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Grupo acha planeta extra-solar habitável
Observatório Europeu do Sul encontrou corpo celeste semelhante à Terra ao redor de estrela mais fraca que o Sol
Planeta de diâmetro 50%
maior que o terrestre possui
temperatura média entre
0C e 40C, ideal para a
existência de água líquida
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de astrônomos europeus diz ter detectado o primeiro planeta capaz de abrigar
a vida fora do Sistema Solar.
Localizado na vizinhança cósmica do Sol, o astro é quase do
tamanho da Terra e tem potencialmente temperaturas amenas e talvez até oceanos.
A detecção do novo planeta,
realizada por uma equipe do
ESO (Observatório Europeu do
Sul), foi feita indiretamente.
Como ninguém o viu, não se sabe se ele tem uma atmosfera,
nem de que tipo.
Mesmo assim, dos mais de
200 planetas extra-solares já
descobertos, é este o mais forte
candidato a Santo Graal da busca de vida extraterrestre, por
duas razões: primeiro, ele orbita uma estrela relativamente
próxima, a 20,5 anos-luz daqui
(um ano-luz é a distância que a
luz percorre em um ano, viajando a 300.000 km/s). Segundo, a temperatura estimada em
sua superfície vai de 0C a
40C. Essa faixa é apropriada
para a existência de água líquida -e de vida, como na Terra.
"Temos de confiar nos modelos de formação de planeta, e os
modelos nos dizem que esse tipo de planeta pode ser rochoso
ou conter gelo -e, portanto,
água", disse à Folha o astrônomo francês Xavier Bonfils, do
Observatório de Lisboa, um dos
autores da descoberta.
O astro, ainda sem nome, orbita Gliese 581, uma anã vermelha localizada na constelação
de Libra. Anãs vermelhas são
estrelas pequenas, com massa
menor que a do Sol (um terço
da massa solar, neste caso) e
com um qüinquagésimo do brilho deste. Cerca de 80% das estrelas mais próximas do Sistema Solar são desse tipo.
Anãs vermelhas não eram tidas como boas candidatas a
abrigar mundos-irmãos da Terra. "Essa categoria foi excluída
do Seti, o programa de busca
por vida extraterrestre [por sinal de rádio]", Bonfils.
A imensa maioria dos mundos extra-solares descobertos
são gigantes gasosos como Júpiter, sem a menor chance de
abrigarem seres vivos. A dificuldade para detectar planetas
parecidos com a Terra é que
eles são pequenos demais para
serem observados e, em alguns
casos, até mesmo para serem
detectados indiretamente. O
estudo do grupo do ESO, que
será publicado na revista "Astronomy and Astrophysics",
mostra que a detecção indireta
já não é mais um grande problema.
Até o ano 2020
Segundo o astrofísico Carlos
Alexandre Wuensche, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, por enquanto não será
possível saber se o planeta recém-descoberto compartilha
outras semelhanças com a Terra. Talvez seja preciso esperar
até 2020 para saber isso quando dois novos telescópios orbitais serão lançados.
"O Darwin, da ESA [Agência
Espacial Européia], e o TPF, da
Nasa, poderão determinar a diferença da intensidade de temperatura entre a luz que vem da
estrela e a luz refletida pelo planeta", diz Wuensche. "Aí vai ser
possível fazer uma análise espectral da composição química
da atmosfera do planeta."
É provável também que planetas ainda mais parecidos
com a Terra sejam descobertos
por outras duas sondas. A Kepler, da Nasa, decola em novembro. A Corot, uma missão
francesa com colaboração de
outros países (incluindo o Brasil), entrou em órbita em 2006
e já enviou seus primeiros dados. "Estamos no limiar de uma
avalanche de descobertas desse
tipo", diz Wuensche.
Apesar do entusiasmo com o
novo astro, cientistas teóricos
defendem uma análise mais rigorosa da descoberta do grupo
europeu. Tatiana Michtchenko, do Instituto Astronômico
Geofísico da USP, diz que o método usado no ESO não determinou a massa do novo planeta
com precisão.
"A massa é estimada por baixo, porque o método deles tem
indeterminação na inclinação",
afirma. Segundo ela, como não
se sabe bem o plano da órbita
do planeta, algumas estimativas ficam prejudicadas.
Michtchenko, que neste ano
começará a analisar dados da
Corot, espera que o uso de técnicas diferentes ajude a determinar melhor algumas características de planetas extra-solares. "Cada método tem seus
prós e contras", diz. "Cruzando
dados, a gente consegue informações mais completas."
(RAFAEL GARCIA e CLAUDIO ANGELO)
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