São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2000 |
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BIOLOGIA Mosquito transgênico causa a morte de vírus e parasitas no próprio organismo, impedindo que sejam transmitidos Equipe cria inseto que não passa doenças
ISABEL GERHARDT DA REPORTAGEM LOCAL O sangue que alimenta é o mesmo que mata. Pelo menos é o princípio que cientistas da Universidade Estadual de Michigan (EUA) esperam que funcione em vírus e parasitas que causam doenças como encefalite e malária. A arma: um mosquito capaz de destruir esses microrganismos ao ingerir sangue. As doenças transmitidas por mosquitos são de difícil controle, pois muitos insetos já desenvolveram resistência aos pesticidas usados e não há vacinas efetivas contra muitas dessas moléstias (como no caso da malária). Daí a busca por novas estratégias de combate aos vetores e aos agentes causais das doenças. Uma das formas de controle é impedir a transmissão do agente causador da doença por meio da manipulação genética de seu vetor (o mosquito). O que está relatado na pesquisa que está publicada hoje na revista norte-americana "PNAS" (Proceedings of the National Academy of Sciences) é a obtenção de um mosquito transgênico que contém o gene de uma proteína bactericida. Esse gene é ativado pela ingestão do sangue. Como resultado, o gene produz uma proteína que é capaz de inibir o crescimento de microrganismos. Vladimir Kokoza, principal autor do estudo, conta que, quando o mosquito suga o sangue, são ativados vários genes, que passam a produzir proteínas. Os cientistas escolheram um desses genes e isolaram sua região regulatória (que ativa ou desativa o gene), acionada pela ingestão do sangue. Na "defensina" Kokoza uniu essa região ao gene que codifica uma proteína que pertence à classe das defensinas. As defensinas são proteínas de defesa existentes em várias espécies e que têm função bactericida. No mosquito transgênico, por estar sob o controle da região regulatória ativada pelo sangue, a defensina é produzida imediatamente após a picada. Com isso, quantidades elevadas da proteína são liberadas na hemolinfa (o "sangue" do inseto). "Esperamos que a defensina iniba a multiplicação do Plasmodium (agente causal da malária), impedindo sua transmissão para outras pessoas", disse Kokoza à Folha. Por enquanto, os pesquisadores testaram a atividade da defensina contra uma bactéria, a Micrococcus luteus. A proteína inibiu em 70% o crescimento da bactéria. A estratégia poderá, no futuro, produzir mosquitos capazes de evitar o desenvolvimento de micróbios no seu interior, impedindo o inseto de transmitir doenças. Próximo Texto: Ambiente: Londres usa madeira ilegal brasileira Índice |
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