São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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EVOLUÇÃO

Dois estudos mostram que domesticação ocorreu pela primeira vez há 15 mil anos, na região leste do continente

Todos os cães saíram da Ásia com o homem

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Seja um poodle ou um pitbull, um cocker spaniel ou um dinamarquês, o seu cachorro e os dos seus amigos têm uma origem comum: todos eles descendem de lobos domesticados pela primeira vez no leste da Ásia, há possivelmente meros 15 mil anos.
"Meros" porque esse período é muito curto em termos de evolução. Os primeiros animais aparentados com os cachorros modernos -os primeiros canídeos-, foram identificados em fósseis de 37 milhões de anos achados na América do Norte e aparecem na forma de fósseis na Europa há 7 milhões de anos.
Apesar de os lobos já estarem no continente americano há dezenas de milhares de anos, os cachorros modernos só fizeram a viagem de volta da Eurásia às Américas entre 12 mil e 14 mil anos atrás, acompanhando levas migratórias humanas.
Dois estudos sobre o material genético dos cães publicados hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org) revelaram que, diferentemente do que indicavam os achados arqueológicos, os primeiros cães domésticos surgiram no Extremo Oriente, e não no Oriente Médio. E que, apesar da sua longa permanência nas Américas, a grande maioria dos cães do continente veio mesmo da Europa depois da "descoberta" de Cristóvão Colombo, em 1492.
Um dos estudos, feito por cientistas suecos e chineses, envolveu a análise do DNA de cachorros de várias partes do planeta. A equipe de Peter Savolainen, do Instituto Real de Tecnologia, de Estocolmo, Suécia, constatou que a diversidade genética era maior entre os cães do leste asiático. Isso indicaria que a domesticação ali seria mais antiga, apesar de mais fósseis de cães domésticos terem sido achados no Oriente Médio.
Como também havia lobos selvagens nas Américas antes da chegada dos humanos, outros cientistas quiseram testar as hipóteses de como e quando teria ocorrido a domesticação no novo continente. Teria havido uma domesticação independente, ou os cães vieram junto com as migrações humanas via estreito de Bering, entre Rússia e Alasca?

Cães indígenas
Jennifer Leonard, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e colegas de instituições do Peru e do México procuraram verificar o material genético de raças de cachorro sabidamente anteriores à chegada dos europeus.
A análise levou a duas conclusões: primeiro, as raças indígenas são tão parecidas com as asiáticas que permitem supor que os cães tenham chegado já domesticados ao continente. Depois, havia diferenças que indicavam que as raças hoje comuns na América têm mais em comum com cães trazidos pelos colonos europeus.
As diferenças entre as raças caninas atuais -do lulu-da-Pomerânia ao pastor alemão- são todas resultados de cruzamentos seletivos nos últimos 500 anos. E todos esses bichos com o nome científico Canis familiaris descendem do lobo -o Canis lupus.
A rapidez da disseminação dos cachorros com seus donos humanos indica que eles deviam ser particularmente úteis aos primitivos caçadores-coletores.
Os estudos envolveram análise do DNA de uma estrutura das células, as mitocôndrias, que é transmitido apenas pelas mães. Computando semelhanças e diferenças, os cientistas estimaram que a domesticação deve ter ocorrido 15 mil anos atrás, embora também possa ter acontecido antes (há 40 mil anos).


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