São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2000

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AMBIENTE
Relatório de ONG e Banco Mundial conclui que 83% da região recebe chuvas demais para agropecuária rentável
Amazônia tem vocação florestal, diz estudo

Reuters - 07.out.1999
Madeireiro marca toras extraídas de floresta certificada para manejo sustentável no Amazonas


MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIA

Afirmar que a Amazônia tem vocação florestal parece obviedade. Não é, como provam três décadas de tentativas frustradas de ocupá-la com agropecuária tradicional. Quem sabe agora, com um estudo chancelado pelo Banco Mundial, o país se convence de que a extração de madeira não é pecado e pode ser a salvação.
O relatório, obtido com exclusividade pela Folha, conclui que 83% dos mais de 5 milhões de km2 da Amazônia são imprestáveis para o plantio de grãos e para o gado. Já se desconfiava disso, por conta dos solos pobres predominantes. A novidade apontada no estudo é que as chuvas são as maiores culpadas pelos muitos fracassos agrícolas na região.
Nas regiões mais úmidas, a taxa de abandono da terra anteriormente cultivada chega a mais de 20%, constatou o estudo.
"A chuva teve um impacto, como variável, muito maior do que a gente previa", afirma o agrônomo Adalberto Veríssimo, do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), um dos autores. O excesso de precipitação era "uma hipótese que ninguém ainda havia testado".
Segundo Beto Veríssimo, como é mais conhecido no mundo das ONGs e das instituições multilaterais, a correlação entre pluviosidade e rendimento agrícola "deu charme e elegância ao trabalho".
Para chegar a essa conclusão, a equipe primeiro dividiu a Amazônia em três grandes regiões -úmida, de transição e seca (veja o primeiro mapa abaixo, à direita). Em seguida, cruzou essa informação com dados do Censo Agropecuário 1995-96, do IBGE.
Verificou-se que, até 1.800 mm de chuvas por ano (região seca, na definição do estudo, ou 17% da Amazônia), algo entre 30% e 40% da terra é destinada à agricultura. Acima disso, nas zonas de transição e úmida, essa taxa de ocupação começa a cair vertiginosamente. A partir de 2.200 mm, despenca para 5%.
No caso da pecuária, a atividade mais importante, obtém-se uma taxa de retorno de apenas 4,2%, considerada muito baixa. Nas melhores áreas, não passa de 13%. A lotação média é de apenas 0,7 cabeça de gado por hectare, ressalta o estudo, gerando meros 118 mil empregos permanentes.

Na Internet
O título do texto é enorme: "Manejo Florestal Sustentável, Mudanças Econômicas no Uso do Solo e Implicações para Políticas Públicas na Amazônia". Deve ser posto à disposição do público, pela Internet, dentro de um mês.
Além de Robert Schneider, do setor ambiental do escritório do Banco Mundial em Brasília, participaram pesquisadores do Imazon, uma ONG de pesquisa com sede em Belém do Pará. São eles: Eugênio Arima, Adalberto Veríssimo, Paulo Barreto e Carlos Souza Júnior. O trabalho consumiu um ano, informa Veríssimo.
É a primeira vez que o Banco Mundial faz um estudo no Brasil em parceria com uma ONG.


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