São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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BIOMEDICINA

Cientistas suecos pretendem testar possíveis efeitos contra células tumorais; estudo saiu na "New England"

Proteína de leite humano liquida verruga

DA REDAÇÃO

Um creme feito com leite humano e apelidado de "Hamlet" é capaz de reduzir dramaticamente, e por vezes eliminar, as mais teimosas verrugas comuns, relatam pesquisadores suecos.
A abreviação corresponde a "alfa-lactoalbumina humana tornada letal para células tumorais", em inglês. É o ingrediente ativo que força células de verruga a se autodestruírem, após se acumular nos seus núcleos e interferir com seus processos de controle.
Os resultados estão sendo publicados hoje no periódico científico "New England Journal of Medicine" (www.nejm.org). Há a expectativa de que se apliquem além do tratamento de verrugas, porque a mesma classe de vírus que as causa pode também ser responsável por câncer cervical (do colo do útero), verrugas genitais e alguns tipos de câncer de pele.
Como os médicos podem eliminar verrugas por congelamento, o novo creme "provavelmente nunca será capaz de competir com as terapias baratas existentes para verrugas virais cutâneas", disseram Jan Bouwes Bavinck e Mariet Feltkamp, da Universidade de Leiden (Holanda), num comentário publicado no mesmo número da revista médica.
"O desafio real, portanto, será provar que o creme também é eficaz no tratamento ou na prevenção de outras condições relacionadas com o papilomavírus humano [HPV]", afirmam os autores do comentário. As verrugas mais comuns, que normalmente aparecem nas mãos e nos pés, podem se tornar resistentes a tratamentos com cremes.
A equipe sueca de pesquisadores, liderada por Lotta Gustafsson, da Universidade de Lund, descobriu que três semanas de tratamento diário com a alfa-lactoalbumina humana e com ácido oléico reduzem o tamanho das verrugas em 75% ou mais em todos os 20 voluntários que participaram do estudo.
Uma redução semelhante foi verificada em apenas 15% dos outros 20 pacientes que foram tratados com um creme-placebo (fórmula farmacêutica sem atividade). Os pacientes do grupo de controle foram depois medicados também com o creme que estava sendo testado. Dois anos depois, todas as verrugas tinham desaparecido em 83% de todos os 40 voluntários, que haviam sido escolhidos porque suas verrugas não estavam mais respondendo aos tratamentos convencionais.
"Essa acumulação nuclear não ocorre nas células sadias, que permanecem viáveis na presença da alfa-lactoalbumina e do ácido oléico", afirma a equipe de Gustafsson no artigo para a "New England Journal of Medicine".
"Isso pode ter relevância para o tratamento do câncer cervical", disse Catharina Svanborg, outra das autoras, sob o argumento de que células cancerosas e infectadas por vírus são similares.
Os pesquisadores planejam iniciar testes de pequena escala com o composto em mulheres com esse tipo de tumor. Mas Catherine Laughlin, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, pediu cautela: "Qualquer potencial de longo prazo para qualquer doença devastadora é ainda muito especulativo, no estágio atual.
São conhecidos 130 tipos de papilomavírus humano. Quase todos os casos de câncer cervical são causados por dois tipos transmitidos sexualmente. Outros tipos causam verrugas de pele e genitais, além de tumores de pele e de garganta que raramente são mortais. Muitas pessoas carregam vírus em células da pele, mas nem sempre eles causam doença.
Cientistas já sabiam que o leite materno contém um antibiótico natural, mas seu potencial contra vírus foi descoberto por acaso.
A equipe estava testando meios de combater a superinfecção bacteriana (bactérias que atacam células já infectadas por vírus). Aplicada a alfa-lactoalbumina a células tumorais de pulmão, morreram tanto bactérias quanto células, pois a proteína do leite havia formado ligação com outro componente do leite (ácido oléico) e originado o composto Hamlet.


Com agências internacionais


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