São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2001

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BIOMEDICINA

Grupo alemão faz primeiro transplante celular cardíaco com material extraído da medula do próprio paciente

Célula-tronco regenera coração infartado

DA REDAÇÃO

Não é mais apenas teoria: células-tronco têm de fato o poder de curar e regenerar -no caso, músculo cardíaco destruído num infarto. A façanha foi realizada na Universidade Heinrich Heine, de Düsseldorf (Alemanha).
Segundo comunicado à imprensa da universidade, trata-se do primeiro transplante intracoronariano de células-tronco, ou seja, sem cirurgia. Ele foi realizado num homem de 46 anos que sofrera um infarto cinco meses atrás. A maior parte do músculo do lado esquerdo do coração havia sido danificada.
O transplante foi feito com células-tronco adultas, retiradas da medula óssea do próprio paciente. Dez semanas depois, um terço da região já estava recuperado.
"Os resultados do tratamento mostram o enorme potencial das células-tronco", disse Bodo Eckehard Strauer, chefe da equipe que realizou o procedimento.
Célula-tronco é o nome genérico de células precursoras de vários tecidos do organismo, que guardam o poder de diferenciar-se em células com funções específicas. Na medula óssea (o tutano), por exemplo, encontram-se células-tronco capazes de repor vários tipos de células do sangue.
As mais cobiçadas pela pesquisa biomédica são as embrionárias, porque podem dar origem a qualquer célula do corpo. Como só podem ser obtidas destruindo embriões de 5-6 dias, há objeções éticas a seu emprego -o que levou o presidente norte-americano, George W. Bush, a permitir o financiamento só de pesquisas com células já existentes.
Os pesquisadores acreditam que o uso de células-tronco possa levar a tratamentos para doenças degenerativas incuráveis, como o mal de Parkinson. Células retiradas do próprio paciente permitiriam contornar os maiores problemas da área: dispensam destruição de embriões e não provocam rejeição quando reinjetadas.

Regeneração
Strauer supõe que as células-tronco retiradas da medula se transformaram em células do miocárdio (músculo cardíaco). A partir disso, teriam desencadeado a regeneração do tecido cardíaco.
Não foram retiradas amostras do miocárdio, portanto não há comprovação direta de que ocorreu a regeneração. Para Strauer, no entanto, não haveria outra explicação para a melhora do paciente. "Apenas dez semanas depois do transplante a região infartada estava reduzida em um terço, e o desempenho do coração também melhorou claramente."
Depois dessa primeira tentativa, a equipe de Düsseldorf tratou mais seis pessoas com células-tronco próprias. Os resultados foram bons em todos, disse Strauer.
A legislação da Alemanha não permite a produção de células-tronco embrionárias para pesquisa, mas é permitido trabalhar com linhagens importadas de células.


Com agências internacionais



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