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HISTÓRIA
Habitantes da Papua-Nova Guiné conceberam técnicas agrícolas e podem ter sido os primeiros a cultivar banana
Oceania tinha agricultura há 7.000 anos
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Eles nunca construíram pirâmides e nunca escreveram em tabletes de argila. Têm uma organização social tão rudimentar que
costumam ser retratados no Ocidente como o arquétipo do povo
primitivo. Mas os papuanos, nativos de Papua-Nova Guiné, merecem bem mais consideração. Afinal, eles inventaram a agricultura,
7.000 anos atrás. E podem ter dado ao mundo a banana.
Não é que os habitantes dessa
grande ilha ao norte da Austrália
tenham sido os únicos pioneiros.
A agricultura foi inventada independentemente no Oriente Médio, na China, na América do Sul e
no leste dos EUA.
Mas um grupo de pesquisadores australianos acaba de adicionar a Nova Guiné à lista dos berços dessa inovação, que mudou
definitivamente o mundo na pré-história. Seu trabalho confirma
algo de que os arqueólogos brasileiros já desconfiavam: o cultivo
de plantas não está necessariamente ligado ao surgimento de
grandes civilizações.
Diferentes rotas
"A agricultura antiga e independente é frequentemente ligada a
grandes expansões demográficas,
estratificação social e à ascensão
da "civilização'; nada disso é típico
das sociedades da Nova Guiné,
presentes ou passadas", afirmam
na última edição da revista
"Science" (www.sciencemag.org) os pesquisadores, liderados
por Tim Denham, da Universidade Flinders, em Adelaide.
Evidências do cultivo de plantas
na Nova Guiné são conhecidas
dos arqueólogos desde a década
de 60. Os antigos habitantes da
ilha plantavam banana, "taro"
(um tipo de inhame) e cana-de-açúcar, até verem a base de sua
dieta substituída pela batata-doce
-originária do Brasil e levada da
América do Sul pelos colonizadores europeus- há 300 anos.
No entanto, até agora acreditava-se que a Nova Guiné fosse apenas uma zona de influência gastronômica do sudeste asiático, local em que os primeiros cultivos
teriam começado e daí se espalhado pela Ásia e pela Oceania.
O primeiro a desconfiar dessa
posição de satélite foi o arqueólogo australiano Jack Golson. Em
1977, ele encontrou no sítio de
Kuk, na região montanhosa do
vale de Waghi, evidências de canais escavados por plantadores de
tubérculos com 9.000 anos. Suas
descobertas nunca chegaram a ser
totalmente confirmadas.
O grupo de Denhan voltou a escavar em Kuk usando ferramentas mais modernas. Eles coletaram mais de 20 amostras de várias
camadas de solo do sítio, a fim de
descobrir quando a floresta fora
destruída e se seres humanos tiveram culpa no cartório -afinal,
incêndios espontâneos têm o potencial de provocar a mudança.
Também procuraram amostras
de fitólitos, cristais microscópicos
que se formam nas plantas e que
ficam no solo depois que o vegetal
apodrece. Cada planta tem um tipo diferente de fitólito, que acaba
servindo de assinatura da presença de uma espécie no solo.
Pais da banana
As análises do sítio e a datação
de material orgânico coletado pelo método do radiocarbono mostraram que a ocupação humana
no começo do Período Holoceno
(a partir de 12.000 anos atrás) foi
mesmo a causa da destruição da
floresta em Kuk. Buracos e marcas de canais indicam, como sugerira Golson, que há cerca de
10.000 anos os papuanos, então
caçadores-coletores, começaram
a selecionar plantas de interesse,
como o "taro". Nessa mesma época, os povos da Mesopotâmia começavam a domesticar o trigo.
O plantio sistemático propriamente dito teria começado há cerca de 7.000 anos. E uma surpresa:
os fitólitos indicam quantidades
enormes de banana na região, o
que sugere terem sido os papuanos os primeiros a cultivá-la.
Depois de dominar a técnica na
área pantanosa do vale, eles começaram a construir aterros e
uma intrincada rede de canais de
drenagem para as plantações de
banana e "taro", há 4.000 anos.
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