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CIÊNCIA
Evento discute
biodiversidade
amazônica
MARCELO LEITE
especial para a Folha
O país começa a resgatar amanhã em Macapá uma dívida que
contraiu em nome da Amazônia
há sete anos, na Eco-92: avaliar o
potencial da diversidade biológica de sua floresta equatorial. Um
seminário com 150 especialistas,
durante cinco dias, vai pôr em
mapas o que se sabe sobre ela.
A obrigação foi assumida pelo
Brasil ao assinar a Convenção da
Biodiversidade, na Conferência
do Rio. Por isso foi criado o Programa Nacional de Diversidade
Biológica (Pronabio), que recebeu do Banco Mundial uma dotação de US$ 30 milhões.
Já foram realizados três desses
levantamentos (Mata Atlântica,
Cerrado e Pantanal). Faltam outros três: Amazônia, que entra em
fase de sistematização com o seminário de Macapá, Caatinga e
Zona Costeira. Todos devem ficar
prontos até o final do ano.
O título do encontro ocupa um
parágrafo inteiro: "Avaliação e
Identificação de Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de
Benefícios da Biodiversidade da
Amazônia Brasileira". Um nome-ônibus, para comportar todas as
preocupações da nomenclatura
ambiental global.
A característica principal do
workshop é a utilização intensiva
do georreferenciamento. Numa
palavra, mapas. Mas mapas carregados de informação, para ser sobrepostos e gerar diagnósticos.
Na carta ao lado, por exemplo,
produzida a pedido da Folha pelo
Instituto Socioambiental (ISA),
coordenador-geral do levantamento, podem-se visualizar algumas contradições.
De um lado, há os corredores de
biodiversidade determinados em
estudos financiados por países ricos no Programa-Piloto do Grupo dos Sete (PPG-7). De outro, os
eixos de desenvolvimento do Brasil em Ação. Esta é a parte prospectiva do mapa, a que diz respeito a tendências, ou metas.
Ele mostra também, no entanto,
os vetores de destruição representados pelos pólos de atividade
madeireira e sua área de influência, um estudo de fôlego realizado
pelo Imazon, de Belém do Pará.
Ele abrangeu 74 municípios com
produção anual superior a 100 mil
metros cúbicos de madeira.
O que dá para notar é que os eixos de "desenvolvimento" parecem prolongar vetores de destruição. Em segundo lugar, muitos
cortam corredores de biodiversidade, contradizendo sua expectativa de conservação.
Essa interpretação é apenas o
ponto de partida do seminário,
que deverá aprofundar as questões. Vinte e dois trabalhos de
subsídios (www.socioambiental.org/bio/index.htm) para discussão foram produzidos e serão discutidos por temas (um dia) e depois por sete regiões (dois dias).
A mudança de foco corresponde à de escala dos mapas. No primeiro dia, 1:3,5 milhões; depois,
1:2 milhões (cartas mais detalhadas). O resultado das discussões é
digitalizado durante a noite, para
a discussão no dia seguinte.
Os dois últimos dias serão reservados para o debate de ações
prioritárias. Ou seja, o que fazer.
"Uma das conclusões pode ser a
reorientação dos eixos de desenvolvimento, ou salvaguardas e
ações preventivas", diz João Paulo
Ribeiro Capobianco, do ISA.
"A prioridade um é interferir
em áreas onde está havendo degradação", afirma Capobianco.
"Até hoje ninguém cruzou biodiversidade com eixos de desenvolvimento. Vai dar barulho."
A idéia é ter mapas com essas
prioridades, além de um grande
volume de informações e subsídios sobre a região. Tudo isso de
forma "cruzável", ou seja, mapas
que possam ser sobrepostos pelos
sistemas de informações geográficas (SIGs). É a tal modernidade
entrando no mapa da Amazônia.
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