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AMBIENTE
Dados sobre o estado de saúde de ecossistemas foram menosprezados nos últimos 50 anos, diz presidente do IBGE
Falta de estatísticas prejudica avaliações
DA SUCURSAL DO RIO
A falta de dados e estatísticas
ambientais consistentes em escala
nacional é um dos problemas
mais citados por ambientalistas e
técnicos que trabalham na área. A
divulgação ontem da publicação
"Indicadores de Desenvolvimento Sustentável", do IBGE, evidenciou essa questão.
Para o presidente do instituto,
Sérgio Besserman, há uma carência de estatísticas ambientais:
"Houve descaso na produção dessas estatísticas no Brasil e no
mundo nos últimos 50 anos. O
mundo acordou tarde para essa
necessidade", diz Besserman.
O desconhecimento, patente
nos chamados países megadiversos -detentores da maior parte
da diversidade biológica do planeta-, acaba se refletindo, por
exemplo, nas estatísticas de extinção, geralmente subestimadas.
"Há uma crise de biodiversidade e a ciência não sabe, por exemplo, se o número de espécies animais no planeta é da ordem de 1
milhão, 10 milhões ou 30 milhões", diz o presidente do IBGE.
Ele afirma, no entanto, que o
Brasil não está muito pior do que
os países desenvolvidos. "Em todo o mundo, há uma enorme carência de estatísticas ambientais",
afirma o presidente.
João Paulo Capobianco, do Instituto Socioambiental, diz que essa necessidade já estava evidente
desde a realização da conferência
mundial Eco-92, em 1992, no Rio.
"Esse problema foi detectado
antes da Eco-92, quando o governo brasileiro teve de preparar o
relatório do país e, naquela ocasião, já se configurava o óbvio:
não tínhamos indicadores nacionais. Foram feitas várias orientações nessa direção, mas pouco foi
implementado", diz Capobianco.
Ele defende que o IBGE atue de
maneira "menos conservadora":
"O IBGE deveria ter uma postura
mais formuladora de estatísticas
nesse processo. Não pode apenas
fazer compilações de dados de
outras fontes".
A maioria dos indicadores ambientais apresentados pelo instituto na publicação teve como fonte ministérios, governos estaduais
e outros órgãos ligados ao ambiente, mas nada original.
Qualidade do ar
A falta de estatísticas em nível
nacional fica evidente, por exemplo, no indicador de qualidade do
ar. O único dado apresentado sobre o assunto foi monitorado pela
Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de
São Paulo) e abrange apenas a região metropolitana de São Paulo.
O indicador mostra que, de 1995
a 1999, houve um aumento no número de violações da qualidade
do ar causada por ozônio e diminuição das violações causadas por
monóxido de carbono.
Na questão do uso de fertilizantes e pesticidas por agricultores,
por exemplo, foi possível ao IBGE
aferir a quantidade dispendida
nos plantios nacionais, mas o dado que seria mais relevante -o
quanto esses produtos foram utilizados de forma adequada na
agricultura- acabou ficando de
fora (leia texto abaixo, à esq.).
O ministro do Meio Ambiente,
José Carlos Carvalho, reconhece
que é preciso ampliar e melhorar
as estatísticas ambientais.
"Desde que decidimos realizar,
com o IBGE, essa publicação, sabíamos que uma das lacunas da
gestão ambiental era a falta de indicadores", disse Carvalho à Folha, por telefone.
Para o ministro, os indicadores
são necessários até para estabelecer metas a serem acompanhadas
pela sociedade. "As estatísticas
são fundamentais até para que a
sociedade possa acompanhar a
evolução das questões ambientais
no país. É preciso estabelecer metas de qualidade para essa questão
no Brasil", diz.
Segundo ele, o ministério usará
parte dos recursos do Banco
Mundial para o Programa Nacional do Meio Ambiente, da ordem
de US$ 300 milhões para os próximos dez anos, a fim de melhorar a
qualidade do monitoramento
dessas questões.(ANTÔNIO GOIS)
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