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China quer liderar negociações do clima
Premiê Hu Jintao deve anunciar hoje proposta de redução de emissões em cúpula especial da ONU; Lula não participa
Anúncio poderá quebrar
impasse em torno do acordo
de Copenhague e aumentar
pressão sobre os EUA por
compromissos ambiciosos
DA REDAÇÃO
A China deve anunciar hoje
metas de redução de emissões
de gases-estufa, assumindo a liderança na negociação do novo
acordo de proteção do clima, a
ser assinado em Copenhague, e
ajudando a quebrar o impasse
que ameaça afundar o tratado.
O anúncio deverá ser feito
pelo premiê Hu Jintao numa
reunião especial convocada pelo secretário-geral das Nações
Unidas, Ban Ki-moon, na sede
da ONU em Nova York. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
não participará do encontro.
A cúpula de hoje é considerada por Ban a última chance de
mobilizar chefes de Estado para "selar o acordo" (como diz o
slogan adotado pela ONU) em
Copenhague. A 77 dias do encontro, ainda não há consenso
sobre questões fundamentais.
Funcionários do governo
chinês disseram que o país não
assumirá metas absolutas de
corte, mas sim uma meta de
"intensidade de carbono". Ou
seja, os chineses se comprometeriam a diminuir a quantidade
de CO2 emitida por dólar gerado na economia.
Ao lado dos EUA, a China é
hoje o maior poluidor do mundo. Entre 1990 e 2005, suas
emissões cresceram 129%,
quase tudo devido a usinas termelétricas a carvão.
O anúncio deve pôr mais
pressão em cima do maior poluidor histórico, os EUA. O nível de ambição dos chineses e
dos americanos é a chave para
o sucesso em Copenhague. Mas
a meta do governo Barack Obama de redução para 2020, além
de ser considerada pífia (um
corte de no máximo 3% em relação a 1990), depende ainda da
aprovação, pelo Senado, de
uma lei de mudança climática.
Nas últimas semanas, Obama tirou o foco do clima para se
concentrar na reforma do sistema de saúde dos EUA, de difícil aprovação no Congresso. Isso pode pôr em risco a nova lei.
O chefe da Convenção do Clima da ONU, Yvo de Boer, elogiou os chineses. "Esse conjunto de medidas levará a China a
ser um líder mundial na questão da mudança climática, e será bem irônico ouvir isso expresso amanhã [hoje] num país
[os EUA] que tem a firme convicção de que a China não está
fazendo nada contra a mudança climática", disse Boer.
Além de Hu e de Obama, participam da cúpula hoje o presidente francês, Nicolas Sarkozy,
o premiê eleito do Japão, Yukio
Hatoyama, e o premiê da Dinamarca, Lars Rasmussen, além
de líderes de algumas das nações mais vulneráveis ao clima.
Avestruz
O presidente Lula não participará da reunião. Amorim disse que não sabia ao certo qual
havia sido o critério para definição dos países presentes na
cerimônia de abertura, mas que
o que tinha ouvido até agora é
que os países mais poluidores e
os que mais sofrem com danos
ambientais haviam sido convidados (O Brasil é o quinto
maior poluidor). "Achamos que
a participação nas outras mesas
não seria adequada."
Lula também não participará
de um encontro convocado por
Ban sobre desmatamento e
mudanças climáticas amanhã.
Apesar disso, o tema clima
deve integrar o discurso de Lula na abertura da Assembleia
Geral da ONU, amanhã.
O Greenpeace criticou a ausência, lembrando que o premiê do Reino Unido, Gordon
Brown, disse anteontem que
iria a Copenhague e exortou
outros líderes a fazerem o mesmo. "Isso mostra que esse acordo só se resolverá no nível de
chefes de Estado", disse o diretor da ONG, Marcelo Furtado.
"Em vez de usar a oportunidade para mostrar liderança, o
Brasil se faz de avestruz."
Com JANAINA LAGE, de Nova York, Reuters e
"The Independent"
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