RNA da célula?
Segundo Eduardo Romano, do
Cenargen (Centro Nacional de
Pesquisa em Recursos Genéticos
e Biotecnologia), da Embrapa, parece haver um nível máximo de
um mesmo RNA que a célula pode suportar.
Quando a quantidade de RNA
ultrapassa esse limite, a RNA polimerase RNA-dependente sintetiza trechos de RNA invertidos.
Inseto, fungo, verme
O que os três estudos publicados na revista "Nature" revelam é
que essa proteína, com pequenas
variações, existe em organismos
tão diversos quanto um fungo,
um inseto e um verme de solo,
que parecem controlar da mesma
forma os mecanismos de interferência do RNA.
"Em plantas, o silenciamento de
genes parece ser um mecanismo
de defesa contra o ataque de vírus,
que se utilizam do maquinário da
célula vegetal para produzir suas
próprias proteínas. Além disso,
evitar a superexpressão de um gene contribui para que outros não
tenham a sua expressão prejudicada pela falta de proteínas de
transcrição", explicou Romano.
Ele e sua equipe estudam o fenômeno do silenciamento de genes em plantas de feijão resistentes a vírus. "Vamos estudar qual o
papel da RNA polimerase RNA-dependente em plantas", acrescentou.
O silenciamento revela que a
manipulação dos genes requer
muito mais do que apenas o conhecimento de suas sequências.
Texto Anterior: Eletrônica: Chip implantado reabilita deficiente Próximo Texto: Neurologia: Cérebro e corpo se unem em novo livro Índice
|