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Brasil poderá ter megarreator em 2016
Máquina projetada pelo Ipen atenderia demanda nacional de elementos radioativos de uso médico e científico
Hoje, compostos usados
na medicina nuclear são
importados, e parte do
seu processamento é
realizado no exterior
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
"Todo mundo agradece
aos médicos ao receber um
diagnóstico, mas ninguém
agradece ao Ipen [Instituto
de Pesquisas Energéticas e
Nucleares]", diz José Augusto Perrota, diretor de projetos
especiais do instituto.
A "reclamação" se refere a
tratamentos e exames que
dependem de elementos radioativos - os radioisótopos- usados na produção de
vários tipos de fármacos.
Tais elementos são importados e, com frequência, processados pelo Ipen. Agora, o
instituto quer produzir nacionalmente os radioisótopos, de forma a atender toda
a demanda do país.
O Ipen planeja, para isso,
construir um novo reator nuclear, que deve custar cerca
de R$ 850 milhões.
Os recursos para elaboração do projeto -R$ 30 milhões- já foram aprovados
pela Finep (Financiadora de
Estudos e Projetos).
Se o projeto for aprovado,
o novo reator deve estar
pronto em 2016.
O megainvestimento será
feito em Iperó, no interior de
São Paulo, numa área de 200
hectares cedida pela Marinha e pelo governo do Estado
de São Paulo.
O objetivo é criar lá um novo polo de tecnologia nuclear, que deve se desenvolver ao redor do reator.
A ideia é que o polo atue
na formação de pessoas e auxilie pesquisas, inclusive de
usuários não ligados aos institutos da CNEN (Comissão
Nacional de Energia Nuclear,
ao qual o Ipen é vinculado).
Apesar de ter a sexta maior
reserva de urânio (necessário
para a produção dos radioisótopos), o país praticamente não produz radioisótopos.
Com exceção do iodo-131,
que tem 50% da produção
feita no Brasil, os demais são
importados de países como
Argentina e Israel. Além disso, parte do processamento
dos radioisótopos para produção de radiofármacos (moléculas para uso médico ligadas aos elementos) também é
feito no exterior.
"Detemos o conhecimento, mas não temos a tecnologia", lamenta Perrota. O
maior e mais utilizado dos
reatores nacionais, que fica
no próprio Ipen, em São Paulo, foi inaugurado em 1958.
O novo reator poderá produzir e processar os radioisótopos para atender toda a demanda nacional. "Se usado
pela comunidade brasileira
como previsto, o reator de
Iperó se pagará em menos de
20 anos", diz Perrota.
Para ele, o país não deve se
intimidar com os custos.
"Não podemos deixar de fazer "big science" [projetos
científicos de grande porte,
com tecnologia cara]."
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