São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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ASTRONOMIA

Oportunidade rara aconteceu ontem, quando o planeta passou na frente de uma estrela, ocultando a sua luz

Sul-americanos estudam o ar de Plutão

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A noite de ontem guardou uma oportunidade única para astrônomos espalhados por observatórios na América do Sul: eles tentaram, pela segunda vez na história, detectar a atmosfera do planeta Plutão e seus componentes.
Normalmente, dada a distância enorme e o tamanho diminuto do planeta (que é o menor, nono e último do Sistema Solar), é impossível obter quaisquer informações sobre o tipo de ar que poderia existir sobre sua superfície.
Apenas em circunstâncias muito especiais, quando Plutão passa na frente de uma estrela mais distante, é possível observar a atmosfera do planeta. Foi assim que os astrônomos descobriram que ele de fato tinha uma, em 1998, e foi o que aconteceu às 23h20 de ontem (hora de Brasília).
Nessa hora, Plutão passou na frente da estrela P126, ocultando sua luz. Parte dos raios da estrela, então, entrou na atmosfera, passando de raspão pelo planeta, mas ainda assim conseguindo sair e seguir seu curso rumo à Terra.
Essa luz que chegou trouxe consigo uma marca de onde ela passou, uma espécie de "autógrafo" da atmosfera plutoniana, que os astrônomos podem decifrar.
"Em 1998, as observações foram prejudicadas pelo tempo e os dados obtidos foram muito pobres", diz Stefane Renner, astrônomo do Observatório de Paris que esteve no Observatório do Pico dos Dias, do Laboratório Nacional de Astrofísica (em Itajubá, MG), justamente para ver o fenômeno.
Para driblar o mau tempo, uma rede de observatórios foi montada. Além do observatório brasileiro, participaram dois outros na Argentina, três no Chile e mais uma série de telescópios portáteis instalados no deserto chileno de Atacama, o melhor ponto para a observação do fenômeno (que não é visível a olho nu).
A época da observação, pelo menos, foi "pé quente": hoje faz 33 anos que o astronauta Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar na Lua.
O esforço pode enriquecer o conhecimento acerca do mais misterioso planeta do Sistema Solar, mas ainda não dispensa a visita de uma sonda, que está atualmente sendo criada nos EUA. Um painel de cientistas recentemente recomendou à Nasa (agência espacial americana) que colocasse a missão a Plutão no topo de suas prioridades. Atualmente, o projeto ocupa o último lugar da lista.
Os primeiros resultados das observações feitas ontem só serão divulgados pelos pesquisadores no mês que vem.



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