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BIOTECNOLOGIA
Cientista dos EUA que brilhou com o genoma humano agora promete construir versão minimalista de micróbio
Venter quer refazer bactéria com US$ 3 mi
MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIA
Craig Venter está de volta à praça, agora com a promessa de criar
uma nova forma de vida. O cientista-empresário que antecipara
em quatro anos o genoma humano anunciou que conseguiu verba
de US$ 3 milhões do governo
americano para tentar construir
em três anos uma bactéria com o
menor conjunto de genes sintéticos necessário para mantê-la viva.
O anúncio oficial foi feito ontem
por seu recém-criado Instituto
para Alternativas Biológicas de
Energia (Ibea, na abreviação em
inglês). Quando o comunicado à
imprensa foi distribuído, a pesquisa já circulava nas páginas do
jornal "The Washington Post".
São somente planos, mas planos
de Venter acabam virando notícia, depois que a empresa por ele
criada, a Celera, prometeu e cumpriu sequenciar (soletrar) em
questão de meses todos os caracteres contidos no DNA da espécie
humana. E Venter anda necessitado de notícias, agora que não é
mais o presidente da Celera.
Mesmo não passando de intenção, a bactéria sintética de Venter
mira dois alvos de grande repercussão: energia e guerra biológica.
Uma idéia é pôr o micróbio básico para produzir hidrogênio, cuja
queima para obtenção de energia
não causa problemas ambientais
como os derivados de petróleo.
"Com o consumo de combustíveis fósseis continuando a crescer
e com o sério dano ambiental a
nosso planeta, é imperativo explorar alternativas para minimizar essa situação", disse Venter no
comunicado do Ibea. A justificativa também serve para explicar
por que os US$ 3 milhões saíram
do Departamento de Energia.
O cientista-empresário ainda se
disse preocupado com aplicações
maléficas de sua pesquisa, como o
desenvolvimento de novos agentes microbianos para bioterrorismo: "Poderemos não divulgar todos os detalhes, que possam ensinar outras pessoas a fazer isso".
Genoma mínimo
Na realidade, de novo só há a
verba aprovada. O conceito de genoma mínimo já havia sido posto
em circulação por Venter e sua
mulher, Claire Fraser, anos atrás,
após terem sequenciado (soletrado) o DNA do microrganismo
Mycoplasma genitalium.
Seu parceiro na nova empreitada é Hamilton O. Smith, Nobel de
Medicina de 1978 por ter sido um
dos descobridores das enzimas de
restrição (espécie de tesoura molecular para cortar a molécula de
DNA em pontos determinados,
base da engenharia genética). Eles
pretendem retirar do micróbio
todos os seus 517 genes normais
-o menor genoma conhecido-
e devolver-lhe um conjunto sintetizado, com algo entre 265 e 350
genes (o genoma humano deve
ter entre 30 mil e 80 mil).
O tamanho exato do genoma
mínimo para o M. genitalium
ainda tem de ser determinado, o
que Venter e Smith planejam fazer montando primeiro num
computador a rede de interações
bioquímicas imprescindíveis para
a bactéria viver. O passo seguinte
seria sintetizar a sequência correspondente de DNA, na forma
de cromossomo artificial, e injetá-lo em espécimes do micróbio desprovidos dos genes originais.
Quem acompanha o avanço da
genética pode ter dúvidas quanto
a isso ser factível, em três anos,
mesmo para gênios de laboratório como Venter e Smith. Se der
certo, o microrganismo minimalista poderia ser geneticamente
manipulado e ganhar características desejadas, uma por vez.
Para evitar problemas de segurança, como a produção de um
parasita novo para a espécie humana, os cientistas do Ibea prometem retirar do seu micróbio reconstruído todos os genes que
acreditam necessários para que
ele sobreviva fora do laboratório.
Com agências internacionais
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