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São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

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ESPAÇO

Estrelas estudadas por grupo de cientistas europeus podem ser as mais quentes já vistas na vizinhança da Via Láctea

Astrônomos decifram "caldeirões cósmicos"

ESO
Imagens feitas a partir de telescópio europeu instalado no Chile mostram estrelas quentes (em azul) nas Nuvens de Magalhães


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A temperatura do mundo astronômico subiu na semana passada, quando cientistas anunciaram a descoberta daquelas que podem ser as estrelas mais quentes já observadas no Universo próximo.
"De tempos em tempos, você vê pessoas anunciando "a estrela mais maciça", "a mais quente"... Normalmente é porque eles têm dados ruins, por isso não gostamos do vocabulário "a estrela mais alguma coisa'", diz Yaël Nazé, do Instituto de Astrofísica e Geofísica, na Bélgica, uma das autoras da pesquisa. "Mas, com esses dados, muito bons, fomos capazes de mostrar que essas estrelas são muito quentes. Muito provavelmente estão entre as mais quentes de nossa vizinhança."
Vizinhança em termos. Nazé se refere a uma área que compreende a Via Láctea e as galáxias vizinhas, região com raio de milhões de anos-luz (distância que a luz percorre em um ano). As observações, feitas com o ESO (Observatório Europeu do Sul), ajudam a elucidar o mistério de como se formam alguns dos enigmáticos "caldeirões cósmicos" -nebulosas estranhamente quentes e ionizadas (cheias de átomos que perderam ou ganharam elétrons).
Ninguém sabia exatamente qual era o mecanismo para esquentar essas estruturas, mas, ao que parece, essas estrelas gigantescas em sua fase final de vida são as responsáveis. Elas têm massas 20 vezes maiores que a do Sol e temperatura de 90.000C na superfície.
O estudo desses astros, localizados na Pequena e na Grande Nuvem de Magalhães (duas galáxias-satélites da Via Láctea, de menor porte), também deve ajudar na pesquisa de modelos teóricos mais adequados para estrelas muito maciças. "Nossas observações oferecem um limite no fluxo de ultravioleta dessas estrelas. Teorias diferentes predizem diferentes quantidades de ultravioleta, então essas observações podem ajudar a escolher entre diferentes modelos", diz Nazé.
Pouco se sabe sobre o comportamento dessas estrelas enormes. Os astrônomos entendem que são astros de vida curta, medida em uns poucos milhões de anos -o Sol, em contrapartida, deve viver um total de 10 bilhões de anos, dos quais uns cinco já se foram. Mas qualquer outra conclusão é incerta -inclusive sobre seu fim.
"Elas vão se tornar supernovas? É bem possível, mas ainda há algum debate entre os teóricos sobre de que forma exatamente esse tipo de estrela morre", diz Nazé. Determinar isso é importante porque, dependendo da forma de morte, ela pode ter impacto aqui na Terra, mesmo se partir de estrelas não muito próximas.
Alguns cientistas acreditam que a morte dessas estrelas é acompanhada por uma enorme explosão e pela emissão de uma potente forma de radiação -os disparos de raios gama (gamma ray bursts). Se chegasse com força suficiente na Terra, poderia causar distúrbios de aquecimento atmosférico ou mesmo provocar mutações nocivas em seres vivos.


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