São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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China quer liderar negociações do clima

Premiê Hu Jintao deve anunciar hoje proposta de redução de emissões em cúpula especial da ONU; Lula não participa

Anúncio poderá quebrar impasse em torno do acordo de Copenhague e aumentar pressão sobre os EUA por compromissos ambiciosos


DA REDAÇÃO

A China deve anunciar hoje metas de redução de emissões de gases-estufa, assumindo a liderança na negociação do novo acordo de proteção do clima, a ser assinado em Copenhague, e ajudando a quebrar o impasse que ameaça afundar o tratado.
O anúncio deverá ser feito pelo premiê Hu Jintao numa reunião especial convocada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, na sede da ONU em Nova York. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participará do encontro. A cúpula de hoje é considerada por Ban a última chance de mobilizar chefes de Estado para "selar o acordo" (como diz o slogan adotado pela ONU) em Copenhague. A 77 dias do encontro, ainda não há consenso sobre questões fundamentais.
Funcionários do governo chinês disseram que o país não assumirá metas absolutas de corte, mas sim uma meta de "intensidade de carbono". Ou seja, os chineses se comprometeriam a diminuir a quantidade de CO2 emitida por dólar gerado na economia. Ao lado dos EUA, a China é hoje o maior poluidor do mundo. Entre 1990 e 2005, suas emissões cresceram 129%, quase tudo devido a usinas termelétricas a carvão.
O anúncio deve pôr mais pressão em cima do maior poluidor histórico, os EUA. O nível de ambição dos chineses e dos americanos é a chave para o sucesso em Copenhague. Mas a meta do governo Barack Obama de redução para 2020, além de ser considerada pífia (um corte de no máximo 3% em relação a 1990), depende ainda da aprovação, pelo Senado, de uma lei de mudança climática.
Nas últimas semanas, Obama tirou o foco do clima para se concentrar na reforma do sistema de saúde dos EUA, de difícil aprovação no Congresso. Isso pode pôr em risco a nova lei. O chefe da Convenção do Clima da ONU, Yvo de Boer, elogiou os chineses. "Esse conjunto de medidas levará a China a ser um líder mundial na questão da mudança climática, e será bem irônico ouvir isso expresso amanhã [hoje] num país [os EUA] que tem a firme convicção de que a China não está fazendo nada contra a mudança climática", disse Boer. Além de Hu e de Obama, participam da cúpula hoje o presidente francês, Nicolas Sarkozy, o premiê eleito do Japão, Yukio Hatoyama, e o premiê da Dinamarca, Lars Rasmussen, além de líderes de algumas das nações mais vulneráveis ao clima.

Avestruz
O presidente Lula não participará da reunião. Amorim disse que não sabia ao certo qual havia sido o critério para definição dos países presentes na cerimônia de abertura, mas que o que tinha ouvido até agora é que os países mais poluidores e os que mais sofrem com danos ambientais haviam sido convidados (O Brasil é o quinto maior poluidor). "Achamos que a participação nas outras mesas não seria adequada."
Lula também não participará de um encontro convocado por Ban sobre desmatamento e mudanças climáticas amanhã. Apesar disso, o tema clima deve integrar o discurso de Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU, amanhã.
O Greenpeace criticou a ausência, lembrando que o premiê do Reino Unido, Gordon Brown, disse anteontem que iria a Copenhague e exortou outros líderes a fazerem o mesmo. "Isso mostra que esse acordo só se resolverá no nível de chefes de Estado", disse o diretor da ONG, Marcelo Furtado. "Em vez de usar a oportunidade para mostrar liderança, o Brasil se faz de avestruz."

Com JANAINA LAGE, de Nova York, Reuters e "The Independent"



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