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NEUROLOGIA
Embrião de camundongo teve apenas um de seus genes modificado
Dupla faz roedor com megacérebro
DA REPORTAGEM LOCAL
O desenho animado "Pinky e
Cérebro" pode estar deixando de
ser mera fantasia. Mas não agradeça aos animadores, pois a obra
é de cientistas americanos. Com
apenas um gene alterado, camundongos de laboratório desenvolveram um cérebro muito mais volumoso do que o normal, apresentando os dobramentos típicos
de versões mais desenvoltas desses órgãos, como as humanas.
"Na hora não nos ocorreu, mas
depois até brincaram comigo, dizendo que o experimento lembrava o desenho animado", contou à
Folha Anjen Chenn, do Beth Israel Deaconess Medical Center,
em Boston, um dos autores da
pesquisa, cujos resultados estão
publicados na última edição da
revista americana "Science"
(www.sciencemag.org).
A descoberta ajuda a explicar
como pode ter ocorrido a evolução dos cérebros mais capazes,
como os de primatas, que possuem uma área "útil" (quantidade
de neurônios) muito maior que a
de outros animais, em razão dos
dobramentos do órgão. Mas, segundo os autores do estudo, não
está aberta a porta para a criação
de animais tão inteligentes quanto os humanos. "Acho improvável", diz Chenn. "É provável que a
inteligência seja muito complicada e envolva muitos genes. Apenas descobrimos como produzir
um "hardware" maior."
Por essa razão, o pesquisador
não teme que a pesquisa tenha como desagradável resultado a criação de um método para ampliar a
inteligência de animais, criando
aberrações como "Cérebro", o ratinho superinteligente do desenho animado cuja única meta é
conquistar o mundo.
Mesmo assim, os cientistas pretendem testar no futuro o quanto
os bichinhos ficaram mais espertos com a "evolução artificial".
Nesse primeiro experimento eles
estavam só querendo ver o que
acontecia com a formação do cérebro. "Interrompemos a evolução dos embriões um dia antes do
nascimento", conta Chenn.
O gene que os cientistas alteraram nos camundongos codifica a
produção de uma proteína chamada beta-catenina. Ela é responsável por dizer quando uma célula
nervosa deve parar de se multiplicar e iniciar sua diferenciação,
tornando-se um tecido definitivo.
"O que fizemos foi criar uma versão dessa proteína que resiste
mais à degradação no organismo,
estimulando a multiplicação das
células", explica o cientista.
"Não escolhemos por acaso essa
proteína. Ela também está relacionada a diversos tipos humanos
de câncer", conta Chenn. Os tumores são basicamente compostos por células enlouquecidas, que
se multiplicam fora de controle.
Chenn e seu colega Christopher
Walsh esperam que o estudo possa ajudar a explicar a atuação dessa proteína em tumores, além de
tentar jogar alguma luz sobre um
dos grandes mistérios da natureza: como os seres humanos adquiriram o "equipamento" necessário à consciência.
(SN)
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