São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2004

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ESPAÇO

Companhias têm projeto para conduzir lançamentos comerciais a partir de Alcântara e dar rumo ao VLS nacional

Russos querem lançar satélites do Brasil

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um consórcio de empresas russas está abrindo uma companhia no Brasil para oferecer serviços de lançamento de satélites a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Detalhe: o governo brasileiro não aprovou o uso da base no projeto.
A falta de aval oficial e de um acordo de salvaguardas tecnológicas, que tornariam o negócio viável, não desanima os investidores, que já gastaram até abril cerca de US$ 2,5 milhões no projeto e anunciam abertamente, na internet (www.orionspace.com), a intenção de realizar seu primeiro lançamento até 2008.
"A verba inclui despesas, força de trabalho e outros serviços gastos pela OrionSpace Ventures e as empresas russas emparceiradas State Rocket Center e Design Bureau of Transport Machinery e vários consultores para o Órion", disse à Folha Richard Waterman, executivo-chefe do empreendimento. "O total também inclui gastos feitos em regime de risco por companhias brasileiras."
Ainda pondo panos quentes no programa espacial após o acidente com o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), que matou 21 pessoas em agosto do ano passado em Alcântara, a AEB (Agência Espacial Brasileira) diz estar analisando a proposta russa, feita por canais oficiais em fevereiro, na reunião bienal intergovernamental realizada entre os dois países.
Caso o negócio vá mesmo adiante, a empresa a gerenciá-lo será brasileira -a OrionSpace Internacional, que está sendo aberta em Fortaleza, Ceará, em razão dos benefícios fiscais oferecidos. Para tocar os trabalhos, já foram criados escritórios em Brasília e no Rio. A idéia é desenvolver um veículo lançador de grande porte, chamado Órion, com base em tecnologia de empresas russas.
A porção brasileira no negócio é basicamente o fornecimento da base. Como está localizado a apenas 2,3 da linha do Equador, o Centro de Lançamento de Alcântara é um dos melhores do mundo para a colocação de satélites de telecomunicações no espaço.
Esses dispositivos normalmente são dispostos nas chamadas órbitas geoestacionárias -aquelas em que o satélite gira no mesmo ritmo do planeta, permanecendo sobre a mesma área da superfície o tempo todo. De Alcântara, a exigência de combustível é menor para atingir essas órbitas, pois um foguete pode aproveitar melhor o "empurrão" dado pela rotação da Terra, que é máximo nas regiões equatoriais.

Futuro do VLS
A proposta russa não inclui apenas o uso comercial da base de Alcântara com o Órion, mas o desenvolvimento conjunto de uma família de lançadores, que combinaria as tecnologias envolvidas no projeto russo com as já criadas pelo Brasil para o VLS-1.
"O Órion pode servir na verdade como um destino evolutivo para o programa do VLS", afirma Waterman. "Vários passos tecnológicos que poderiam ser introduzidos no VLS -propulsão líquida, aperfeiçoamento dos propulsores sólidos- podem depois ser usados em várias configurações do veículo Órion para oferecer novas capacidade para lançamentos brasileiros e comerciais."
Por ora, a AEB trabalha na cooperação com a Ucrânia, que já tem acordo assinado e prevê o desenvolvimento do foguete Cyclone-4 para lançamento de Alcântara. Qualquer acordo do Brasil com empresas ou o governo russo por ora fica impedido pela inexistência de um acordo de salvaguardas tecnológicas, como o que há entre brasileiros e ucranianos.
Apesar disso, Waterman diz que há sinalização no governo de que o negócio poderá prosseguir. "Tivemos discussões positivas com vários elementos do governo brasileiro, no que diz respeito ao uso de Alcântara. Um acordo formal ainda não foi executado."
A Folha apurou que a proposta russa tem apoio no seio da Aeronáutica e do Ministério da Defesa. As mesmas empresas russas envolvidas no Órion foram trazidas pela Defesa para prestar assistência na preparação do quarto lançamento do VLS-1, prometido para até o fim de 2006 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
E Waterman admite que o Órion poderia servir como uma vantagem extra oferecida pelos russos para a concorrência no Projeto F-X, que envolve a aquisição de caças para a Força Aérea Brasileira. "Mas não há condições impostas pela Rússia de que o Órion só prosseguirá se a oferta russa para o F-X tiver sucesso."


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