São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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ESPAÇO

Composição de astro distante estudado por astrônomos europeus adicionaria até 2 bilhões de anos à idade do cosmo

Universo é mais velho do que aparenta

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Universo pode ser velhinho, mas é bem vaidoso -é difícil para os cientistas descobrir a sua idade real. Para a sorte dos astrônomos, um quasar dedo-duro acaba de revelar que o cosmo é mais velho do que todo mundo pensava. Coisa pouca, só um bilhão de anos ou dois.
Esse é o único jeito de descobrir há quanto tempo o Universo está por aí: perguntar aos astros mais antigos quantos anos eles têm e, a partir disso, calcular quão velho deve ser todo o resto. Os quasares são fontes bem confiáveis, por se tratar de objetos que estão há bilhões de anos-luz da Terra e, portanto, têm idade avançada.
Acredita-se que esses objetos, enormes buracos negros (objetos tão maciços que nada pode escapar deles, nem mesmo a luz) primitivos em torno dos quais se aglomerariam bilhões de estrelas, sejam os precursores das galáxias. Apesar de exóticos, eles emitem radiação quase como uma estrela (daí o nome "quasar", corruptela de objeto "quase-estelar").
As estimativas anteriores davam ao Universo uns 13,5 bilhões a 14 bilhões de anos, mas, pelo visto, elas estavam furadas. O tal quasar dedo-duro está tão distante da Terra que sua luz demora 13 bilhões de anos para chegar ao planeta. Portanto, ele é visto como era há 13 bilhões de anos. Só que, já naquela época, parecia ter uns dois a três bilhões de anos de idade. Em resumo, o Universo deve ter 16 bilhões de anos.
Quem fez a descoberta foi um trio de pesquisadores do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre, na Alemanha, e da Agência Espacial Européia. Eles usaram observações de telescópios de raios X dos EUA e da União Européia para avaliar quanto ferro havia no quasar APM 8279+5255.
Elementos pesados, como o ferro, são úteis para determinar a idade porque eles são produzidos depois da explosão das estrelas -no fenômeno conhecido como supernova- antes de serem incorporados a novos objetos. No caso do APM 8279+5255, a quantidade de ferro presente é duas a cinco vezes maior que a existente no Sol. Para que tanto ferro estivesse ali, seria preciso que estrelas tivessem explodido por pelo menos 2 bilhões a 3 bilhões de anos antes de aquele objeto nascer.
Acontece que, ao confrontar a avaliação da idade do objeto com os modelos atuais do Universo, o grupo flagrou uma discrepância. A distorção que a luz do quasar sofreu no caminho para a Terra (fenômeno conhecido como "redshift") diz que aquele objeto surgiu há 13 bilhões de anos. A maioria dos modelos diz que o Universo surgiu há 14. E aquele objeto, para ser visto do jeito que é, precisa ter surgido no mínimo 2 bilhões de anos antes. Ou seja, estaria faltando aos modelos, por baixo, 1 bilhão de anos.
Ou o método para medir a idade a partir do "redshift" está errado, ou o método para medir o ferro no quasar está errado, ou o Universo tem mesmo uns 16 bilhões de anos. E o trio defende que a opção correta é essa última. "A interpretação espectral com relação ao ferro é garantida. E a idéia de converter "redshift" em distância [e, portanto, idade] é bem justificada", diz Stefanie Komossa, co-autora do estudo, que está para sair no "Astrophysical Journal" (www.jour nals.uchicago.edu/ApJ).
Os resultados favorecem os modelos que levam em conta a presença de uma espécie estranha de energia que está agindo de forma contrária à gravidade e acelerando o ritmo de expansão atual do Universo -a energia escura.


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