São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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TECNOLOGIA

Software desenvolvido por inventor britânico finge ser criança em bate-papo para flagrar possíveis aliciadores

Babá-robô combate pedófilos na internet

DUNCAN GRAHAM-ROWE
DA "NEW SCIENTIST"

Pedófilos que tentam aliciar crianças em salas de bate-papo na internet poderão ser detectados por um programa de computador. O software cria uma impressão convincente de que se trata de um jovem que participa de uma conversa na sala de bate-papo.
O programa de computador analisa, ao mesmo tempo, a personalidade da pessoa com quem está conversando, em busca dos sinais clássicos desse tipo de aliciamento: pedófilos se fazem passar por crianças, quando tentam marcar encontros com os jovens com quem travam amizade.
Chamado de "ChatNannies" [babás de bate-papo], o software foi desenvolvido no Reino Unido por Jim Wightman, um consultor de tecnologias da informação de Wolverhampton. O programa cria milhares de subprogramas chamados de "nanniebots" [babás-robôs], que entram em várias salas de bate-papo.
Se uma babá-robô detecta alguma atividade suspeita, envia um alerta para Wightman e uma mensagem com a transcrição da conversa. Se o consultor considerar a transcrição suspeita, ele entra em contato com o setor policial encarregado e lhe fornece o e-mail do usuário suspeito.
Segundo Wightman, algumas dicas de seu software já levaram a investigações policiais. A "New Scientist", porém, não conseguiu verificar essa alegação.
As babás-robôs são tão boas em se fazer passar por jovens que se tornam quase indistinguíveis deles. Em conversas com uns 2.000 freqüentadores de salas de bate-papo, nenhum deles desconfiou das babás-robôs, diz Wightman.
Robôs conversadores dificilmente distinguíveis de pessoas foram previstos pelo pioneiro da computação Alan Turing já em 1950, afirma Aaron Sloman, um especialista em inteligência artificial da Universidade de Birmingham (Reino Unido).
Sloman não se mostra, portanto, muito surpreso com o fato de esses robôs serem tão convincentes, especialmente porque sua conversação fica restrita a um tópico limitado -e é relativamente curta. "Não seria muito difícil para um robô conversador se parecer com um participante comum de salas de bate-papo para os outros usuários, que nem estão à sua espreita", afirma.

Remontando frases
Para conversar de maneira realista, ChatNannies analisa as sentenças que outros usuários digitam, divide-as em frases verbais e nominais e as compara com aquelas em sentenças que já tenha encontrado antes.
O software inclui um programa de rede neural que acumula continuamente conhecimento sobre como as pessoas usam a linguagem. Ele usa então essa informação para gerar padrões de resposta mais realistas e plausíveis.
Um de seus truques é usar a própria internet como recurso para se informar sobre a cultura pop. Wightman não revela como ele avalia o que é informação relevante e o que não é. Afirma, porém, que cada robô tem dúzias de parâmetros que são mobilizados aleatoriamente, para dotar cada um de uma "personalidade".
"Se esse software funcionar, será maravilhoso, porque não há nada parecido por aí", diz Chris Atkinson, o encarregado de segurança na internet da Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade contra Crianças, do Reino Unido. Mas ela avisa que os pedófilos podem se mostrar mais espertos que o programa.
"A atividade de aliciamento que tenho visto não necessariamente é sexual", diz ela.
Para Wightman, no entanto, ChatNannies é sofisticado o bastante para buscar sinais menos óbvios de que algo esteja errado. Ele também está atento a inconsistências denunciadoras de um adulto que se passa por criança.
Wightman tem no momento 100 mil robôs tagarelando incógnitos em salas de bate-papo -é o máximo que ele pode gerar com os quatro servidores de que dispõe em seu escritório de consultoria. Diz que gostaria de construir mais, mas financiamento é a sua limitação, pois afirma que não pretende ver ninguém tirando lucro de sua tecnologia.
"Algumas empresas ofereceram somas fantásticas em dinheiro, mas todas querem ter propriedade da tecnologia. E isso é algo que não vai acontecer", diz.
Em lugar disso, ele diz ter esperança de, no final, obter financiamento de organizações governamentais cujo foco seja a proteção de crianças.


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