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São Paulo, sábado, 26 de abril de 2003

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ASTRONOMIA

Grupo consegue "enxergar" através de nuvens da lua de Saturno e verificar sua composição

Titã mantém água congelada na superfície

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há décadas os cientistas planetários esperam por isso: descobrir o que há sob a densa atmosfera de Titã, uma das luas de Saturno e a segunda maior do Sistema Solar. A resposta veio ontem: água.
Com suas dimensões avantajadas (o diâmetro é quase metade do da Terra e maior que o dos planetas Mercúrio e Plutão), Titã é observada desde que os telescópios começaram a ser apontados para o céu. A lua foi descoberta em 1655, por Christiaan Huygens.
A distância enorme, entretanto, nunca permitiu observações muito detalhadas. Na aproximação máxima, cerca de 1,2 bilhão de quilômetros separam a Terra do sistema de Saturno.
Em 1980, quando a sonda Voyager-1 estava agendada para passar pela região, os pesquisadores esperavam obter as tão sonhadas imagens da superfície. O que viram, entretanto, foi um véu de nuvens opacas, com o mesmo brilho alaranjado do horizonte de cidades poluídas como São Paulo, ao nascer do Sol. O solo titânico permaneceu uma incógnita.
O aperfeiçoamento das observações na faixa do infravermelho (luz mais "fraca" que a visível) permitiram que os cientistas descobrissem pequenas "janelas" na atmosfera do astro -frequências em que a luz conseguia atravessar os gases e chegar até os telescópios terrestres. Mas os dados ainda não eram suficientes para discriminar se a superfície continha gelo de água ou de sedimentos orgânicos característicos do satélite.
A solução foi abrir mais "janelas", encontrar mais frestas por onde a luz poderia ser observada, e a dúvida, resolvida. Foi o que fez a equipe de Caitlin Griffith, da Universidade do Arizona. Em seu estudo, publicado ontem na revista "Science" ( www.sciencemag.org), estão listadas observações dessas "janelas" (um total de oito delas), feitas a partir de dois diferentes telescópios. O veredicto: água, mas em estado congelado.
Griffith disse estar bem convicta dos resultados. "Observamos Titã em noites e em telescópios diferentes, com diferentes espectrômetros. Todas as observações indicaram o mesmo espectro, com diferenças de apenas 3%", conta a cientista, que viveu até os 13 anos no Brasil e ainda fala português.
A constatação de uma superfície feita de água congelada aproxima ainda mais Titã de outros satélites favoritos do Sistema Solar, como Europa, Ganimedes e Calixto, os três de Júpiter e também possuidores de uma capa superficial de gelo. Mas o satélite de Saturno guarda vários outros mistérios bem escondidos.
Para começar, sua atmosfera produz um regime de chuvas compostas de metano líquido. Provavelmente, há oceanos da substância orgânica na superfície.
Em suas observações, Griffith e seus colegas notaram regiões mais escuras, que não souberam identificar -possivelmente os tais mares. Respostas a esse e outros mistérios de Titã, inclusive sobre as possibilidades de haver vida no satélite, devem vir a partir do ano que vem, quando a sonda Cassini, acompanhada pela Huygens, chegar a Saturno.


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