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BIOTECNOLOGIA
Grupo da Alemanha encontra DNA de inseto relacionado com a defesa contra o transmissor do plasmódio
Genes podem levar a mosquito antimalária
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se está difícil vacinar o homem,
vacine-se o mosquito. Tal estratégia de combate à malária tornou-se mais promissora com a descoberta de quatro genes no mosquito transmissor da doença vinculados à defesa do inseto contra a infecção pelo parasita plasmódio,
de apenas uma célula.
O mecanismo de ação dos quatro genes está num artigo na revista científica americana "Science"
(www.sciencemag.org) de hoje e
em outro na revista "Cell" do começo do mês. A pesquisa foi feita
por Mike Osta, George Christophides e Fotis Kafatos, do Laboratório Europeu de Biologia Molecular, de Heidelberg, Alemanha.
"Esses estudos são os primeiros
a demonstrar o poder do sistema
imunológico do mosquito e a nos
dar opções muito reais para combater a doença no inseto antes de
ela ter uma chance de ser passada
a um ser humano", diz Kafatos.
Uma linha de pesquisa popular
em anos recentes é a possível criação de um mosquito transgênico,
incapaz de servir como vetor do
parasita. Mas restam muitas dúvidas sobre a possibilidade de esses
mosquitos de proveta substituírem as populações naturais.
Já a idéia dos pesquisadores do
centro europeu é um pouco diferente. Eles procuram métodos para aperfeiçoar as defesas dos mosquitos contra a infecção pelo parasita -uma forma de "vacina"
capaz de tornar o inseto resistente
à infecção pelo plasmódio.
Poderia tanto ser alguma substância que ativasse as defesas diretamente, ou que agisse contra as
proteínas que protegem o parasita. "Muitos pesquisadores enfocam os efeitos diretos do plasmódio no corpo humano, mas o
mosquito é um campo de batalha
igualmente importante para combater a doença", afirma Kafatos.
O complexo ciclo de vida do parasita dentro do mosquito e também no corpo humano cria vários
alvos potenciais para atacá-lo.
Dentro do mosquito ele migra do
tubo digestivo para a glândula salivar. No ser humano, age no sangue e no fígado e, nos casos mais
letais, ataca o cérebro e pode causar morte em poucos dias.
A malária é uma doença que
afeta quase meio bilhão de pessoas, especialmente na África ao
sul do deserto do Saara. Causa
mais de 1 milhão de mortes por
ano, a maioria crianças africanas
com menos de cinco anos. No
Brasil, há dezenas de milhares de
casos, sobretudo na Amazônia.
Não existe vacina, e tanto o parasita quanto o inseto transmissor
têm desenvolvido resistência aos
remédios e inseticidas usados para combatê-los. Por não afetar os
países mais ricos tanto como a
Aids ou as doenças cardiovasculares, a pesquisa com malária não
é prioridade, apesar de o efeito estufa -o aquecimento do planeta
pelo acúmulo de certos gases na
atmosfera- ameaçar a volta da
doença ao Primeiro Mundo.
A pesquisa usou a espécie de
mosquito mais comum na África,
Anopheles gambiae, que já teve o
genoma (conjunto de genes) seqüenciado e divulgado em 2002.
Dois dos genes encontrados codificam proteínas -conhecidas
como TEP1 e LRIM1- capazes
de matar o parasita no tubo digestivo do mosquito.
Já outras duas proteínas do
mosquito -CTL4 e CTLMA2-
têm o efeito oposto. São "quinta-colunas" que protegem o parasita
contra o sistema imunológico do
próprio inseto. Eliminando as
duas do mosquito, os parasitas
morriam. Em um dos experimentos, 97% dos parasitas dentro do
mosquito morreram.
Já outro teste inativando as proteínas que protegem o mosquito
facilitou a reprodução do parasita. O número das formas do plasmódio chamadas oocistos chegou
a aumentar 3,6 vezes.
Os resultados mostram como é
possível "ligar e desligar" o sistema de defesa do inseto, o que dá a
esperança de criar uma maneira
de torná-lo imune ao plasmódio.
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