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"Anões" do Sistema Solar são mais de 60, diz Brown
Descobridor de Eris afirma que termo é "estúpido"
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A SAN FRANCISCO
O descobridor de Eris, o corpo celeste que iniciou o debate
que levou ao rebaixamento de
Plutão, em 2006, acredita que
deva haver mais uns 60 objetos
de tamanho semelhante ao do
ex-planeta na região do espaço
onde ele se encontra.
Michael Brown, astrônomo
do Instituto de Tecnologia da
Califórnia, afirma que não é impossível que existam corpos no
chamado cinturão de Kuiper
grandes como os planetas do
Sistema Solar interior, entre
eles a Terra. "É difícil dizer,
mas é bem possível que um dia
observemos algo do tamanho
tamanho de Mercúrio", disse
Brown à Folha.
O trabalho de Brown que pode bagunçar ainda mais a definição de planeta são estudos a
serem publicados em breve sobre um dos objetos mais estranhos do cinturão, registrado
como 2003 EL61 e apelidado
de "Santa" (Papai Noel).
"Santa" tem o formato aproximado de uma bola de futebol
americano murcha e gira extremamente rápido. Aparentemente é composto de uma rocha sólida e coberto por uma fina camada de gelo.
"Nós achamos que essa aparência e esse comportamento
são assim porque "Santa" sofreu
uma colisão", diz Brown.
O objeto, que no comprimento é quase tão grande
quanto Plutão, também interessa os cientistas por causa de
sua órbita. Com período estimado de 12 mil anos para contornar o Sol, "Santa" está agora
em um dos pontos mais próximos da Terra. A chance de ele
estar próximo o suficiente para
ser visto, diz Brown, é cerca de
uma em 60. Por uma lógica estatística, portanto, deve haver
mais uns 59 corpos grandes no
cinturão que não estamos conseguindo ver agora.
A expectativa de achar objetos como esse vem aumentando com a medição mais precisa
das órbitas de outros objetos
no cinturão de Kuiper. Alguns
desses corpos têm órbitas de
milhares de anos, mas os astrônomos só conseguem vê-los
quando estão perto da órbita
da Terra -como "Santa".
Em palestra domingo no encontro anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), Brown explicou
como fez em 2003 para descobrir Eris. Esse asteróide, maior
do que Plutão, forçou o debate
que culminou no seu rebaixamento para "planeta-anão".
"Termo estúpido"
Para Brown, tirar Plutão da
lista foi uma decisão perfeitamente sensata, mas o termo
usado para defini-lo foi infeliz.
"É um termo bem estúpido",
disse. "Não dá para chamar algo
de coisa-anã, se esse algo não é
uma coisa [no caso, um planeta]. Durante vários anos usamos, não oficialmente, a expressão "planetóide", que é mais
adequada, pois significa algo
que "parece" um planeta."
O trabalho do astrônomo que
está sendo mais discutido agora
entre seus colegas é sobre um
outro objeto do cinturão de
Kuiper que ele descobriu em
2003 e já ganhou apelido: "Easter Bunny" (Coelho da Páscoa).
"Na época, achávamos que
ele era estruturado como Plutão, coberto de metano, talvez
redondo, mas depois acabamos
vendo que ele é um objeto que
está na transição entre Plutão e
outros objetos menores."
Ainda é incerto se um conhecimento mais refinado do cinturão de Kuiper vai ou não provocar mais debate sobre definições de planetas e obrigar mudanças nos livros. Brown, de
qualquer forma, não parece estar muito mais preocupado.
"Não acho que seja necessária uma definição científica para planeta para seu uso cultural", afirma. A partir de agora, o
assunto poderia ser tratado como a geografia trata dos continentes, diz, já que não há um limite de tamanho estabelecido
para uma ilha passar a ser chamada de continente.
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