São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2000

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EFEITO ESTUFA
Conferência de Haia é prorrogada por um dia para tentar acordo entre EUA e Europa no combate a aquecimento
Reunião do clima está à beira do fracasso

Associated Press
Presidente da Costa Rica, Miguel Echeverria, junto a saco de areia simbolizando enchentes recentes


MARCELO TEIXEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE HAIA

Faltando poucas horas para o encerramento, hoje, da Conferência Mundial sobre Mudança Climática, que acontece em Haia (Holanda), é grande a chance de o encontro fracassar. Os 185 países participantes não conseguiram chegar a acordo sobre nenhum ponto importante em negociação.
O documento feito pelo presidente da conferência, o holandês Jan Pronk, que deveria ser um texto conciliatório, recebeu críticas tanto dos EUA e da França quanto de organizações não-governamentais.
No final da tarde de ontem o porta-voz da conferência, Michael Williams, informou que Pronk fará novo documento, com base nas sugestões que está recebendo dos ministros. O trabalho será apresentado hoje de manhã, mas a distância entre as posições é tão grande que é difícil acreditar numa solução. A conferência termina às 16h (13h no Brasil).
O principal objetivo da reunião é definir o funcionamento dos chamados "mecanismos de flexibilidade" que poderão ser usados pelos países para cumprir as metas de redução de emissões de gases-estufa previstas no Protocolo de Kyoto. Somente 30 países, todos pequenos, ratificaram o protocolo até agora.
Entidades como Greenpeace e WWF (Fundo Mundial para a Natureza) disseram que o documento de Pronk beneficia os países do chamado grupo "Umbrella" (EUA, Japão, Canadá e Austrália).
"Essa proposta é um grande negócio para o Japão e os Estados Unidos, mas um péssimo negócio para o clima", disse Jennifer Morgan, diretora da campanha sobre mudança climática do WWF.
O Greenpeace diz que, caso aprovado, o acordo proposto por Pronk causaria aumento de 6% a 9% nas emissões, em vez da redução de 5% prevista no protocolo.
E mesmo os EUA, considerados os grandes beneficiários da proposta, fizeram críticas. "Os EUA estão profundamente desapontados com o documento do ministro Pronk, que consideramos inaceitavelmente desequilibrado", disse o chefe da delegação norte-americana, Frank Loy.
A ministra francesa do Meio Ambiente, Dominique Voynet, disse que a proposta significava "um passo para trás" no caminho da redução das emissões.
Um dos pontos mais atacados do documento de Pronk é a inclusão dos chamados sumidouros de carbono (florestas que retiram gás carbônico do ar) no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Na prática, a inclusão, que é apoiada pelo grupo Umbrella e rejeitada pela União Européia, poderá fazer com que países desenvolvidos possam conseguir créditos por financiarem projetos de reflorestamento em países em desenvolvimento.
O documento de Pronk também permite investimento em usinas nucleares como forma de reduzir emissões (do ponto de vista de emissão de gases-estufa, uma usina nuclear é "limpa").

O jornalista Marcelo Teixeira viajou para Haia a convite da Fundação Alemã para o Desenvolvimento Internacional



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