São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Bactéria da Peste Negra pode ter matado pesquisador americano

Cientista da Universidade de Chicago estudava forma mais fraca do micróbio

CDC/Divulgação
Yersinia pestis, que ainda mata milhares em países pobres

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um assassino microscópico que parecia ser coisa da Idade Média (ao menos no Primeiro Mundo) pode ter matado o geneticista Malcolm Casadaban, 60, que estudava a bactéria da peste bubônica na Universidade de Chicago. Internado no último dia 13 com dificuldades respiratórias, ele morreu logo depois, e seu sangue apresentava traços da Yersinia pestis.
O governo americano mandou cientistas até Chicago para entender as circunstâncias da morte de Casadaban. Segundo comunicado da universidade, o pesquisador trabalhava com uma forma menos agressiva da bactéria, que pode até ser usada para vacinar pessoas.
A Y. pestis é a principal suspeita de ter causado a Peste Negra, epidemia que matou cerca de um terço da população da Europa no século 14. Cerca de 3.000 mortes ainda ocorrem ao ano no mundo, em especial nos países mais pobres, mas mesmo no Primeiro Mundo roedores silvestres ainda são reservatórios da bactéria.
"Justamente por causa da presença nos roedores é quase impossível erradicar a doença", explica Alzira Paiva de Almeida, pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Pernambuco e coordenadora do Serviço de Referência Nacional de Peste. O último caso humano no país foi registrado em 2005, diz ela, mas a vigilância ainda é indispensável.

Sem pânico
Cerca de uma centena de familiares, amigos e colaboradores de Malcolm receberam antibióticos como medida de precaução. No entanto, não houve mais casos da doença em Chicago, e a janela de incubação da bactéria caso a transmissão tivesse ocorrido -uma demora entre dois e seis dias até que os sintomas apareçam- está prestes a terminar.
O clima na universidade é relativamente tranquilo, contam cientistas brasileiros que trabalham lá. "Sinceramente não fiquei assustado", diz Igor Schneider, embriologista paraense que faz seu pós-doutorado na instituição. Schneider conta que a rotina do campus não mudou. "Tem cerimônia de graduação acontecendo hoje [ontem] e está cheio de pais de alunos por aqui", afirma.
O pernambucano Marcelo Nóbrega, professor de genética humana, relata um ambiente um pouco menos tranquilo, em parte porque seu laboratório fica no mesmo prédio onde trabalhava Casadaban. "As instalações dele são no térreo do prédio, perto do elevador, um lugar por onde todo mundo passava, então as pessoas estão preocupadas", conta Nóbrega.
"Espalharam cartazes sobre o que aconteceu pelo prédio, assim como higienizadores para as mãos", diz o pesquisador.
Para Alzira Almeida, uma das possibilidades para a contaminação do pesquisador seria o descuido com a segurança. "Um corte na mão ou o contato das mãos com a mucosa do olho poderia levar a uma infecção direta da corrente sanguínea, com efeitos fulminantes", diz ela. "Mas seria estranho que um cientista experiente como ele cometesse esse tipo de descuido", afirma. Outra hipótese envolveria a troca da cepa mais leve da bactéria pela sua versão mais agressiva. "Também seria um erro estranho", ressalva Almeida, para quem há pouco risco de novas infecções. "Parece que apenas ele foi atingido, talvez por estar com o organismo debilitado", avalia.

Com Associated Press



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