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São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2003

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ARQUEOLOGIA

Para estudioso, sistema de nós tradicional armazenava histórias

Incas teriam linguagem binária

STEVE CONNOR
DO "INDEPENDENT"

Eles construíram o maior império de sua era, com uma vasta rede de estradas e armazéns. Ainda assim, os incas, dinastia fundada por Manco Qapac que durou de 1200 a 1532, não tinham linguagem escrita. Era o que se achava.
Um estudioso da antiguidade sul-americana, no entanto, acredita que os incas possuíam uma forma de comunicação não-verbal, codificada numa linguagem binária semelhante à dos computadores de hoje. Gary Urton, professor de antropologia da Universidade Harvard, reanalisou o complicado sistema de nós usados como ferramentas contábeis pelos incas, os "quipu", e descobriu que eles contêm um código binário de sete bits, capaz de processar mais de 1.500 unidades separadas de informação.
Em busca de uma prova definitiva de sua descoberta, que será detalhada num livro, Urton acredita que está perto de encontrar a "Pedra de Rosetta" da América do Sul, um "quipu" que tenha sido traduzido para o espanhol cerca de 500 anos atrás.
"Estou otimista sobre encontrarmos um", afirmou, em alusão à pedra que permitiu aos estudiosos decifrar a escrita egípcia.
Os "quipu" podem ser bastante elaborados, compostos de uma corda principal à qual são anexadas várias outras. Cada corda pendente pode ter cordas secundárias, terciárias e assim por diante, como ramos de uma árvore.

Sete bits
Urton descobriu que há, teoricamente, sete pontos na confecção de um "quipu" nos quais a pessoa que fazia os nós podia fazer uma escolha simples entre duas possibilidades -um código binário de sete bits. Por exemplo, ela poderia tecer uma corda de lã ou de algodão, ou pendurar as cordas pendentes a partir da frente da corda principal ou de trás.
Num código estrito de sete bits, isso daria 128 permutas (o número dois elevado à sétima potência), mas Urton disse que, devido ao fato de haver 24 cores nos "quipu", o número real de permutas seria 1.536 (26 x 24).
Isso poderia significar que o código usado pelos incas permitia que eles processassem 1.536 unidades de informação, em comparação com as mil estimadas nos sinais cuneiformes sumérios.
Se Urton estiver certo, isso significa que os incas não só inventaram uma forma de código binário 500 anos antes da invenção do computador, mas também que eles a usaram como parte da única linguagem escrita tridimensional do mundo. "Eles podem tê-los usado para representar um monte de informações", afirma.
"Cada elemento pode ter tido um nome, uma identidade ou uma atividade como parte da narração de uma história", diz. "Eles teriam usado sua forma de armazenar conhecimento da mesma maneira como usamos palavras."
Há evidências narrativas de que os "quipu" eram mais do que simples ábacos pré-colombianos. Os espanhóis capturaram um inca tentando esconder um "quipu" que, segundo ele, registrava tudo que havia sido feito em sua terra. O instrumento foi queimado.
Para provar sua hipótese, Urton se volta para um cemitério incaico no norte do Peru onde ele diz ter descoberto uma coleção de 32 "quipu" da época da conquista. Ele espera que documentos espanhóis do mesmo período contenham a tradução de um deles.


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