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Filme denuncia "estupidez" humana na crise do clima
Ficção projeta futuro do planeta após meio século sem combate ao efeito estufa
Sem mensagem edificante, "A Era da Estupidez" pinta cenário cientificamente mais realista do que outros que dramatizaram o tema
Divulgação
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Imagem de casa em Nova Orleãs destruída pelo furacão Katrina em 2005 aparece no filme da diretora britânica Franny Armstrong
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O ano é 2055. Catástrofes naturais causadas pela mudança
climática, seguidas de guerras,
levaram ao colapso da civilização e à quase extinção da humanidade. Numa torre solitária, num Ártico livre de gelo,
um sobrevivente reprisa vídeos
do começo do século, quando as
catástrofes começaram a acontecer. E se pergunta: "Por que
não salvamos a nós mesmos
quando tivemos a chance?"
É esse o argumento de "A Era
da Estupidez", filme que pretende mobilizar a opinião pública para a crise do clima e para o novo acordo global contra
os gases-estufa, a ser negociado
dezembro em Copenhague.
Meio ficção, meio documentário, o filme estrelado por Pete
Postlewhaite (o pai de Daniel
Dey-Lewis em "Em Nome do
Pai" e o caçador de "Jurassic
Park") explora as consequências do chamado cenário "mesmo de sempre", no qual as
emissões de dióxido de carbono
por atividades humanas continuam subindo sem parar.
Mais do que isso, no entanto,
a produção da diretora britânica Franny Armstrong mostra
por que esse é o futuro provável
da espécie, ao contar histórias
reais de pessoas comuns -cujas ações cotidianas contribuem para o problema.
Um dos personagens, por
exemplo, é o milionário indiano Jeh Wadia, que aos 32 anos
criou a primeira empresa aérea
econômica da Índia, a Go (a
aviação é uma das principais
fontes de CO2). Há também o
engenheiro britânico Piers
Guy, que monta uma turbina
eólica no quintal de casa para
cortar as próprias emissões,
mas não consegue montar uma
pequena usina eólica em sua
região por oposição dos vizinhos, ciosos de sua "paisagem".
Do outro lado estão Fernand
Pareau, o guia de montanha
francês que vê o aquecimento
mudar as geleiras onde cresceu, nos Alpes; a nigeriana Layefa Maleni, cuja aldeia é arruinada pela atividade da Shell no
delta do Níger; e duas crianças
iraquianas que se refugiam da
Jordânia após terem o pai morto na invasão americana de
2003 -uma guerra por óleo.
Talvez a história mais emblemática de todas seja a de Alvin
DuVernay, um morador de Nova Orleãs que se recusa a evacuar a cidade durante o furacão
Katrina, perde tudo o que tem
e que acaba virando um herói
local, resgatando uma centena
de pessoas com seu barco.
Depois de contar sua história, Alvin é filmado em seu local de trabalho: uma plataforma de petróleo da Shell na
Louisiana, onde ele analisa
amostras de fósseis marinhos
para decidir onde é melhor furar... em busca de petróleo.
Libelo
Com estreia nos EUA e no
Canadá hoje, véspera da reunião extraordinária da ONU sobre o clima, e no resto do mundo amanhã (inclusive no Brasil), o filme é um libelo político.
Para não arriscar diluir sua
mensagem, Armstrong optou
por uma produção 100% independente, financiada pela venda de cotas a pessoas físicas
(leia texto acima, à direita.).
"Nós queríamos independência para dizermos o que
quiséssemos sobre mudança
climática", disse à Folha a produtora de "A Era da Estupidez", Lizzie Gillett. "Não queríamos ninguém chegando no
final e fazendo cortes."
O roteiro tem a tarefa difícil
de emocionar um público já saturado de mensagens catastrofistas sobre o clima e exposto
nos últimos anos a filmes como
o ficcional-tragédia "O Dia Depois de Amanhã" (2004) e o documentário "Uma Verdade Inconveniente" (2006).
À diferença do primeiro, as
tragédias climáticas mostradas
são reais. À diferença do último, "A Era da Estupidez" não
poupa empresas nem traz
mensagens edificantes. O espectador sai do cinema deprimido e revoltado consigo.
Questionada sobre a eficiência desse discurso, Gillett afirma: "Você quer contar às pessoas a verdade, que é bem sombria e deprimente, mas não
quer deixá-las deprimidas.
Mas, se as pessoas conhecem
os fatos, eles são bem deprimentes e bem assustadores,
então quisemos contar a verdade, mas de uma forma inteligente, sem passar a mão na cabeça delas e dizer: "Se você trocar suas lâmpadas vai ficar tudo bem", porque isso obviamente não é verdade."
FILME - "A Era da Estupidez" de
Franny Armstrong, com Pete Postlewhaite; 92 min.
Veja sessões no Brasil:
www.moviemobz.com
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