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ASTRONOMIA
Grupo consegue "enxergar" através de nuvens da lua de Saturno e verificar sua composição
Titã mantém água congelada na superfície
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há décadas os cientistas planetários esperam por isso: descobrir
o que há sob a densa atmosfera de
Titã, uma das luas de Saturno e a
segunda maior do Sistema Solar.
A resposta veio ontem: água.
Com suas dimensões avantajadas (o diâmetro é quase metade
do da Terra e maior que o dos planetas Mercúrio e Plutão), Titã é
observada desde que os telescópios começaram a ser apontados
para o céu. A lua foi descoberta
em 1655, por Christiaan Huygens.
A distância enorme, entretanto,
nunca permitiu observações muito detalhadas. Na aproximação
máxima, cerca de 1,2 bilhão de
quilômetros separam a Terra do
sistema de Saturno.
Em 1980, quando a sonda Voyager-1 estava agendada para passar
pela região, os pesquisadores esperavam obter as tão sonhadas
imagens da superfície. O que viram, entretanto, foi um véu de
nuvens opacas, com o mesmo brilho alaranjado do horizonte de cidades poluídas como São Paulo,
ao nascer do Sol. O solo titânico
permaneceu uma incógnita.
O aperfeiçoamento das observações na faixa do infravermelho
(luz mais "fraca" que a visível)
permitiram que os cientistas descobrissem pequenas "janelas" na
atmosfera do astro -frequências
em que a luz conseguia atravessar
os gases e chegar até os telescópios terrestres. Mas os dados ainda não eram suficientes para discriminar se a superfície continha
gelo de água ou de sedimentos orgânicos característicos do satélite.
A solução foi abrir mais "janelas", encontrar mais frestas por
onde a luz poderia ser observada,
e a dúvida, resolvida. Foi o que fez
a equipe de Caitlin Griffith, da
Universidade do Arizona. Em seu
estudo, publicado ontem na revista "Science" (
www.sciencemag.org), estão listadas observações
dessas "janelas" (um total de oito
delas), feitas a partir de dois diferentes telescópios. O veredicto:
água, mas em estado congelado.
Griffith disse estar bem convicta
dos resultados. "Observamos Titã
em noites e em telescópios diferentes, com diferentes espectrômetros. Todas as observações indicaram o mesmo espectro, com
diferenças de apenas 3%", conta a
cientista, que viveu até os 13 anos
no Brasil e ainda fala português.
A constatação de uma superfície feita de água congelada aproxima ainda mais Titã de outros
satélites favoritos do Sistema Solar, como Europa, Ganimedes e
Calixto, os três de Júpiter e também possuidores de uma capa superficial de gelo. Mas o satélite de
Saturno guarda vários outros
mistérios bem escondidos.
Para começar, sua atmosfera
produz um regime de chuvas
compostas de metano líquido.
Provavelmente, há oceanos da
substância orgânica na superfície.
Em suas observações, Griffith e
seus colegas notaram regiões
mais escuras, que não souberam
identificar -possivelmente os
tais mares. Respostas a esse e outros mistérios de Titã, inclusive
sobre as possibilidades de haver
vida no satélite, devem vir a partir
do ano que vem, quando a sonda
Cassini, acompanhada pela Huygens, chegar a Saturno.
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