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TECNOLOGIA
Laser com pulso de altíssima potência desenvolvido em São Paulo pode ter usos em medicina e pesquisas físicas
Ipen cria acelerador de partículas "portátil"
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto consórcios internacionais escavam grandes túneis
para construir poderosos aceleradores de partículas, uma equipe
do Ipen (Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares), em São
Paulo, está fazendo o seu sobre
uma mesa de três metros de comprimento. Apesar das dimensões
modestas, segundo seus realizadores, o potencial para pesquisas
e aplicações é enorme.
O sistema é um laser, uma máquina capaz de emitir partículas
de luz, os chamados fótons, de
uma maneira organizada e contendo uma quantidade específica
de energia. No caso do Ipen, o
aparelho deve ser capaz de produzir pulsos da ordem de 1 terawatt.
Para que se tenha uma idéia da
potência, todas as fontes de energia artificial do planeta, somadas,
trabalham com potência de pouco mais de 15 terawatts.
Mas não se engane. Enquanto o
planeta inteiro trabalha constantemente nessa potência, o laser do
Ipen só chega lá por uma fração
mínima de segundo -cerca de
um quatrilionésimo, para ser
mais preciso. Se fosse diluída em
um segundo, essa energia não seria tão impressionante assim.
Com um laser dessa potência, é
possível atingir as intensidades
chamadas relativísticas, em que a
energia injetada no sistema é igual
à que seria obtida com a conversão de sua massa (em sua teoria
da relatividade, Albert Einstein
demonstrou que matéria e energia são duas faces da mesma moeda, conversíveis entre si segundo
a famosa fórmula E=mc2).
"Com lasers dessa potência, podemos criar campos elétricos e
magnéticos enormes, como o homem jamais produziu", conta
Nilson Dias Vieira Junior, pesquisador que coordena a equipe do
Ipen. Ele conta que pulsos da ordem dos terawatts já são produzidos há tempos em caras instalações no exterior, mas somente
agora a tecnologia está permitindo o barateamento e a compactação dos sistemas, permitindo que
cientistas brasileiros fizessem uso
de pulsos energéticos dessa magnitude. "É uma redução de três
ordens de grandeza -mil vezes
mais barata", diz Vieira Junior.
Não que seja uma pechincha: o
projeto, financiado pela Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo), já consumiu, desde seu início em 2001,
cerca de US$ 1 milhão. A equipe
agora está trabalhando na conclusão do protótipo, que deve estar
em operação até o final do ano.
Os usos para pulsos de laser dessa potência são os mais variados.
Para começar, com eles é possível
investigar eventos atômicos na escala dos atossegundos -em que
até mesmo movimentos dos elétrons em volta do núcleo se tornam sondáveis. Pesquisas com
pulsos em atossegundo estão na
fronteira da novidade científica
-os primeiros resultados publicados no mundo a respeito foram
apresentados no ano passado.
Também há potenciais aplicações mais práticas. Por sua curta
duração, os pulsos podem ser
usados para cortar matéria orgânica e inorgânica sem produzir
aquecimento -portanto, evitando danos ao material a ser manipulado. O sistema pode ganhar
espaço na medicina, ajudando a
remover tecido necrosado (morto) de ferimentos gerados por
queimaduras sem danificar as regiões sadias e pode até ser eficiência na extração de cáries dentárias. A tecnologia também pode
produzir radiografias mais nítidas e ajudar a investigar e manipular biomoléculas, como proteínas. "Há uma infinidade de potenciais usos", diz Vieira Junior.
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