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ESPAÇO
Companhias têm projeto para conduzir lançamentos comerciais a partir de Alcântara e dar rumo ao VLS nacional
Russos querem lançar satélites do Brasil
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um consórcio de empresas russas está abrindo uma companhia
no Brasil para oferecer serviços de
lançamento de satélites a partir do
Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Detalhe: o governo brasileiro não aprovou o
uso da base no projeto.
A falta de aval oficial e de um
acordo de salvaguardas tecnológicas, que tornariam o negócio
viável, não desanima os investidores, que já gastaram até abril
cerca de US$ 2,5 milhões no projeto e anunciam abertamente, na
internet (www.orionspace.com),
a intenção de realizar seu primeiro lançamento até 2008.
"A verba inclui despesas, força
de trabalho e outros serviços gastos pela OrionSpace Ventures e as
empresas russas emparceiradas
State Rocket Center e Design Bureau of Transport Machinery e vários consultores para o Órion",
disse à Folha Richard Waterman,
executivo-chefe do empreendimento. "O total também inclui
gastos feitos em regime de risco
por companhias brasileiras."
Ainda pondo panos quentes no
programa espacial após o acidente com o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), que matou 21
pessoas em agosto do ano passado em Alcântara, a AEB (Agência
Espacial Brasileira) diz estar analisando a proposta russa, feita por
canais oficiais em fevereiro, na
reunião bienal intergovernamental realizada entre os dois países.
Caso o negócio vá mesmo
adiante, a empresa a gerenciá-lo
será brasileira -a OrionSpace Internacional, que está sendo aberta
em Fortaleza, Ceará, em razão dos
benefícios fiscais oferecidos. Para
tocar os trabalhos, já foram criados escritórios em Brasília e no
Rio. A idéia é desenvolver um veículo lançador de grande porte,
chamado Órion, com base em
tecnologia de empresas russas.
A porção brasileira no negócio é
basicamente o fornecimento da
base. Como está localizado a apenas 2,3 da linha do Equador, o
Centro de Lançamento de Alcântara é um dos melhores do mundo para a colocação de satélites de
telecomunicações no espaço.
Esses dispositivos normalmente
são dispostos nas chamadas órbitas geoestacionárias -aquelas
em que o satélite gira no mesmo
ritmo do planeta, permanecendo
sobre a mesma área da superfície
o tempo todo. De Alcântara, a exigência de combustível é menor
para atingir essas órbitas, pois um
foguete pode aproveitar melhor o
"empurrão" dado pela rotação da
Terra, que é máximo nas regiões
equatoriais.
Futuro do VLS
A proposta russa não inclui apenas o uso comercial da base de Alcântara com o Órion, mas o desenvolvimento conjunto de uma
família de lançadores, que combinaria as tecnologias envolvidas no
projeto russo com as já criadas
pelo Brasil para o VLS-1.
"O Órion pode servir na verdade como um destino evolutivo para o programa do VLS", afirma
Waterman. "Vários passos tecnológicos que poderiam ser introduzidos no VLS -propulsão líquida, aperfeiçoamento dos propulsores sólidos- podem depois ser
usados em várias configurações
do veículo Órion para oferecer
novas capacidade para lançamentos brasileiros e comerciais."
Por ora, a AEB trabalha na cooperação com a Ucrânia, que já
tem acordo assinado e prevê o desenvolvimento do foguete Cyclone-4 para lançamento de Alcântara. Qualquer acordo do Brasil
com empresas ou o governo russo
por ora fica impedido pela inexistência de um acordo de salvaguardas tecnológicas, como o que
há entre brasileiros e ucranianos.
Apesar disso, Waterman diz
que há sinalização no governo de
que o negócio poderá prosseguir.
"Tivemos discussões positivas
com vários elementos do governo
brasileiro, no que diz respeito ao
uso de Alcântara. Um acordo formal ainda não foi executado."
A Folha apurou que a proposta
russa tem apoio no seio da Aeronáutica e do Ministério da Defesa.
As mesmas empresas russas envolvidas no Órion foram trazidas
pela Defesa para prestar assistência na preparação do quarto lançamento do VLS-1, prometido
para até o fim de 2006 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
E Waterman admite que o
Órion poderia servir como uma
vantagem extra oferecida pelos
russos para a concorrência no
Projeto F-X, que envolve a aquisição de caças para a Força Aérea
Brasileira. "Mas não há condições
impostas pela Rússia de que o
Órion só prosseguirá se a oferta
russa para o F-X tiver sucesso."
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