São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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NEUROLOGIA

Embrião de camundongo teve apenas um de seus genes modificado

Dupla faz roedor com megacérebro

DA REPORTAGEM LOCAL

O desenho animado "Pinky e Cérebro" pode estar deixando de ser mera fantasia. Mas não agradeça aos animadores, pois a obra é de cientistas americanos. Com apenas um gene alterado, camundongos de laboratório desenvolveram um cérebro muito mais volumoso do que o normal, apresentando os dobramentos típicos de versões mais desenvoltas desses órgãos, como as humanas.
"Na hora não nos ocorreu, mas depois até brincaram comigo, dizendo que o experimento lembrava o desenho animado", contou à Folha Anjen Chenn, do Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston, um dos autores da pesquisa, cujos resultados estão publicados na última edição da revista americana "Science" (www.sciencemag.org).
A descoberta ajuda a explicar como pode ter ocorrido a evolução dos cérebros mais capazes, como os de primatas, que possuem uma área "útil" (quantidade de neurônios) muito maior que a de outros animais, em razão dos dobramentos do órgão. Mas, segundo os autores do estudo, não está aberta a porta para a criação de animais tão inteligentes quanto os humanos. "Acho improvável", diz Chenn. "É provável que a inteligência seja muito complicada e envolva muitos genes. Apenas descobrimos como produzir um "hardware" maior."
Por essa razão, o pesquisador não teme que a pesquisa tenha como desagradável resultado a criação de um método para ampliar a inteligência de animais, criando aberrações como "Cérebro", o ratinho superinteligente do desenho animado cuja única meta é conquistar o mundo.
Mesmo assim, os cientistas pretendem testar no futuro o quanto os bichinhos ficaram mais espertos com a "evolução artificial". Nesse primeiro experimento eles estavam só querendo ver o que acontecia com a formação do cérebro. "Interrompemos a evolução dos embriões um dia antes do nascimento", conta Chenn.
O gene que os cientistas alteraram nos camundongos codifica a produção de uma proteína chamada beta-catenina. Ela é responsável por dizer quando uma célula nervosa deve parar de se multiplicar e iniciar sua diferenciação, tornando-se um tecido definitivo. "O que fizemos foi criar uma versão dessa proteína que resiste mais à degradação no organismo, estimulando a multiplicação das células", explica o cientista.
"Não escolhemos por acaso essa proteína. Ela também está relacionada a diversos tipos humanos de câncer", conta Chenn. Os tumores são basicamente compostos por células enlouquecidas, que se multiplicam fora de controle.
Chenn e seu colega Christopher Walsh esperam que o estudo possa ajudar a explicar a atuação dessa proteína em tumores, além de tentar jogar alguma luz sobre um dos grandes mistérios da natureza: como os seres humanos adquiriram o "equipamento" necessário à consciência. (SN)


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