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Madeira gera mais empregos
DA REDAÇÃO
Comparada com os 4,2% da pecuária, a taxa de retorno de 122%
da extração de madeira verificada
no estudo do Banco Mundial e do
Imazon parece um paraíso. Não é,
tampouco. Feita de modo predatório, como hoje, é o motor primário da destruição amazônica.
Mesmo nessa forma selvagem,
o setor já é responsável por 15%
do produto interno dos Estados
Pará, Mato Grosso e Rondônia.
Isso corresponde a cerca de 500
mil empregos diretos e indiretos,
calcula Adalberto Veríssimo.
O problema é que, esgotadas as
madeiras de maior valor, os madeireiros partem para áreas novas. Deixam atrás de si um rastro
de destruição e comunidades depauperadas, dependentes de uma
agricultura sem futuro e de uma
pecuária de baixo rendimento.
É o ciclo conhecido como
"boom-bust" (crescimento explosivo seguido de colapso).
A recomendação do relatório é,
em certo sentido, antiliberal: disciplinar o mercado. Em poucas
palavras, mais ação do governo,
criando 700 mil km2 de florestas
de uso econômico.
"O mercado não promoverá o
desenvolvimento da Amazônia
de acordo com o interesse amplo
da sociedade brasileira, uma vez
que os benefícios de curto prazo
do modelo de uso predatório dos
recursos naturais são maiores do
que os retornos do uso sustentável", conclui o sumário executivo
do documento.
De fato, os dados compilados
no relatório indicam que é bem
menor o retorno das poucas experiências feitas na Amazônia
com manejo sustentável de florestas para extração de madeiras. Algo da ordem de 71%, contra os
122% da mesma atividade realizada sem planejamento e controle.
Ainda assim, trata-se de um desempenho muito superior ao da
pecuária que se instala após o
boom madeireiro. É o que trata de
demonstrar a parte mais engenhosa do trabalho.
Com base nos dados do Censo
Agropecuário e de outros estudos
do Imazon e do Banco Mundial, o
grupo simulou o que aconteceria
com um município fictício na
Amazônia úmida, com 1 milhão
de hectares de floresta densa. A
idéia era comparar a extração de
madeira do tipo "boom-bust"
com o manejo racional.
No primeiro caso, a atividade
econômica cresce rápido nos oito
primeiros anos, mas começa a declinar quando escasseiam as árvores de alto valor. Após 20 anos,
mesmo as de baixo valor já estão
exauridas. A renda bruta da atividade, que alcança US$ 100 milhões no oitavo ano, despenca para US$ 5 milhões no 23º.
No caso do manejo sustentável,
a renda nunca alcança US$ 100
milhões. Fica em US$ 70-80 milhões, pela simulação, mas de modo sustentável. Não cai mais.
Com relação ao emprego, ocorre algo semelhante. De início, as
duas formas de exploração empregam número equivalente de
pessoas. Após o oitavo ano, a atividade predatória chega a empregar 4.500, mais que o manejo
(3.500), mas no final deixa apenas
500 empregados na pecuária,
quando migra para outro município. Em contrapartida, estima-se
que os 3.500 do manejo seriam
mantidos indefinidamente.
Metas do governo
Na realidade, o que o relatório
do Banco Mundial e do Imazon
propõem é a extensão do que já é
meta do governo federal. No Programa Nacional de Florestas
anunciado mês passado, a administração FHC fixou a meta de
criar 500 mil km2 de florestas nacionais (Flonas), ou mesmo estaduais, de exploração.
Como o estudo fala em 700 mil
km2, não parece muito mais
-mas é. Hoje existem apenas 83
mil km2. "Se criar 500 mil km2, podemos soltar foguetes", diz Veríssimo, do Imazon. Só a Flona Tapajós tem um projeto-piloto de
manejo sustentável, o restante
não é explorado.
De todo modo, a criação de Flonas não envolveria grande investimento. Muitas das áreas indicadas pelo estudo (veja mapa) com
potencial madeireiro são terras
devolutas, ou áreas designadas
como de interesse para reforma
agrária (um contra-senso, dado
que as condições climáticas são
adversas para a agricultura).
"A primeira mensagem desse
trabalho é: não façam assentamentos aqui, não há vocação agrícola", diz Veríssimo.
(ML)
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