São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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AMBIENTE

Dados sobre o estado de saúde de ecossistemas foram menosprezados nos últimos 50 anos, diz presidente do IBGE

Falta de estatísticas prejudica avaliações

DA SUCURSAL DO RIO

A falta de dados e estatísticas ambientais consistentes em escala nacional é um dos problemas mais citados por ambientalistas e técnicos que trabalham na área. A divulgação ontem da publicação "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável", do IBGE, evidenciou essa questão.
Para o presidente do instituto, Sérgio Besserman, há uma carência de estatísticas ambientais: "Houve descaso na produção dessas estatísticas no Brasil e no mundo nos últimos 50 anos. O mundo acordou tarde para essa necessidade", diz Besserman.
O desconhecimento, patente nos chamados países megadiversos -detentores da maior parte da diversidade biológica do planeta-, acaba se refletindo, por exemplo, nas estatísticas de extinção, geralmente subestimadas.
"Há uma crise de biodiversidade e a ciência não sabe, por exemplo, se o número de espécies animais no planeta é da ordem de 1 milhão, 10 milhões ou 30 milhões", diz o presidente do IBGE.
Ele afirma, no entanto, que o Brasil não está muito pior do que os países desenvolvidos. "Em todo o mundo, há uma enorme carência de estatísticas ambientais", afirma o presidente.
João Paulo Capobianco, do Instituto Socioambiental, diz que essa necessidade já estava evidente desde a realização da conferência mundial Eco-92, em 1992, no Rio.
"Esse problema foi detectado antes da Eco-92, quando o governo brasileiro teve de preparar o relatório do país e, naquela ocasião, já se configurava o óbvio: não tínhamos indicadores nacionais. Foram feitas várias orientações nessa direção, mas pouco foi implementado", diz Capobianco.
Ele defende que o IBGE atue de maneira "menos conservadora": "O IBGE deveria ter uma postura mais formuladora de estatísticas nesse processo. Não pode apenas fazer compilações de dados de outras fontes".
A maioria dos indicadores ambientais apresentados pelo instituto na publicação teve como fonte ministérios, governos estaduais e outros órgãos ligados ao ambiente, mas nada original.

Qualidade do ar
A falta de estatísticas em nível nacional fica evidente, por exemplo, no indicador de qualidade do ar. O único dado apresentado sobre o assunto foi monitorado pela Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo) e abrange apenas a região metropolitana de São Paulo.
O indicador mostra que, de 1995 a 1999, houve um aumento no número de violações da qualidade do ar causada por ozônio e diminuição das violações causadas por monóxido de carbono.
Na questão do uso de fertilizantes e pesticidas por agricultores, por exemplo, foi possível ao IBGE aferir a quantidade dispendida nos plantios nacionais, mas o dado que seria mais relevante -o quanto esses produtos foram utilizados de forma adequada na agricultura- acabou ficando de fora (leia texto abaixo, à esq.).
O ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, reconhece que é preciso ampliar e melhorar as estatísticas ambientais.
"Desde que decidimos realizar, com o IBGE, essa publicação, sabíamos que uma das lacunas da gestão ambiental era a falta de indicadores", disse Carvalho à Folha, por telefone.
Para o ministro, os indicadores são necessários até para estabelecer metas a serem acompanhadas pela sociedade. "As estatísticas são fundamentais até para que a sociedade possa acompanhar a evolução das questões ambientais no país. É preciso estabelecer metas de qualidade para essa questão no Brasil", diz.
Segundo ele, o ministério usará parte dos recursos do Banco Mundial para o Programa Nacional do Meio Ambiente, da ordem de US$ 300 milhões para os próximos dez anos, a fim de melhorar a qualidade do monitoramento dessas questões.(ANTÔNIO GOIS)


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