São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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COMPORTAMENTO

Análise questiona preferência biológica por corpo tipo "violão"

Mulher de revista está mais magra

Associated Press
A atriz Marilyn Monroe figura na capa da revista "Playboy" americana, em edição publicada em dezembro de 1953


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi um árduo trabalho de pesquisa. Para obter os dados, os pesquisadores tiveram de folhear 577 edições da revista americana "Playboy" em busca das medidas das garotas do pôster, de dezembro de 1953 a dezembro de 2001.
A principal conclusão, que contestou estudos anteriores sobre o tema baseados em menor quantidade de dados, é que as mulheres retratadas na tradicional revista masculina estão com o corpo cada vez mais parecido com o corpo dos homens, com seios e quadris menores e cinturas maiores.
O estudo foi feito por Martin Voracek, da Universidade de Viena, Áustria, e Maryanne Fisher, da Universidade York, de Toronto, Canadá, e está publicado na última edição da revista médica britânica "British Medical Journal".
Dois dos índices analisados são utilizados pelos médicos como parâmetros de saúde feminina, o índice de massa corporal (IMC) e a relação cintura/quadril, que tem boa correlação com fertilidade, risco de doenças e longevidade.
O índice de massa corporal é obtido dividindo-se o peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Os valores ideais -segundo estudos médicos, correspondem a um IMC de 20 e uma relação cintura/quadril menor que 0,7- não só indicariam boa saúde, como seriam também os mais atrativos sexualmente para os homens.
De acordo com certas teorias evolutivas, dizem os autores do estudo, esses valores não deveriam mudar com o tempo, pois refletiriam a melhor combinação em termos de "design". Mas vários estudos têm demonstrado a diminuição crescente do IMC nas mulheres mostradas pelos meios de comunicação, principalmente as modelos de moda. E a análise das eleitas pela "Playboy" confirmou essa impressão.
O gráfico contendo as relações cintura/quadril mostra a progressiva passagem da "cintura de violão" para a "tábua". Se nos anos 60 era comum um índice de 0,6 (algo como uma cintura de 60 cm e um quadril de 100 cm), dos anos 70 em diante não houve mais nenhum. Em uma revista de 2000, houve até um caso de índice 0,8.
Para entender a diferença, basta comparar dois ensaios na edição brasileira da "Playboy", a de novembro de 2001. A "coelhinha" americana Darlene Kurtis tem 61 cm de cintura e 89 cm de quadril, uma relação de 0,68, dentro ainda do padrão considerado ideal pela biologia evolutiva.
Já a brasileira Ellen Rocche, com meros 57 cm de cintura e 100 cm de quadril, tem uma raríssima relação de 0,57, o tipo de cintura de vespa que deixou de ser publicado na edição americana nos anos 60.
A brasileira e a americana têm IMC parecidos, 18,4 e 18,73, respectivamente. O IMC das garotas do pôster tem caído cada vez mais diante da média da população, dizem Voracek e Fisher.


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