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BIODIVERSIDADE
País defende posição contra grão que produz planta transgênica estéril em reunião da ONU em Curitiba
Brasil quer vetar uso de semente "suicida"
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
O governo brasileiro é contra a
liberação de áreas de plantio experimental com uso de sementes
estéreis, da chamada tecnologia
terminator, e vai defender essa
posição nos debates da COP-8 (8ª
Conferência dos Países Signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU), que segue em Curitiba até o dia 31.
Desenvolvida pela nascente biotecnologia, a semente "terminator" é um grão modificado geneticamente que não se reproduz. O
grão libera uma toxina que impede sua germinação depois da primeira colheita. Seu desenvolvimento e o uso em escala, na opinião de ambientalistas e movimentos em defesa da biodiversidade, se deu por interesses comerciais de grandes laboratórios.
Os detentores da patente genética, por sua vez, apresentam as sementes estéreis como mecanismo
de controle da propagação desses
organismos transgênicos e dizem
que isso se traduz em proteção da
biodiversidade.
O fechamento da posição do
Brasil pela proibição das experiências com as também chamadas ""sementes suicidas" -ou
ainda Gurts ("técnicas genéticas
de restrição de uso", na sigla em
inglês) foi definido em uma reunião ontem à tarde entre representantes do governo.
A decisão tira o governo brasileiro da dubiedade de posição em
que se encontrava. Em 2000, em
Nairobi (Quênia), durante a COP-5, a delegação do Brasil defendeu
a moratória para experiências
neste campo. Há dois meses, porém, numa reunião da CDB (Conferência sobre Diversidade Biológica) que retomou o debate em
Granada (Espanha), a delegação
brasileira acompanhou a da Austrália e passou a aceitar o estudo
de ""caso a caso" para licenças de
testes em campo.
A ministra Marina Silva, do
MMA (Ministério do Meio Ambiente), é a principal defensora
das teses ambientalistas no governo. Ela não participou da reunião
em que a posição brasileira foi definida. A reunião foi conduzida
pelo diretor do Departamento de
Meio Ambiente e Temas Especiais do Ministério das Relações
Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado.
O gerente de recursos genéticos
do MMA, Lídio Coradin, disse
que não houve divergências profundas porque a decisão ""não é
nenhuma novidade", se considerado que o Brasil foi para Granada
defendendo a proibição.
O uso da tecnologia "terminator" vai para a pauta da COP entre
hoje e amanhã, mas já é tema de
discussões acaloradas em eventos
paralelos. Em debates no Fórum
Global de Entidades Sociais, ontem pela manhã, a Via Campesina
condenou o uso dessa tecnologia
como "a morte da agricultura tradicional e o controle da fome por
transnacionais". "Nós nos tornaremos escravos dos grandes laboratórios", disse o representante
do México, Alberto Gomes, da
Unorca (União Nacional de Organizações Regionais Campesinas
Autônomas). O temor das organizações não-governamentais é que
essas sementes estéreis contaminem toda a cadeia produtiva.
A empresa americana Delta &
Pine Land -que faz uso dessa
biotecnologia em experimentos
de campo com algodão e soja-
distribuiu um boletim em que
afirma que a geração de plantas
com sementes estéreis é a solução
perfeita para a biossegurança, por
impedir que em espaço mais longo de tempo ocorra o fluxo indesejado de genes de transgênicos
para o cultivo convencional de
alimentos.
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