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Folha ultrafina de carbono promete mudar eletrônica
Descoberto há dois anos, o grafeno desponta como candidato ao lugar do silício
Material é o subproduto mais simples do grafite, mas era julgado impossível
de obter pelas teorias; hoje 20 grupos já o pesquisam
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Pergunte ao físico André
Geim o que o levou a criar o grafeno, uma nova forma de carbono descoberta há apenas dois
anos e que já promete revolucionar a microeletrônica. Sem
um pingo de constrangimento,
o diretor do Centro de Nanotecnologia da Universidade de
Manchester, no Reino Unido,
responderá: despeito.
"Não é um sentimento bonito, certo? Mas nós olhamos para as pessoas que fazem nanotubos de carbono, que conseguem resultados tão bacanas e
tanto dinheiro por eles, e pensamos: será que podemos fazer
alguma coisa só por despeito, só
para irritá-los?" -recorda-se.
Dessa brincadeira nasceu um
material que todas as previsões
teóricas julgavam impossível
de obter: uma folha de dimensões nanoscópicas (um nanômetro é um milionésimo de milímetro) composta só de átomos de carbono e com propriedades quase mágicas, que agora
começam a ser estudadas.
"As teorias diziam que um filme de carbono com um átomo
de espessura jamais poderia ser
estável", diz Geim. "Mas, se
acreditássemos em tudo o que
os teóricos dizem, não teríamos
chegado aonde chegamos."
O grafeno, filme de carbono
ultrafino, foi descrito em outubro de 2004 por Geim e sete colegas num estudo na revista
"Science". Já existem pelo menos 20 grupos de pesquisa experimental dedicados a ele no
mundo. A última de suas peripécias acaba de ser revelada: foi
observado nesse material um
fenômeno que se achava que só
acontecesse em buracos negros
(leia texto abaixo).
Mesmo sendo tão jovem, o
grafeno já é um dos materiais
mais cotados para substituir o
silício na fabricação dos chips
de computador no futuro.
Não só o silício: por ser de obtenção barata, ele também pode aposentar precocemente os
nanotubos de carbono, considerados o material-maravilha
da nanotecnologia -e que têm
rendido os tais resultados bacanas que Geim tanto despeitava.
"O que quer que você possa
fazer com os nanotubos você
pode fazer com o grafeno", afirmou o cientista à Folha.
Por aí passa principalmente
a fabricação de circuitos que
possam fazer a indústria microeletrônica continuar por
mais um tempo seguindo a lei
de Moore -segundo a qual o
número de transistores em um
chip dobra a cada 18 meses. Essa regra vem sendo cumprida
desde os anos 1960 pelos fabricantes de chips de silício. Mas o
silício não é infinitamente miniaturizável: ele perde estabilidade na escala nanoscópica.
Os nanotubos de carbono
(veja quadro à esquerda) foram
durante algum tempo considerados uma alternativa promissora da nanotecnologia ao silício, por funcionarem bem
quando este rateia.
O problema é que a tecnologia para produzir os tubinhos é
sofisticada e cara demais. Além
disso, é difícil fazer nanotubos
homogêneos, condição necessária para a produção de chips.
O grafeno tem uma vantagem sobre o silício de funcionar melhor quanto menor a folha. Apesar de ser feito apenas
de carbono, o material se comporta como um metal, conduzindo eletricidade virtualmente sem perdas -ao passo que,
no silício e em outros semicondutores, os elétrons se chocam
uns contra os outros, dissipando energia em forma de calor.
"Essa é uma das descobertas
mais notáveis sobre o grafeno:
ele permanece um metal mesmo na ausência de portadores
de carga [elétrons]", diz.
O efeito faz parte das esquisitices da física quântica, que rege o mundo do muito pequeno.
E pode significar tanto uma
bênção quanto uma desvantagem para o novo material. Afinal, transistores precisam ligar
e desligar para produzir os "zeros" e "uns" que codificam a informação num chip. O grafeno,
por sua vez, não desliga nunca.
"Nada pode bater o silício
nos próximos 15 anos", afirma
Geim. "Mas podemos cortar o
nanofios de grafeno para fazer
um semicondutor, por exemplo", diz. "Não há nenhuma
barreira fundamental. É uma
só uma questão de trabalho."
Veja imagens do grafeno onnes.ph.man.ac.uk/~kostya/Graphene.html
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