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MEDICINA
Estudo feito nos EUA diz que potencial dos dois tipos celulares pode ser o mesmo e aumenta esperança de terapia
Célula-tronco adulta é igual à de embrião
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A grande esperança médica do século 21, criar tecidos sob medida usando células-tronco derivadas de embriões humanos, acaba
de ganhar um concorrente de respeito. Cientistas da Universidade
de Minnesota, nos Estados Unidos, descobriram que células-tronco adultas da medula óssea
podem se transformar em qualquer tipo de tecido, assim como
suas equivalentes embrionárias.
O achado foi anunciado ontem
numa entrevista coletiva por Catherine Verfaillie, médica belga
que conduziu o estudo publicado
on-line pela revista científica "Nature" (www.nature.com).
"Essas células, que nós chamamos de MAPCs [sigla em inglês
para células progenitoras adultas
multipotentes", foram capazes de
se diferenciar em células da maioria dos tecidos do corpo, se não de
todos", disse Verfaillie durante a
coletiva, que foi transmitida ao vivo pela internet. Isso inclui tecido
sanguíneo, muscular, ósseo e nervoso, só para ficar nos primeiros
nomes da extensa lista.
Além de mostrar toda essa polivalência, as células-tronco da pesquisadora belga parecem livres de
problemas já apontados nesse tipo de estrutura celular: o número
de seus cromossomos (estruturas
que carregam o DNA) é normal e
elas não geraram tumores nos ratos e camundongos nos quais foram implantadas.
"Isso demonstra que elas podem ser úteis em terapia. Mas eu
diria que nós ainda temos um
longo caminho a percorrer antes
de sabermos como elas funcionam", acautela-se a médica. "Ainda precisamos aprender muito sobre o que elas são e o que elas podem fazer."
Páreo duro
A característica principal de uma célula-tronco é ainda estar indiferenciada, ou seja, ela ainda tem o potencial de se transformar em qualquer tecido do corpo
-diferente das células adultas, cuja função já está definida e, geralmente, não pode ser mudada.
Em embriões com poucas centenas de células, elas formam a
massa celular interna, que dá origem a todos os órgãos do corpo.
Na vida adulta, as células-tronco aparecem principalmente na medula óssea, como precursoras das células do sangue.
Não é de hoje que as células-tronco adultas mostram que podem ser tão boas para terapia quanto as embrionárias.
Estudos recentes mostraram que essas células da medula podem se transformar em tecido muscular do coração ou em tecido ósseo. Mas é primeira vez que
uma variedade tão grande de tecidos surge da mesma fonte.
"Isso demonstra o que nós temos defendido há muito tempo: a
capacidade de diferenciação das
células-tronco adultas", diz Ricardo Ribeiro dos Santos, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz
da Bahia que trabalha com células-tronco da medula para o tratamento da doença de Chagas.
Para conseguir os mais diversos
tecidos a partir da medula óssea,
Verfaillie retirou células de camundongos e ratos e as cultivou
no laboratório, de olho naquelas
que tivessem características similares às versáteis células-tronco
embrionárias (veja quadro à dir.).
A partir daí, as mais promissoras (uma em cada mil do conjunto
inicial, aproximadamente) receberam hormônios que as induzissem à multiplicação e à diferenciação. Funcionou. O próximo passo foi injetar as células em embriões de ratos e camundongos e em roedores adultos.
O resultado não podia ser melhor: as células-tronco adultas,
marcadas com um corante fluorescente, contribuíram para a formação de todo o corpo dos animais, do cérebro e da retina ao fígado. "O interessante é que elas
não geraram tumores, o que pode acontecer com células-tronco embrionárias", diz Verfaillie.
"Isso pode significar que essa polêmica entre células adultas e embrionárias é um pouco sem necessidade", diz Santos. Como o uso das células embrionárias exige a destruição de embriões humanos, existem consideráveis objeções éticas ao método.
Para o cientista brasileiro, o importante agora é entender como
controlar a diferenciação dessas células. "Até agora as pessoas estão usando um caldeirão da sorte, na base da tentativa e erro", conta.
"Pelos dados in vivo [em organismos vivos], sabe-se que elas
migram para áreas com lesões e formam tecido como o que existe
ali", explica. "Precisamos entender os fatores que determinam a
diferenciação e a migração."
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