São Paulo, Segunda-feira, 20 de Setembro de 1999
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CIÊNCIA

Evento discute biodiversidade amazônica

MARCELO LEITE
especial para a Folha

O país começa a resgatar amanhã em Macapá uma dívida que contraiu em nome da Amazônia há sete anos, na Eco-92: avaliar o potencial da diversidade biológica de sua floresta equatorial. Um seminário com 150 especialistas, durante cinco dias, vai pôr em mapas o que se sabe sobre ela.
A obrigação foi assumida pelo Brasil ao assinar a Convenção da Biodiversidade, na Conferência do Rio. Por isso foi criado o Programa Nacional de Diversidade Biológica (Pronabio), que recebeu do Banco Mundial uma dotação de US$ 30 milhões.
Já foram realizados três desses levantamentos (Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal). Faltam outros três: Amazônia, que entra em fase de sistematização com o seminário de Macapá, Caatinga e Zona Costeira. Todos devem ficar prontos até o final do ano.
O título do encontro ocupa um parágrafo inteiro: "Avaliação e Identificação de Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade da Amazônia Brasileira". Um nome-ônibus, para comportar todas as preocupações da nomenclatura ambiental global.
A característica principal do workshop é a utilização intensiva do georreferenciamento. Numa palavra, mapas. Mas mapas carregados de informação, para ser sobrepostos e gerar diagnósticos.
Na carta ao lado, por exemplo, produzida a pedido da Folha pelo Instituto Socioambiental (ISA), coordenador-geral do levantamento, podem-se visualizar algumas contradições.
De um lado, há os corredores de biodiversidade determinados em estudos financiados por países ricos no Programa-Piloto do Grupo dos Sete (PPG-7). De outro, os eixos de desenvolvimento do Brasil em Ação. Esta é a parte prospectiva do mapa, a que diz respeito a tendências, ou metas.
Ele mostra também, no entanto, os vetores de destruição representados pelos pólos de atividade madeireira e sua área de influência, um estudo de fôlego realizado pelo Imazon, de Belém do Pará. Ele abrangeu 74 municípios com produção anual superior a 100 mil metros cúbicos de madeira.
O que dá para notar é que os eixos de "desenvolvimento" parecem prolongar vetores de destruição. Em segundo lugar, muitos cortam corredores de biodiversidade, contradizendo sua expectativa de conservação.
Essa interpretação é apenas o ponto de partida do seminário, que deverá aprofundar as questões. Vinte e dois trabalhos de subsídios (www.socioambiental.org/bio/index.htm) para discussão foram produzidos e serão discutidos por temas (um dia) e depois por sete regiões (dois dias).
A mudança de foco corresponde à de escala dos mapas. No primeiro dia, 1:3,5 milhões; depois, 1:2 milhões (cartas mais detalhadas). O resultado das discussões é digitalizado durante a noite, para a discussão no dia seguinte.
Os dois últimos dias serão reservados para o debate de ações prioritárias. Ou seja, o que fazer. "Uma das conclusões pode ser a reorientação dos eixos de desenvolvimento, ou salvaguardas e ações preventivas", diz João Paulo Ribeiro Capobianco, do ISA.
"A prioridade um é interferir em áreas onde está havendo degradação", afirma Capobianco. "Até hoje ninguém cruzou biodiversidade com eixos de desenvolvimento. Vai dar barulho."
A idéia é ter mapas com essas prioridades, além de um grande volume de informações e subsídios sobre a região. Tudo isso de forma "cruzável", ou seja, mapas que possam ser sobrepostos pelos sistemas de informações geográficas (SIGs). É a tal modernidade entrando no mapa da Amazônia.


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