São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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Fezes fossilizadas podem revelar elos entre humanos e neandertais

DO ENVIADO A SEATTLE (EUA)

Para um desavisado parece até obsessão freudiana, mas Hendrik Poynar está pedindo a todos os seus conhecidos a maior quantidade de fezes possível -quanto mais velhas, melhores. Bioantropólogo da Universidade MacMaster, no Canadá, está prestes a investigar a relação entre neandertais e humanos modernos olhando não para seus crânios, mas para o que eles defecavam -e para as moléculas que podem contar a história deles, ocultas ali dentro.
"Estamos recolhendo amostras de coprólitos [fezes fossilizadas] de duas cavernas em Israel com 40 mil anos, onde provavelmente Cro-Magnons [os primeiros humanos modernos] e neandertais viveram lado a lado", contou o pesquisador durante a reunião da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência).
Dadas as características muito especiais de preservação que as fezes podem alcançar, há grandes chances de elas terem preservado mais DNA do que o que se pode extrair de ossos, bem como proteínas e outras moléculas. Poynar pretende usar esse material, que segundo ele tende a ter aparência e consistência de chocolate, para extrair o máximo de informação possível sobre os dois grupos de humanos que habitaram a Palestina no fim da Era do Gelo.
Os sedimentos da caverna, que formam uma impressionante série temporal que vai até 150 mil anos atrás, também vão ser peneirados. "Depois disso, o que você faz é basicamente sequenciar tudo o que está ali e examinar toda a cadeia de relações alimentares, ecológicas e de parentesco das pessoas e animais que habitaram a caverna", afirma.
Poynar também disse estar apostando todas as suas fichas para a melhor compreensão da evolução humana na chamada paleoproteômica -o estudo das proteínas em fósseis. (RJL)


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