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PERISCÓPIO
Defeitos congênitos afetam cérebro e coluna vertebral
JOSÉ REIS
especial para a Folha
Dos defeitos congênitos, figuram entre os mais sérios a anencefalia e a espinha bífida. A primeira consiste na ausência parcial ou total do cérebro. A segunda é uma fenda que se forma na coluna vertebral, expondo as meninges e a medula. Há
três formas de espinha bífida.
A mais leve é a chamada oculta, que muitas vezes só se descobre a partir de eventual radiografia para outros fins. No máximo, ela só se manifesta na pele por alguma pequena depressão, às vezes coberta de tufo de
pêlos. Na segunda forma, meningocele, o buraco é maior e
deixa passar um cisto limitado
pela meninge, cheio de líquido;
ela atravessa o corpo e surge nas
costas como um calombo. Na
terceira, o orifício é maior ainda e se deixa atravessar pela
meninge, pela medula espinhal
e os nervos que dela partem, os
nervos espinhais e suas raízes. É
a mielomeningocele, a mais
grave de todas, que pode acarretar muitas complicações, como
paralisias e perda de sensibilidade. Na pele ela produz calombo, que pode ulcerar se a pele
não estiver perfeita.
Há uns sete anos apareceu em
Browsville, no Texas, uma epidemia de espinha bífida (25 casos) e anencefalia (35 casos).
Por mais que investigassem, o
Centro de Controle de Doenças
dos EUA e o Departamento de
Saúde do Texas não descobriram a origem da natureza do
surto. Isso levou as famílias dos
pacientes a entrar com processo
em juízo, acusando certas fábricas norte-americanas que estariam poluindo a região de
Brownsville.
Ante a possibilidade de julgamento por júri aberto, que certamente custaria muito mais, as
fábricas concordaram em pagar
US$ 17 milhões às famílias atingidas, ao mesmo tempo que providenciavam a limpeza do lixão
e das fontes poluidoras em que
haviam transformado a cidade
de Matamoros, no México, bem
na fronteira com Brownsville.
Matamoros se transformou
em importante centro industrial
mexicano e atraiu numerosas
fábricas norte-americanas.
Apesar de declarar que respeitariam as normas norte-americanas nas unidades implantadas
no México, as empresas não
cumpriram esse propósito, mas
fizeram de Matamoros um centro altamente poluidor.
A razão de assentar fábricas
em Matamoros foi a mão-de-obra barata (algumas dispensaram cerca de mil operários nos
Estados Unidos). Some-se a isso
a legislação ambiental no México, alegadamente mais frouxa
que a dos Estados Unidos, e incentivos fiscais. Esse episódio foi
denunciado pela CNN Impact,
programa de TV norte-americana e registrado na revista "Time" (26.mai.97) por Mark
Feldstein e Steve Singer. Mostra
como ação coletiva pode contribuir para luta conta a poluição.
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