São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2000

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Madeira gera mais empregos

DA REDAÇÃO

Comparada com os 4,2% da pecuária, a taxa de retorno de 122% da extração de madeira verificada no estudo do Banco Mundial e do Imazon parece um paraíso. Não é, tampouco. Feita de modo predatório, como hoje, é o motor primário da destruição amazônica.
Mesmo nessa forma selvagem, o setor já é responsável por 15% do produto interno dos Estados Pará, Mato Grosso e Rondônia. Isso corresponde a cerca de 500 mil empregos diretos e indiretos, calcula Adalberto Veríssimo.
O problema é que, esgotadas as madeiras de maior valor, os madeireiros partem para áreas novas. Deixam atrás de si um rastro de destruição e comunidades depauperadas, dependentes de uma agricultura sem futuro e de uma pecuária de baixo rendimento.
É o ciclo conhecido como "boom-bust" (crescimento explosivo seguido de colapso).
A recomendação do relatório é, em certo sentido, antiliberal: disciplinar o mercado. Em poucas palavras, mais ação do governo, criando 700 mil km2 de florestas de uso econômico.
"O mercado não promoverá o desenvolvimento da Amazônia de acordo com o interesse amplo da sociedade brasileira, uma vez que os benefícios de curto prazo do modelo de uso predatório dos recursos naturais são maiores do que os retornos do uso sustentável", conclui o sumário executivo do documento.
De fato, os dados compilados no relatório indicam que é bem menor o retorno das poucas experiências feitas na Amazônia com manejo sustentável de florestas para extração de madeiras. Algo da ordem de 71%, contra os 122% da mesma atividade realizada sem planejamento e controle.
Ainda assim, trata-se de um desempenho muito superior ao da pecuária que se instala após o boom madeireiro. É o que trata de demonstrar a parte mais engenhosa do trabalho.
Com base nos dados do Censo Agropecuário e de outros estudos do Imazon e do Banco Mundial, o grupo simulou o que aconteceria com um município fictício na Amazônia úmida, com 1 milhão de hectares de floresta densa. A idéia era comparar a extração de madeira do tipo "boom-bust" com o manejo racional.
No primeiro caso, a atividade econômica cresce rápido nos oito primeiros anos, mas começa a declinar quando escasseiam as árvores de alto valor. Após 20 anos, mesmo as de baixo valor já estão exauridas. A renda bruta da atividade, que alcança US$ 100 milhões no oitavo ano, despenca para US$ 5 milhões no 23º.
No caso do manejo sustentável, a renda nunca alcança US$ 100 milhões. Fica em US$ 70-80 milhões, pela simulação, mas de modo sustentável. Não cai mais.
Com relação ao emprego, ocorre algo semelhante. De início, as duas formas de exploração empregam número equivalente de pessoas. Após o oitavo ano, a atividade predatória chega a empregar 4.500, mais que o manejo (3.500), mas no final deixa apenas 500 empregados na pecuária, quando migra para outro município. Em contrapartida, estima-se que os 3.500 do manejo seriam mantidos indefinidamente.

Metas do governo
Na realidade, o que o relatório do Banco Mundial e do Imazon propõem é a extensão do que já é meta do governo federal. No Programa Nacional de Florestas anunciado mês passado, a administração FHC fixou a meta de criar 500 mil km2 de florestas nacionais (Flonas), ou mesmo estaduais, de exploração.
Como o estudo fala em 700 mil km2, não parece muito mais -mas é. Hoje existem apenas 83 mil km2. "Se criar 500 mil km2, podemos soltar foguetes", diz Veríssimo, do Imazon. Só a Flona Tapajós tem um projeto-piloto de manejo sustentável, o restante não é explorado.
De todo modo, a criação de Flonas não envolveria grande investimento. Muitas das áreas indicadas pelo estudo (veja mapa) com potencial madeireiro são terras devolutas, ou áreas designadas como de interesse para reforma agrária (um contra-senso, dado que as condições climáticas são adversas para a agricultura).
"A primeira mensagem desse trabalho é: não façam assentamentos aqui, não há vocação agrícola", diz Veríssimo. (ML)



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