|
Próximo Texto | Índice
TECNOLOGIA
Software desenvolvido por inventor britânico finge ser criança em bate-papo para flagrar possíveis aliciadores
Babá-robô combate pedófilos na internet
DUNCAN GRAHAM-ROWE
DA "NEW SCIENTIST"
Pedófilos que tentam aliciar
crianças em salas de bate-papo na
internet poderão ser detectados
por um programa de computador. O software cria uma impressão convincente de que se trata de
um jovem que participa de uma
conversa na sala de bate-papo.
O programa de computador
analisa, ao mesmo tempo, a personalidade da pessoa com quem
está conversando, em busca dos
sinais clássicos desse tipo de aliciamento: pedófilos se fazem passar por crianças, quando tentam
marcar encontros com os jovens
com quem travam amizade.
Chamado de "ChatNannies"
[babás de bate-papo], o software
foi desenvolvido no Reino Unido
por Jim Wightman, um consultor
de tecnologias da informação de
Wolverhampton. O programa
cria milhares de subprogramas
chamados de "nanniebots" [babás-robôs], que entram em várias
salas de bate-papo.
Se uma babá-robô detecta alguma atividade suspeita, envia um
alerta para Wightman e uma
mensagem com a transcrição da
conversa. Se o consultor considerar a transcrição suspeita, ele entra em contato com o setor policial encarregado e lhe fornece o e-mail do usuário suspeito.
Segundo Wightman, algumas
dicas de seu software já levaram a
investigações policiais. A "New
Scientist", porém, não conseguiu
verificar essa alegação.
As babás-robôs são tão boas em
se fazer passar por jovens que se
tornam quase indistinguíveis deles. Em conversas com uns 2.000
freqüentadores de salas de bate-papo, nenhum deles desconfiou
das babás-robôs, diz Wightman.
Robôs conversadores dificilmente distinguíveis de pessoas foram previstos pelo pioneiro da
computação Alan Turing já em
1950, afirma Aaron Sloman, um
especialista em inteligência artificial da Universidade de Birmingham (Reino Unido).
Sloman não se mostra, portanto, muito surpreso com o fato de
esses robôs serem tão convincentes, especialmente porque sua
conversação fica restrita a um tópico limitado -e é relativamente
curta. "Não seria muito difícil para um robô conversador se parecer com um participante comum
de salas de bate-papo para os outros usuários, que nem estão à sua
espreita", afirma.
Remontando frases
Para conversar de maneira realista, ChatNannies analisa as sentenças que outros usuários digitam, divide-as em frases verbais e
nominais e as compara com
aquelas em sentenças que já tenha
encontrado antes.
O software inclui um programa
de rede neural que acumula continuamente conhecimento sobre
como as pessoas usam a linguagem. Ele usa então essa informação para gerar padrões de resposta mais realistas e plausíveis.
Um de seus truques é usar a
própria internet como recurso
para se informar sobre a cultura
pop. Wightman não revela como
ele avalia o que é informação relevante e o que não é. Afirma, porém, que cada robô tem dúzias de
parâmetros que são mobilizados
aleatoriamente, para dotar cada
um de uma "personalidade".
"Se esse software funcionar, será maravilhoso, porque não há
nada parecido por aí", diz Chris
Atkinson, o encarregado de segurança na internet da Sociedade
Nacional para a Prevenção da
Crueldade contra Crianças, do
Reino Unido. Mas ela avisa que os
pedófilos podem se mostrar mais
espertos que o programa.
"A atividade de aliciamento que
tenho visto não necessariamente
é sexual", diz ela.
Para Wightman, no entanto,
ChatNannies é sofisticado o bastante para buscar sinais menos
óbvios de que algo esteja errado.
Ele também está atento a inconsistências denunciadoras de um
adulto que se passa por criança.
Wightman tem no momento
100 mil robôs tagarelando incógnitos em salas de bate-papo -é o
máximo que ele pode gerar com
os quatro servidores de que dispõe em seu escritório de consultoria. Diz que gostaria de construir
mais, mas financiamento é a sua
limitação, pois afirma que não
pretende ver ninguém tirando lucro de sua tecnologia.
"Algumas empresas ofereceram
somas fantásticas em dinheiro,
mas todas querem ter propriedade da tecnologia. E isso é algo que
não vai acontecer", diz.
Em lugar disso, ele diz ter esperança de, no final, obter financiamento de organizações governamentais cujo foco seja a proteção
de crianças.
Próximo Texto: Astronomia: Cinco planetas visíveis a olho nu formam uma fila no céu noturno Índice
|